quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O Ciclo Lunar Fon e o Destino



Enquanto dù (kpoli) pode traçar um augúrio de forma definitiva na vida de uma pessoa (os olhos abertos de Gbadù), o dia em que a mesma nasceu traça uma fase importante dentro de sua vida que pode não estar refletido dentro de seu dù principal (kpoli). Este dia está incerido, na cultura Fon, dentro de um calendário lunar denominado Fé Zan, que consta de ciclos lunares de nove dias. Estes dias são muito levados em conta para se tomar decisões, contrair matrimônio, realizar preceitos de vodum; etc. O próprio Fâ-titè é consultado em dia apropiado.
Mêdjô- É o primeiro dia da semana; Simboliza o início de um ciclo, e quando se quer que um empreendimento perdure, dê certo, é aconselhavél iniciá-lo em um medjo que coincida no calendário gregoriano com uma quinta-feira.
Mêku- É o segundo dia; o dia da morte; não bom para se iniciar empreendimentos, contudo ótimo para se reverenciar ancestrais defuntos;
Vodun- É o terceiro dia; este dia é dedicado exclusivamente aos voduns e se coincidir com um domingo é um ótimo dia para realizar iniciações e se realizar preceitos ritualísticos. O domingo é considerado dia do Vodun.
Azôn- É o quarto dia; dia da doença; quem nasceu neste dia deve realizar preceitos para afastar a doença e a morte; não é um bom dia;
Vô- É o quinto dia de um ciclo lunar; pode até ser um bom dia, porém, sugere que sejam feitos sacrifícios para se alcançar objetivos na vida, do contrário a ineficácia de um projeto, por exemplo, estará assegurada; é um dia que se pode lançar um mal ou retirar uma praga sobre alguém;
Hwê ou Akouè- O sexto dia é um mal dia; é o dia da enxada; o dia do julgo; da eficácia de um sacrifício; sugere conflitos diversos, disputas, e maus presságios; o sacrifício é muito importante para eliminar os males diversos; é receptáculo de Vô;
Bo- O destino; é o sétimo dia; representa o resultado do conflito da enxada, o após a contenda; representa o destino que pode ser bom ou mau; é um ótimo dia para se tirar a sorte de uma forma geral que pode ser boa ou má, principalmente se coincidir com uma terça-feira;
Hên ou Fo- O oitavo dia é o dia da miséria; dia desaconselhável para se iniciar algum empreendimento;
Fâ- É o nono e último dia do ciclo lunar de nove dias: este dia é exclusivamente dedicado ao Fâ-titè; dia de se receber as orientações do Fá.
Observamos que o calendário gregoriano também é considerado, e quando surge a correspondência de dias as considerações são simplesmente reforçadas.
O calendário lunar, mesmo após a introdução do calendário gregoriano pelo europeu, não ficou esquecido, pois é fonte de conhecimento espiritual. A própria aposição de nomes de nascituros, correspondem, além dos Clãs, as recomendações do dia do nascimento no Ciclo Lunar ou mesmo no calendário atual, visto que à este último foram incorporadas as atribuições dos dias Fé Zan.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Milicia excelsa (Iroko; Loko'tin)

Muito conhecida como Gameleira Branca, sempre presente nos terreiros de candomblé e consagrada ao vodun Loko, na Bahia e no Rio de Janeiro, (Iyoko em idioma yorùbá e nagô). Devido a sua ser sua morada os mahis consideram Loko o vodun atinmé, ou seja: O vodun dentro da árvore; e o nagô o visualiza em uma escultura confeccionada da própria madeira do Iroko.
Na floresta do rei Kpassè, fundador de Ouidah, palavra fon originada de xwéda /Kwê dan/- casa de Dan, que significa reino, existe um antigo e espesso Iroko que lhe é dedicado, pois segundo a crença local o rei teria certa vez se transformado em uma destas árvores para escapar da perseguição de seus inimigos.
A presença desta árvore sagrada sugere afastar infortúnios diversos, principalmente acidentes, má sorte, pandemias e epidemias, e é muito utilizada para conjuros deste tipo, além de ser medicinal.
Os mahis do Benin consagram a Gameleira Branca como sendo a morada dos seguintes voduns: Dan, Toxwyo, Loko, Òsò e Iyami Aje, Sakpata, Heviosso (Hebiosso), Djigali, Adadjogbé, e Gu. No Brasil é consagrada a Loko. Por se considerar uma árvore também consagrada a divindades relacionadas com feitiços e perigosas de se evocar como Òsò e Iyami Aje, não se passa e não se fica exposto a este atin no cair da noite, considera-se que é a hora dos feiticeiros chegarem. Existem preceitos de confecção de talismãs (gris-gris) com sua madeira e com suas folhas que são pintadas com pontos brancos e fixadas em entradas de residências para afastar doenças e epidemias.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Jogo do Ikin

No princípio da existência do mundo, tudo estava desordenado; as estações do ano; co-existiam noite e dia; frio e calor; e assim sucessivamente. Foi então que Legba que era incumbido de abrir os olhos de seu irmão Gbadù (Fá) todos os dias, notificou a Mawu, a grande mãe, de tudo que estava ocorrendo no mundo, e solicitou que Mawu enviasse seu irmão Gbadù para resolver toda essa desordem que estava acontecendo no mundo, porém, sua mãe disse-lhe que ele não poderia ir, pois tinha procriado no céu, quando teriam nascido Minona e mais duas filhas, e também Aovi, Abi, Dùwo, Kiti, Agonukwé e Zose, que eram do sexo masculino. Após Legba insistir muito, Mawu decidiu que o que poderia fazer era levar a palavra de Gbadù através de três de seus filhos, Dùwo, kiti e Zose, para que o mundo começasse a se reorganizar, mas que Legba fosse o intermediário nesta palavra e continuasse comunicando tudo à sua mãe.

Mawu disse a Legba que antes da ida das crianças ao mundo, seriam orientadas sobre o que deveriam ensinar, cada uma, aos homens, fazendo-os saber qual dos dezesseis olhos de Gbadù teriam sidos abertos no dia em que nasceram, revelando seu kpoli (destino) de acordo com as posições de caída dos ikins, e à partir daí, seria dada toda devida recomendação e sob os olhos de Legba. E assim ficou decidido. Após um período de avaliação e de proveitoso aprendizado dos homens com as três crianças, Mawu resolveu enviar também os outros filhos de Fá, para que também ensinassem aos homens outros métodos para se buscar a devida orientação; assim Aovi ensinou-lhes a manipulação do vi (Obi Abata), e assim sucessivamente.