quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Forte Influência Jeje na Umbanda.



A Religião Umbanda têm suas raízes no extinto culto de Omoloko, que era um culto que reunia baixo a simbologia nagô sincretizada com os santos da Igreja Católica, diversos grupos africanos bantos e sudanezes presentes no Rio de Janeiro antigo. Esta religião conservou preceitos deste culto mais primitivo e que não cantava louvando suas divindades em português, mas em dialetos diversos, com ênfase para o Quimbundo.
A contribuição do elemento negro sudanez especialmente o Jeje (Fon; Adja) é muito forte dentro do preceito da Umbanda. O desenhar, traçar o risco (denominado ponto riscado) tem sua origem na prática do “veve” de vodún, onde cada desenho é um símbolo que evoca ou simplesmente representa o vodún, ou ancestral. Através do veve são realizadas inúmeras oferendas rituais em ocasiões diversas, um hábito não muito presente no candomblé Jeje Mahi, mas de conhecimento e prática do antigo terreiro de Jeje Dahomey, e que em geral na diáspora tem sido praticado. O veve também é praticado no Benin, Togo, Ghana, República do Congo e Costa do Marfim até os dias atuais, e além do vodunnon, o bokonon também o pratica quando necessário em suas oferendas rituais.
O amasìn (amaci) que a crença umbandista pratica, também é uma prática de origem jeje, não só ritual, mas também como medicamento quando preparado para esta finalidade, com as folhas ou ervas adequadas.
Uma divindade de origem Jeje, uma ninfa, era muito cultuada no Omoloko e relacionada com Oxum, e carinhosamente tratada Mamãe Sinda (sín-da água; dàn-serpente), Mamãe Sinda da cobra coral, sincretizada com N. Sra. da Penha -talvez influência da imagem da serpente aos seus pés e mesmo da presença da Igreja da Penha no Rio de Janeiro- também denominada Oxum da Cobra Coral, que na realidade é um vodún feminino, uma ninfa, metade serpente, metade mulher, uma Mami Wata. Alguns terreiros de Umbanda preservaram a adoração à esta divindade no Brasil louvando-a com cânticos em Língua Portuguêsa.

“Mamãe Sinda como é linda,
Mamãe Sinda, Mamãe Sindá!
Mamãe Sinda vem n'Umbanda,
Mamãe Sinda da Cobra Corá!”

Muitos outros traços de herança Jeje se fazem presentes em muitos terreiros de Umbanda até os dias de hoje, nos tipos de fios de contas (guias) de contas maiores que a conhecida missanga, na forma de se amarrar o pano de cabeça, na roupagem tradicional e simples, que para muitos, lembra a época antiga dos antigos candomblés de Jeje Dahomey.

Glàséma.


Foto em:
http://www.missouriplants.com



Glàséma



(BELDROEGA)


Planta muito conhecida no Brasil e no Benin e de muitas propriedades medicinais, sendo muito utilizada para combater processos inflamatórios, principamente dos rins, com ação analgésica e antitérmica, também é denominada Teresinha, uma variedade da Onze Horas. Apresenta flores de cores variadas, sendo a de flores amarelas e a de flores lilás as mais comumente encontradas no Brasil. Esta planta muitas vezes serve na decoração jardins de casas e lugares públicos, decorando canteiros. É conhecida por Glàséma em fongbè.

“Nome científico- Portulaca oleracea L.
Família- Portulacáceas
Sinonímia popular- Salada-de-negro, caaponga, porcelana
Sinonímia científica- Portulaca marginata Kunth.
Parte usada- Planta inteira
Propriedades terapêuticas- Diurética, laxante, vermífuga, antiescorbútica, sudorífera, colerética, depurativa, emoliente, anti-inflamatória, antipirética e antibacteriana.
Princípios ativos- Ácido oxálico, sais de potássio (nitrato, cloreto e sulfato) ( 1% na planta fresca e 70% na planta seca), derivados da catecolamina (noradrenalina, DOPA e dopamina, em altas concentrações), ômega 3.
Indicações terapêuticas- Depurativa do sangue, disenteria, enterite aguda, mastite, hemorróidas, cistite, hemoptise, cólicas renais, queimaduras, úlceras, inflamação dos olhos.
Outros sinônimos científicos:
Portulaca marginata Kunth.
Portulaca oleracea subsp. Sylvestris (DC.) Thell.
Portulaca oleracea var. opposita Poelln.
Portulaca retusa Engelm.

