sábado, 1 de agosto de 2009

Os Mistérios de Dassa Zoumê

N. Sra. de Arigbo. Foto em http://www.pbase.com/bmcmorrow/ncbenin&page=all

Foto em http://image50.webshots.com

Dassa Zoumê, fica localizada no território Mahi no Benin, está rodeada por 41 colinas, sagradas e dedicadas as divindades tradicionais, e lembramos que 41 foram as leis à época do Reino do Dahomey (vide postagem do Rei Agadja). Uma das colinas, em fato mais recente, é dedicada à Virgem Maria devido à uma aparição numa gruta do local. A maior delas é denominada “Dignidade”.

“(...) O Folclore e as danças tradicionais são muito desenvolvidos. Cada aldeia ou cidade distrito tem, pelo menos, um grupo folclórico. Os principais encontrados são: Zinli, o Toba e os Mahi Tchègoumin, dos Fons de Paouignan, Gbaffo, Awaya, Soclogbo, Gankpétin, Togon e Zouto, Guba, o Ogou, o Adjarakpa, o Bolou e o Kpodoro entre Idaatchas de Loulé, de Lema, do Agao de módja-Gangan, Tagui, e de Kere Daho.

De um ponto de vista religioso, as religiões tradicionais são as primeiras conhecidas na cidade. Estas foram essencialmente a história da Terra Prometida e do êxodo. Irritados com o comportamento de homens que habitaram a cidade de origem, os deuses e os chefes sacerdotes foram forçados a emigrar para as terras menos corruptas. A alta vibração espiritual gerada por Dassa a designa para os devotos como sendo a terra prometida. Assim, foi instalado Ogun, divindade do ferro; Sakpata a divindade da varíola; Arira (Ayra) ou Shango, a divindade dos raios e trovões, e seus respectivos templos. Enquanto nesta terra acampam os orixás que correram para conquistar outras terras e tomaram o nome de vodún uma vez que o culto chegou em Abomey e no sul do Benin antes de os adeptos embarcarem (forçados) para as Américas e propagarem seus cultos para todo o mundo.
Para além destas religiões tradicionais e puramente africanas, coexistem as importadas de várias denominações, tais como o catolicismo, o protestantismo, as igrejas evangélicas, e as igrejas cristãs do céu (católicas) e o Islã.

As vibrações caracterizam muito a mística cidade de Dassa e significa que todas as grandes peregrinações de quase todas as religiões têm lugar em determinado momento. Assim, Dassa é a maior e mais famosa peregrinação à África Ocidental:
A peregrinação mariana de Nossa Senhora de Arigbo em Dassa-Zoumé (como a peregrinação de Lourdes, na França). Ela atrai milhares de pessoas, e decorre de uma aparição da Virgem, como em Lourdes com Bernadette de Soubirous. É a igreja de peregrinação a Assembléia de Deus, a menor em adeptos, mas é igualmente notável a peregrinação da Celestial Igreja do Cristianismo (o profeta é um filho de Dassa), e da peregrinação da religião tradicional Aziza. Em breve também haverá peregrinação de seguidores do mundo inteiro do vodún Sakpata.

Não é fabuloso que milhas de colinas circundam Dassa?! Cidade de relíquias, elas representam poderosos centros de cultos místicos. Assim:

- Na Colina Agbanou foram "esculpidos pela natureza" os signos do Fá, e é aqui que passam “todos” os estudantes do Fá, sejam iniciados no Benim ou em países vizinhos.

- Na Colina Omandjagoun encontramos:

O Museu Ecológico Yakà (existência de objetos-vestígios da história de Dassa );
O Templo de Ogun, sede onde se reúnem a maioria dos objetos de culto de Ogun, divindade da caça e do ferro.

- Okè-gnitè (Montanha da dignidade), o pico mais alto de Dassa, é repleto de relíquias e restos de vidas passadas.

- A leoa deitada Miniffi, morro parecido com um leão devorando sua presa, há esculturas na rocha.

- A caverna Arigbo onde há a peregrinação de católicos.

- A colina Fragba (sede mundial da divindade Sakpata), onde historicamente é o berço do culto do vodún Sakpata.”
(In: História, tradição e religião: os mistérios de DASSA http://okuta.cfun.fr/dassa.html)

Herskovitz em sua “Narrativa Daomeana”, reproduz uma lenda conhecida no Fá que expõe o porquê do nome “Dassa” e a origem do culto de Sakpata.
A lenda conta que no começo do mundo, primeiramente foram criadas as árvores (atin) por Máwu e que Loko'tin (Iroko), a Gameleira Branca, por ser o próprio vodún Loko em sua forma atinmè (dentro do árvore), veio sozinha do céu, depois foram criados os animais e o homem. Os primeiros homens cultivavam a terra e caçavam. Nos primórdios da existência humana haviam dois caçadores denominados Dasa (Dassa) e Agbanli, que conheciam a árvore que veio sozinha do céu, e certa vez necessitando de sorte na caçada, chegaram a árvore e viram um adjalala (pote de barro) ao pé da mesma e disseram que se desse a eles boa sorte na caçada, encheriam, em agradecimento, o pote com sangue da caça e também aspergiriam aos seus pés, e assim aconteceu, tornou-se farta a caça e depositavam ali suas oferendas. Costumeiramente Dasa oferecia ao pote e Agbanli “aos pés da árvore” (atinsa). Um dia Dasa teve que partir acompanhando os seus, e deixar Agbanli, mas o que fazer com o vodún ao qual deveriam cumprir o ritual? Então resolveram dividir, Agbanli ficou com o Loko'tin, já que ficaria por ali, e posteriormente originou o culto de Hevioso, e Dasa partiu dali carregando o adjalala para onde é a atual cidade de Dassa, que deu origem mais tarde ao culto do vodún Sakpata.
Esta lenda também faz, de certa forma, entender a razão de serem feitos sacrifícios aos voduns dentro do culto. A oferenda em geral e a princípio, surge como uma forma de agradecimento por se ter o que comer.

Verger cita em uma de suas obras que coletou em Dassa Zoumê uma lenda que faz referência a origem do culto de Sakpata naquela localidade, em Vedji. Diz a lenda que certo dia um caçador de nome Mölusi em sua tarefa habitual, viu uma corsa (Agbanli) e mirou com sua flecha, eis que a corsa levantou uma das patas dianteiras e derrepente tudo escureceu em pleno dia, pouco depois clareia novamente, e ao invés da corsa surge Aziza (que seria o Aröni para o povo Yorùbá). Aziza ofereceu a ele um amuleto poderozo, uma erva que deveria ser plantada próxima à sua residência e um apito com o qual deveria invocar-lhe em caso de necessidade.
Passaram-se sete dias depois que Mölusi plantou a erva na localidade onde morava e a epidemia de varíola começou a invadir aquele lugar, então ele invocou Aziza com o apito, e quando Aziza apareceu reclamou com ele do que estava acontecendo, ele então respondeu que não era culpado disso, porquê era coisa do vodún Sakpata. Deveria instalar um local de culto para Sakpata e iniciar pessoas para o culto dele. Aziza descreveu ainda como deveriam ser iniciadas estas pessoas e como agradar a Sakpata; revelou suas folhas e seus interditos; como poderia curar as pessoas que foram acometidas pelo mal, e até mesmo ressuscitar as que morreram devido à varíola, enfim, fazendo agora do caçador um vodunnon (sacerdote de vodún). É importante observarmos nesta lenda que o primeiro vodunnon de Sakpata era denominado Mölusi, que significa aquela pessoa que foi iniciada para Mölu (Ömölu; Aholu).