sábado, 1 de novembro de 2008

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 5)

Foto em http://www.metafro.com.be

Spondias mombin (Akikon'tin; Igi Eyè, Iyéyé ou Okika)
O cajazeiro é um atin dedicado ao culto de Fá, é cultuada pelo bokonon (aquele que é sacerdote de Fá), onde são depositados seus fetiches e oferendas rituais e seus sacrifícios são feitos, geralmente com cabritos e frangos; também é oferecido vi, ami-vovo, sodabi, etc.
O nome Akinkon'tin é Fongbe; os nagôs e iorubás chamam esta árvore de Igi Eyè (Árvore do Pássaro) por causa do Ifá (Fá), cujo símbolo é o pássaro, ou chamam de Iyéyé (mamãe) devido a utilização de suas folhas pelas parturientes; eles também conhecem esta árvore como Okika.
Em Benin as cerimônias e festividades anuais de Fá são realizadas em torno deste atin, onde são reverenciadas outras divindades como os Azètɔ́, cuja grande ira deve ser aplacada, Legba, Gun, e outros relacionados. Os preceitos do Fá são voltados a atrair coisas boas, livrando-se das más, e dos maus espíritos. O espírito “mau” aqui em referência é o desencarnado popularmente denominado “Ahovi”.
Seus frutos são muito apreciados e muito nutritivos; suas folhas tem propriedades desinflamatórias e são muito utilizadas no pós-parto sob a forma de chás e para assepsia local. O Cajazeiro, Cajazeira, Cajarana, ou Cajaeiro é muito comum no Brasil, onde seu fruto é o conhecido cajá, possuindo espécies como cajá-manga (da Cajarana); cajá-mirim; etc.

Cocos nucifera (Agon'tin; Agbon)
O Coqueiro ou Coqueiro-da-Bahia, Agon'tin entre os fons; Agbon entre nagôs e iorubás, são tipos de palmeiras que dão o conhecido coco d'água (coco-da-bahia) muito apreciados na alimentação, na produção de óleo para alimentação e indústria, etc. Da mesma forma que as palmeiras em geral, sua palha tem grande utilidade; no Brasil a folha do Coqueiro é bem evidenciada nos rituais de Sarapokan, a última saída em que o iniciado apresenta o cabelo antes de ser raspado o vodum em Jeje Mahi, em substituição às folhas ainda verdes da Palmeira Raphia, ou mesmo de Dendezeiro, então o Coqueiro-da-Bahia é considerado um recurso quando não se tem a possibilidade de acesso ao devido material.
Existem casas de Candomblé da nação de Ketu que consideram o Coqueiro uma palmeira onde habitam Ogun e seu irmão Osösi (Oxóssi), este útimo à quem pertence o fruto que lhe é oferecido em seu prato votivo conhecido por asòsò (axoxô).
Os nagôs e iorubás reconhecem a palmeira Agbon uma árvore sagrada do Culto de Ifá, onde habita o espírito de Orunmila, referido como Agborinegun, o mesmo conhecimento do bokonon no Benin, onde o Agon'tin é a árvore do Culto de Fá onde habita o espírito de Ela (Elá).

Zanthoxylum zanthoxyloides ou Fagara zanthoxyloides (Xè'tin)
Atin coberto de espinhos que é consagrado ao vodún Gédé, e plantado por ele mesmo antes de se transformar numa grande rocha em Kotokpa. Os fons denominam Xè'tin.
Há uma história que diz que Gédé fora um prisioneiro de Guerra do rei Glèlè apanhado numa de suas expedições contra os Ayonu, e que certa vez Glèlè decidiu decaptá-lo mas Gédé consegiu escapar de Abomey. Ele foi orientado por Dan a mudar sua rota de fuga e terminou em Kotokpa onde plantou o Xè'tin e se transformou em uma grande pedra, ocasião em que se une à Dan. O rei vendo tais feitos e consultando a Fá, no oráculo sagrado, passou a ser um gédenón (adorador do vodún Gédé), ocasião em que dedicou-lhe aquele local como sendo sua floresta sagrada, o gédézun.
Esta árvore é consagrada aos voduns Gédé e Dan, e a rocha que ali existe é o prório vodún que se transformou.
Recentes estudos farmacológicos vieram confirmar cientificamente a ação positiva deste vegetal no tratamento da anemia falciforme e da leucemia.