Outros sinônimos populares:
Ora-pro-nobis, bredo-do-porco, verdolaga, beldroega-pequena, beldroega-da-horta, onze-horas.

Origem:
A literatura é um pouco confusa quanto a sua origem. Tem-se referência de que ela seja nativa da China, Japão, Índia, África e partes da Europa. Outras literaturas trazem referência de que as espécies desta família são originárias principalmente da América ocidental e andina.

Outros princípios ativos:
Mucilagem, saponina, vitamina C (700mg por 100g da planta fresca), proteína, alcalóides (0,03%), glicosídeos, esteróis, óleo essencial, resinas, ácidos orgânicos, ômega 3 (é a planta conhecida mais rica em ômega 3 encontrado em óleos de peixes).

Nome em outros idiomas:
Alemão: Portulak
Espanhol: Verdolaga
Francês: Poupier
Inglês: Purslane
Italiano: Portulaca
Árabe: Bakli, Farfhin
Grego: Glystiritha
Armênia: Perper

Uso medicinal:
A Beldroega é considerada uma planta refrescante. A beldroega tem valiosos minerais, vitaminas, e grande quantidade de ácido salicílico. Em infusões é tônica e depurativa do sangue.
É empregada internamente contra disenteria (principalmente infantil), enterite aguda, mastite e hemorróidas. As folhas são utilizadas contra cistite, hemoptise, cólicas renais, queimaduras e úlceras.
Suas folhas tem propriedades diuréticas e refrescantes. Aplicadas sobre as feridas favorecem a cicatrização e, em decocções, combatem as inflamações dos olhos. Colocando-se folhas de beldroega debaixo da língua ajuda a acalmar a sede.
As folhas também podem ser aplicadas como compressas para acalmar hematomas e inflamações nos olhos.
As sementes são vermífugas poderosas e excelentes emenagogas. O suco é particularmente efetivo, internamente ou externamente no tratamento de doenças de pele.
Indígenas das Guianas usam-na contra diabetes, para problemas digestivos e como emoliente e, externamente, como ungüento para problemas musculares.
Estudos clínicos têm mostrado que esta planta é rica fonte de ácido graxo Omega-3, substância importante na prevenção de infartos e no fortalecimento do sistema imunológico. Devido a presença de catecolaminas em seu extrato aquoso verificou-se também uma ação relaxante na musculatura.
Dosagem indicada:
Diurético (infusão)
Colocar, em uma xícara de água fervente, uma pitada de folhas de beldroega. Passado 15 minutos, filtrar e adoçar o líquido, bebendo-o em duas vezes.

Uso culinário:
As folhas jovens tem um sabor refrescante e podem ser consumidas em saladas ou cozidas ao vapor. As folhas mais velhas podem ser usadas para enriquecer sopas e ensopados. Os talos podem ser consumidos picados para saladas no inverno.

Salada refrescante de verão:
1 alface grande
1 maço pequeno de folhas de beterraba
8 folhas jovens de borragem
3 folhas jovens de tília
4 folhas picadas de melissa
um maço caprichado de folhas de beldroega
1 pepino finamente picado
molho de vinagrete
Lave bem e seque todos os ingredientes, rasgue as folhas se necessário. Misture tudo e adicione o molho de vinagrete.
Adicionar folhas de beldroega no espinafre refogado lhe confere um sabor extra.
Sanduíches feitos com fatias finas de pão preto, queijo cremoso e folhas de beldroega são uma excelente indicação para uma refeição leve e saudável.
A beldroega é ingrediente importante em uma sopa tradicional francesa, a Bonne Femme.

