sábado, 2 de maio de 2009

Sógbó


Se analisarmos o vodún Sógbó (grande ráio) por etnias provenientes de Ghana, podemos indentificá-lo como sendo um vodún feminino da família de Hebioso (ou Hevioso) que foi levado para o que hoje conhecemos por República do Benin, tendo passado pelo Tado (atual Togo) com as conquistas e expansão dos ewe-adja, cuja cultura no Brasil indentificou o Candomblé de Jeje Dahomey (termo usado posteriormente para distinguirem-se de Minas e Mahis), ou simplemente Jeje, de formação muito anterior ao reino de Dahomey dos Fons, contudo, quero aqui neste tópico considerar este vodún, como os mahis e outros povos do Benin e no Candomblé Jeje Mahi o consideram, ou seja: Um sinônimo do òrisà Sàngó. Muito antes do Culto de Hevioso já havia no Dahomey, e antes da formação do Dahomey propriamente dito, o culto do vodún Djisó (ráio do céu), este culto tem origem nagô e era praticado pelo clã dos Djétovi e foi levado para Abomey na época do rei Glélé à partir de suas conquistas no território Mahi, daí Abomey perpetuar cultos distintos a Sógbó, um à forma feminina em uma família oriunda dos Adja, e outro à forma masculina oriunda do Mahis. Como o culto de Hevioso também se expandiu, tal forma feminina também é encontrada em locais distantes de Abomey.
Uma lenda já citada no blog PAPOINFORMAL conta o seguinte:
“Desejando descansar após criar o mundo, Mawu, deusa criadora, deu aos filhos Sakpata e Sógbó (Grande Ráio - sinônimo de Hevioso aqui nesta lenda Fon) o cuidado de preservar o seu trabalho, mas os dois vieram a se desentender por ciúmes, a partir daí, Sakpata se punha distante de seu irmão para resolver problemas originados em seu reino, o céu.
Como filho mais velho, ele teve de herdar a maior parte dos bens de seus pais, Sógbó achava isso preferência pelo irmão.
Sakpata havia garantido para si uma posição de soberano e tinha uma grande alegria, a de que os homens mostravam reconhecer o seu reinado, porém, começaram a reclamar porquê a chuva que deveria cair regularmente não caía, e começou, então, a haver muita sêca por toda a terra. Eles reclamavam em alta voz com Sakpata, que por vez se lamentava pelo que estava acontecendo em seu reino, a terra.
Um ano se passou sem a menor gota de chuva...um verdadeiro caos.
A agricultura praticamente não havia mais, havia apenas sêca e calor intenso na terra.
Sakpata observou que Lègba, seu irmão caçula que tudo vigiava e contava para Mawu, e um bokonon (advinho) viajavam pela terra falando de Fá e do oráculo sagrado. Ele reuniu-se com eles e rogou por isso, porquê a chuva era esperada e não vinha nunca. Foi consultando o oráculo com eles que soube que havia uma disputa entre ele e Sógbó, os dois aspirantes do título do poder, e essa era a raiz do problema.
Sua solução envolveu um acordo entre as duas partes. Mas, para isso, tinha que o mais antigo se reconciliar com os mais novo e lhe ser fiel. Sakpata teve a dolorosa lembrança de ter esquecido do fogo e da água. Tarde demais?... Ele tinha a visão de como os homens, animais e plantas precisam tanto desta água agora detida no céu por Sógbó. Quando perguntado como é que ainda poderiam salvar a terra, Fá o aconselhou a recolher alguns dos seus bens terrenos. O pássaro Otutu (Oferenda) iria levá-los para o céu e transmitiria uma mensagem para Sógbó, assim foi... e eis que a ave voando bem alto começou a cantar em plena voz: "Sakpata uma notícia para você! Me entenda você, e então? Ele disse que tu abandone a casa, filho, pai, filho, mãe! Me entenda você, e então? " Como garantia que ouviu e viu o portador dessa notícia Sógbó clareia a terra, lançando um imenso ráio. Assim pode ele reconhecer o pássaro Otutu do irmão caçula que trouxe os presentes e a mensagem de seu irmão mais velho. Otutu disse que Sakpata, mandou dizer que “por ser mais velho, herdou todos os bens de seu pai, mas não havia reconhecido a verdadeira fonte do poder. Água e fogo tinham força para destruir todas as riquezas na terra, que é a razão pela qual o poder volta para aquele que o possui. Assim Sógbó superava a Sakpata.”
E eis que voltou a chover na terra.”

Os símbolos deste vodún são o machado de pedra do ráio sokpè (sokpέn) em fongbè e o sosiovi, um chocalho que imita o barulho da chuva, e com o qual é saudado, e que os nagôs denominam sërë.
Sógbó costuma punir os malfeitores e feiticeiros, e sempre pratica a justiça. É conhecido pelos mahis com a denominação de Sógbó Adan, ou seja: Corajoso Sógbó, diferenciando-o.
Assim como o tovodun (vodún das águas) Avelékété, da praia, do mar e da chuva forte é considerada a esposa de Hevioso, Öya (òrisà nagô) também é considerada a eposa de Sógbó Adan pelos mahis.
Seus filhos são: Djakuta (Adjakata; Jakata; Jakuta), Aklombe (Akolombe), Gbwesu (Besu), Akele, Alasan, Gbade (Bade), Aden, Kunte e Agbolensi. Todos pertencendo à família Jivodun (voduns do céu), e todos voduns do ráio.

Quando Sógbó Adan dança com seu sokpè, imita os ráios caindo sobre a terra, em ligeiras quebradas na dança. O que é exemplificado por esta toada muito conhecida nos candomblés de Jeje Mahi no Brasil:

“Sógbó Adan tá nu sá gba owè,
A cabeça do corajoso Sógbó vai até a coxa na quebra da dança,
Sógbó Adan tá nu sá gba o.
A cabeça do corajoso Sógbó vai até a coxa na quebra.”