Azadirachta indica (Kininu'tin)
Oriunda da Índia onde é conhecida por Nim esta árvore é amplamente conhecida pelos fons sob o nome de Kininu'tin, existe também na Amazônia no Brasil; seus frutos possuem uma forte ação anti-bacteriana; o pó e o óleo de Nim são amplamente utilizados, assim como suas infusões, e também no preparo de sabões medicinais; é um forte repelente de insetos, e controla muitas pragas em lavouras. Sua utilização além de medicinal e repelente, é observada também nas demarcações de propriedades.

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 4)

Dracaena arborea (Ayan; Anya'tin; Agnan)
Trata-se de um arbusto muito exótico e que pode atingir uma boa altura. Conhecido em fon como Ayan; Anya'tin; Agnan /ainhã/, a Dracena é muito utilizada nos conventos de vodún sinsen geralmente decorando com suas folhas ritualísticas e medicinais (Anyama), dividindo espaços, delimitando áreas e servindo de local de adoração do vodún (vodum ou vodun) Xebioso ou Hevioso (Heviosso) do trovão. Seu aspecto decorativo chama muito a atenção do transeunte, são ornamentais em residências, dentro em vasos, nos jardins, ruas e praças, são muito comuns seus variados tipos tanto na África, quanto na Europa e no Novo Mundo.
Uma das espécies de dracena, porquê são muitas, conhecidas no Brasil e no Benin é o “Pelegun”(Peregum) a Dracaena fragrans, ou Pepelegun, termos do nagô; Folha-de-Nativo, Pau-d'água ou Pau-da-Sorte, ele é muito utilizado nestes lugares e com uso similar ao Ayan. Ainda no Brasil, atribui-se o arbusto de folhas listadas verde e amarelo ao vodun Gbesen (Dangbe) e o de cor verde ao òrisà Òsòsi dos nagôs. As de folhas verdes (Anyama) no Benin são atribuidas à divindade do trovão e envolvidas em preceitos e festividades do vodún Age, pelo menos em Abomey. Seu cacho florido possui um agradável odor exalado durante a noite que pode ser identificado à distância. Existem pessoas do culto que crêem firmemente eque este perfume exalado é capaz de afastar coisas ruins, maus presságios e maus espíritos. As suas folhas são utilizadas em muitos rituais dentro do Candomblé, desde a tradicional limpeza ritualística as iniciações de vodún, de òrisà, e muitas outras obrigações.

Garcinia kola (Ahowe'tin; Orogbo)
O ahowe'tin (Fon e Gun) ou Orogbo (Nagô e Yorùbá) é o atin do fruto muito conhecido no Brasil como orogbo e em Candomblé Jeje por ahowe. Este fruto é consumido como alimento, e utilisado nos rituais de voduns com muitas finalidades. Tem muitas propriedades medicamentosas, como no tratamento natural da diabetes, angina, icterícias, cefaléias, tipos de anemias, etc.
Esta árvore é mencionada em Fá, no dù Di Medji como a árvore dos que procuram pela fortuna, como descrito por Verger na Trajetória de Iya mi Odù do céu à terra.

Kola nitida (Gbanja; Golo; Obi Gbanjà)
Este atin dá frutos que possuem dois gomos, a cola ou “obi”, é muito conhecido no Brasil como Obi Banjá, em Fon é Golo, em Gun é Gbanja, e em Yorùbá seu nome é Obi Gbanjà. Possui propriedades medicamentosas e nutritivas, é um alimento muito apreciado, e oferecido em rituais de voduns. Da cola se obtém um extrato utilizado na fabricação de certas bebidas que são muito apreciadas e ganharam o mercado internacional. A comunidade de Allada (Ayou), pronuncia-se Ayú, é uma das comunidades que se baseiam comercialmente no plantio de Gbanja.