Curiosidades:
Todas as partes desta planta vem sendo usadas na medicina tradicional há séculos em todo o mundo, sendo de 500 AC seu primeiro registro na literatura na China.
É uma planta muito apreciada pelos coelhos.
Outra variedade, a Portulaca grandiflora, é muito apreciada por ser ornamental.
Seu nome genérico Portulaca provém do latim portula que significa pequena porta, referindo-se a maneira de como sua cápsula abre-se. Seu nome específico Oleracea refere-se a seu uso na cozinha.
Na Idade Média era considerada uma planta que protegia dos maus espíritos e com um poder "antifeitiço". Há registro de que um herbalista do século XVI disse que a beldroega esfria o sangue e provoca o aumento de apetite.”

Fonte:
http://ci-67.ciagri.usp.br/pm/ver_1pl.asp?f_cod=21

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Azonadô

Tronco do Azonadô (A folhagem é de coqueiros ao lado).

Azonwanno Vodún dança com seu já.

Azoano adô ou Azonadô- Denominação aportuguesada no Brasil, que é oriunda do nome da Paineira Azonwanno a dŏ (O subidor de Azonwanno; onde o vodún sobe), árvore coberta de espinhos, senão acúleos, e que floresce anualmente, cuja muda teria sido plantada na antiga, hoje extinta, área do Candomblé do Bogum, e trazida por um avô da saudosa Mãe Menininha do Gantois, chamado Salakó, da costa africana; não mais existente no local desde 1979, quando foi -infelizmente- tombada tendo em torno de dois séculos de idade, alegando-se risco e danos as residências da ladeira e substituída pela finada Mãe Nicinha de Loko, por um Flamboyant Amarelo dentro da área que restou do Bogum.
O mito do vodún encerra a capacidade que têm de escalar o tronco de uma árvore coberta de espinhos, como que por magia, já que possui a fama de ser um grande feiticeiro.

O Prof. Vivaldo da Costa Lima registra:
"(...) Do mesmo modo que a falecida mãe-de-santo Runhó do antigo terreiro Jeje do Bogum, terreiro importante ao ponto de dar, como o do Gantois, seu nome a todo o bairro em que se situa - falando da historia de sua casa, dizia: "Tiana Jeje, mãe pequena daqui antes da finada Emiliana, tinha marca da nação no rosto. Tiana veio do tempo de meu pai-de-santo. No tempo em que fiz o santo ainda foi com africano na casa. Já a finada Emiliana era crioula (5). E continuava, saudosista: "A primeira mãe-de-santo era Ludovina, que era africana. Os terreiros de Jeje já acabaram tudo, Carabetã, Campina de Bosqueja, Agomenã, tudo..."
Mas a casa do Bogum continua, apesar da melancolia com que vodunsi RUNHÓ lamentava os tempos pretéritos "dos africanos", a manter a tradição de ser a casa mais pura de jeje-marrim que há na Bahia" (6). Esse terreiro possui diversos assentos de vodus daomenos e sua mãe-de-santo pode passar muito tempo falando dos mitos de sua nação e contando histórias dos velhos tempos em que "os jejes eram respeitados só com o nome". Irmã-de santo da famosa EMILIANA do Bogum (7) a quem substituiu na direção da casa, explicava, ainda: Emiliana morreu ha 15 anos (em 1966) e tinha 92 anos de idade. 0 terreiro foi fundado por africanos e tem mais de 100 anos. Esta é a segunda casa feita aqui no mesmo lugar. A gente quer acabar mas tem tanto santo por aí que veio da África que todos nós só lamenta aquela árvore onde esta assentado Azoano Ado (8)... "Houve a primeira casa que foi dos africanos, depois foi ficando nos caboclos. Esta casa foi construída em 1927, tem mais de trinta anos. A outra era de taipa. Nós não fazia questão de continuar, mas todo mundo dizia " Terreiro é o de Jeje!". Mas também a mãe-de-santo VALENTINA-RUNHÓ do Bogum, quando falava em "Jeje", estava se referindo a nação de seu terreiro, que de sua própria família biológica ela dizia apenas que era "de africanos". (...)"
"(...) 5. A palavra foi empregada no antigo sentido " conservado em algumas áreas lingüísticas " de "negro nascido no Brasil".
6. Jeje-marrim é umas das nações jejes conhecidas no Brasil. A expressão alude aos fõs da nação Mahi, ao noroeste de Ketu, e ao norte de Abomé. Dos Mahi escreve CORNEVIN: "C'est leur esprit indépendent, difficile et querelleur, surtout entre eux, qui leur valut le qualificatif de "MaHiNou", ce qui signifie presque litéralement "les démangés de la rage"./ Le terme Mahi fut ensuite étendu par les gens d'Abomey a tous les habitants de la région comprise entre les qroupements fon et les groupements yorouba" (1962, 47).
7. CARNEIRO,(1948,28-109)
8. Vodun daomeano, conhecido nas casas jejes ou que "tem uma parte de jeje". O terreiro da falecida mãe-de-santo CECILIA MOREIRA DE BRITO, em Cosme de Farias, tem como padroeiro a "Azoano, que é o nome que Omulu tem do lado de jeje marrim". (Entrevista 5, 1'. série). A Casa de Obaluâe, da mãe MARIA ANTONIA BISPO DA PAIXÃO; Magujé de Obaluâe, na Federação, tem Azoano igualmente como padroeiro: "Azoane é o dono da Casa".(...)"
(In: A Família de Santo nos Candomblés Jeje-Nagô da Bahia: Um Estudo de Relações Intragrupais, Salvador, Universidade Federal da Bahia, 1977.)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ayizan.

