quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O que a Umbanda tem do Jeje.



O que a Umbanda tem do Jeje:


A Umbanda, religião genuinamente brasileira, de raízes afro-ameríndias, herdou da matriz ewe fon muitos hábitos, costumes e crenças. Ela nasce a partir do caboclo das Sete Encruzilhadas incorporado no médium Zélio Fernandino de Morais no Estado do Rio de Janeiro com aspectos do espiritismo kardecista no ano de 1908, mas o termo umbanda já existia e referia-se às práticas do Omoloko, hoje extinto, que era praticado desde as senzalas e congregava nações africanas em torno de um ideal comum que era o de adorar seus ancestrais disfarçando a prática aos olhos repressivos do senhor mediante a um sincretismo baseado em correspondências visuais e históricas com os santos da Igreja. Se por um lado o candomblé de Jeje na Bahia sofreu uma forte influência dos nagôs, grupo dominante, à época da Formação do Egbé, com a chegada massiva de ex-escravos e libertos nagôs da Bahia ao Rio de Janeiro, em busca de trabalho remunerado nas edificações do Cais do Porto do Rio de Janeiro, as divindades cultuadas com ênfase entre os cabindas (a exemplo Ganga, que foi um rei em Ngoyo) e os ewe fon (A exemplo Sinda, Mamãe Sinda, uma ninfa – Sindassindaê, uma Mamiwata) foram relacionadas às divindades dos nagôs, os orixás.
O ponto riscado na Umbanda, veve de origem ewe fon, imigrado e incorporado nos ritos de vodum congolês, são representatividades da entidade a qual se chamam na realização de um trabalho místico-espiritual e símbolos da própria entidade a qual é reverenciada por este intermédio. São muitos mais do que riscos, símbolos, emblemas, desenhos, independentemente do material com que sejam produzidos.
O amaci (do ewe/fon amansin) preparado com as folhas sagradas dos orixás é símbolo do amparo espiritual daquele que passa a compor o grupo religioso.
A forma de trabalho espiritual em seu conjunto, a presença dos ancestrais africanos ditos pretos velhos, que foram escravos nesta diáspora, caracterizam a forma com que os voduns africanos vêm e orientam seus filhos, seus descendentes, seguidores...  Pitando seu izocré, sob seu humilde chapéu de palha, batendo com sua bengala e riscando seus pontos é que aliviam, orientam e resolvem os problemas do dia à- dia daqueles que lhes vêm em busca de soluções para os males desta vida. São eles os pais, os chefes de famílias que assumem o papel de curandeiro, orientador e feiticeiro.
E salve a Umbanda!


As Sete Lágrimas de um Preto Velho
(W. W. da Mata e Silva)

Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto-velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei por que as contei... Foram sete.
Na incontida vontade de saber aproximei-me e o interroguei: Fala meu preto-velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?
E ele, suavemente respondeu: Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.

A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...

A segunda a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que seus próprios merecimentos negam.

A terceira distribui aos maus, aqueles que somente procuram a UMBANDA, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.

A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão.

A quinta chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios, mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na UMBANDA, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo.

A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente.

A sétima, filho, notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessas aos Médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam as doutrinas.

Esquecem que existem tantos irmãos precisando de amparo material e espiritual.
Assim, filho meu, foi para esses todos, que viste cair, uma a uma

AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO-VELHO.