Kola acuminata (Avi; Vi; Obi Abàtà)
Este atin dá um obi que possui quatro gomos, algumas espécies dão de cinco, o qual é oferecido a Gu, os de quatro além de serem oferecidos a certos voduns em certos rituais, e de possuírem propriedades medicamentosas e nutritivas, também servem para consultá-los e consultar os antepassados, é o tipo mais consumido de cola no Benin e na Nigéria, seu extrato segue a mesma utilização do extrato de Kola nitida à nível industrial. A denominação que os guns lhe conferem é Avi, os fons lhe conhecem por simplesmente Vi e os nagôs e iorubas lhe denominam por Obi Abàtà ou Awedi.



Ficus umbellata (Voma)
Ficus vogeli (Vo; Obada)
São Ficus, árvores que proporcionam boa sombra e geralmente são plantadas à frente do vodunxwe (casa do culto) onde tomam cenário vários eventos como ritos de iniciação e comemoração as divindades do hunkpame. Voma e Vo são termos fons, e Obada é uma denominação Yorùbá.
A diáspora é muito rica em Ficus de várias espécies, a Mata Atlântica brasileira proporciona uma enorme variedade deles. São encontrados em ruas, praças e estradas muitos Ficus, sempre oferecendo uma boa sombra para quem passa por ali.

Parkia biglobosa (Ahwa'tin)
A poupa de su fruto é rica em sacarose e com ela se fabrica uma bebida. Suas sementes são ricas em proteínas e lipídios servindo na alimentação, no preparo de seu óleo e na confecção de sabões de uso doméstico. A fabricação de sabões com lipídios ervas e cinzas faz parte do conhecimento do vodun-sinsen. Este atin é popularmente conhecido no Benin como Néré e entre os fons como Ahwa'tin (aqüatin), é nativa nas savanas. Possui propriedades medicamentosas no tratamento natural da hipertensão, das hemorróidas e das dermatoses em geral.

Erythrina senegalensis (Kpaklesi; Hunkpasle; Ologun Sese)
Esta árvore possui folhas com ação analgésica e anti-inflamatória, é conhecida pelos fons como Kpaklesi, pelos guns como Hunkpasle e pelos iorubás e nagôs como Ologun Sese (Sheshe). É rica em flavonóides e tem sido muito estudada em laboratórios do mundo.
Como preparo do indivíduo a sociedade e reintegração à sua família, a medicina natural é importante matéria a ser ensinada no hunkpame, são conhecimentos milenares que são repassados e estão contidos em orações quase sempre cantadas para melhor serem assimiladas, assim também se canta falando das folhas; das árvores; das ervas seus aspectos litúrgicos e medicinais, quase sempre associados. A pedagogia do hunkpame no Benin é a pedagogia da aldeia, vai além do místico estando fundamentada nele, porém, não estacionada nele como na diáspora. Parte-se do princípio que ela é um preparo teórico e prático para a vida.

Moringa oleifera (Kpatimawiniwini ou Yovokpa'tin; Ewe Igbale ou Ewe Oyibo)
A Acássia-branca é popularmente conhecida entre os fons pelo nome de Kpatimawiniwini ou Yovokpa'tin; entre os nagôs e iorubás pelo nome de Ewe Igbale ou Ewe Oyibo. Muito estudada como produto natural; contém cerca de trezentas substâncias nutritivas em seu extrato seco. É uma árvore cujas folhas são comestíveis e se preparam como qualquer hortaliça na alimentação, em sopas; ensopados; etc. É um poderoso recurso contra a desnutrição, além de ser um vegetal exótico e chamar muito a atenção. Suas sementes de igual forma são ricas em lipídios e proteínas. Muitos lhe conhecem na África ocidental, comercialmente, pelo nome de Yovo'tin, corruptela do nome Yovokpa'tin. Costuma-se desenvolver mudas deste vegetal para a forragem de ruminantes e a engorda dos mesmos.
Esta árvore belíssima é consagrada a Kuyito (Kutito ou Egun), e é a morada dos ancestrais; também é venerada ali a senhora dos Eguns, Oya Igbale, local onde os ancestrais e Oya recebem suas oferendas, por isto os nagôs e iorubás lhe denomina Ewe Igbale, ou seja: Folha do Igbale, que é a morada de Egungun.
O papel de Kuyito (ou Kutito), a ancestralidade, é tão importante na preservação da sociedade para os fons de uma forma geral, aqui deparamos que a árvore que alimenta é justamente consagrada aos seus antepassados. Isto nos faz refletir sobre pensamento do homem fon, especialmente do gbe, e os valores morais e sociais de suas tradições, a continuidade de sua vida de geração-em-geração através da tradição cultural.