Palmeira Ráfia.

Dendezeiro.

Vodún que penetrou no Benin através da cultura ewe-adja, lá é tida como esposa do vodún Lègba. Representa o território, é considerada vodún dos mercados, e vodún da fertilidade da terra para que a mesma possa ser cultivada. Ayizan é representada na Palmeira Ráfia, ora no Dendezeiro, e a vemos em outras palmeiras, árvores cujas folhas recebem a denominação geral de zan. O ritual de sarapokan de Jeje Dahomey e Jeje Mahi no Brasil, nesta última ramificação do candomblé Jeje, onde o iniciando ainda apresenta cabelo antes de ser raspado, é uma reverência a este vodún, representa a penetração neste território sagrado de culto aos voduns.
Ayizan é festejada no Togo, quando da colheita do feijão, ocasião em que o vodún Legba se faz presente nesta festividade. Suas oferendas constam de cereais, sobretudo feijão. Seu atin (árvore) principal oferece a produção do sodabi; e aprecia o dendê, daí suas relações com o mercado. No Benin algumas tradições de vodún levam suas togbosi (tobosi do mahi; ahwansi em Allada; entidades femininas infantis do vodún Azili /Aziri/ principalmente) ao mercado após uma prévia consulta com vi (Noz de Cola) aos voduns, estes representados em montículos de terra, em reverência a Ayizan, e como uma forma de reintegração com a vida profana ao final do processo iniciático, o que no Brasil ficou substituído, aculturadamente, pela conhecida “Quitanda do Erê”, ritual nagô baseado no culto jeje. Desta forma este vodún passa a representar além do início do sagrado, o limite que estabelece uma ponte com a vida profana. É um vodún muito conhecido também no Haiti e em Cuba, onde também possui relações com os ritos de iniciação. É costume de algumas casas no Brasil pôr Ayizan como primeiro vodún no zandró (sequência de cânticos festivos e rituais) devido à sua pactualidade com Lègba e por representar o território sagrado, bem como sua palmeira estar à entrada de pórticos, templos, casas e espaços sagrados. Diversas cidades no Togo e no Benin tem este vodún na história de sua fundação, e diversos fundadores e reis, prestaram culto a Ayizan.
As árvores sagradas são também cingidas em determinada épocas, envoltas com uma tira de zan desfiada de modo a alertar que ali é morada (território) de um ou mais voduns, como o Hun'tin (Folha de Serra; Falsa Espinheira Santa; Cincho) do vodún Dangbe e o Loko'tin (Iroko; Gameleira branca) de Loko e outros.