 

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 3)

Lagenaria vulgaris, afrikana (Cabaceiro)
Cabaceiro ou Pé-de-Cabaça, como é popularmente conhecido no Brasil, e Pé-de Coité, que é um deles, porém, a subspécie africana, possuidora de uma parte longa em sua cabaça, é que é muito utilizada como um dos atins de Legba (vodun que corresponde ao Elegbara dos nagôs), também utiliza-se da cabaça, seu fruto, para confecção de utensílios rituais, domésticos e instrumentos musicais.
Possui propriedade medicamentosa, contudo não deve ser confundida com outras espécies por possuir um nome tão popular em terras brasileiras, na qual tem origem algumas espécies de Cabaceiro.

Butyrospermum paradoxum (Karité; Limu'tin, Wugo ou Kotoble; Akumolapa)
Esta árvore é a sapotácea da qual se prepara a “manteiga de karité” que serve como alimento e no preparo da alimentação, tanto no Benin, quanto na Nigéria onde é conhecida por Akumolapa.
O karité serve de tempero ritual claro e brando para certos voduns, é nutritivo e medicamentoso, entrando no preparo de ungëntos de uso tópico misturado com outras substâncias, servindo de veículo, também é utilizado para o alívio de queimaduras leves na pele. Seu uso cosmético é muito apreciado no ocidente.
Os mahis no Brasil denominam-a limu'tin, e à sua manteiga de karité: “Limu-da-costa”.

Mangifera indica; Mangifera africana (Dangbe, Dangbe-Ahoho, Maga'tin, Amaga'tin)
A conhecida árvore Mangueira, especialmente a da espécie dangbe, é consagrada ao vodun Dangbe e considerado o seu Ahoho, em alusão ao jassu, existem árvores de Dangbe antiquíssimas em Ouidah, onde são realizados preceitos em louvor a esta divindade. Da mesma forma reverencia-se este ancestral mahi no Brasil. Na cidade baiana de Cachoeira é realizada no mês de janeiro de cada ano uma festividade em honra deste vodun, que é conhecida como “Boitá de Gbesen”.
Este atin é de extrema importância dentro dos preceitos mahis, tanto no Benin, quanto na diáspora, costuma-se evocar, colocar oferendas a Dangbe em volta de sua árvore, suas festividades também são realizadas ali sob a Mangueira. No Benin uma das árvores sagradas do vodún Dangbé é o Hun ou Hun'tin, termo fongbè, conhecida no Brasil por Folha de Serra, Falsa Espinheira Santa, Cincho, etc.

Delonix regia (Flamboyant)
O Flamboyant (Flor-do-Paraíso; Pau-Rosa; Acácia-Rubra) é muito encontrado por todo o Brasil, é uma árvore originária de Madagascar. Sua flores são belíssimas e costumam ornamentar ruas e praças. Este atin é muito consagrado a Oya e também ao Sàngó (Heviosso). É indissociável a figura do Sàngó da cultura nagô com o vodun Hevisso, observado que o culto de Ayrá origina-se de Savé Okpara, segundo Verger em sua obra “Orixás”, para os mahis apenas o nome e a forma de reverenciar é que muda um pouco, são ambos voduns do céu, do trovão e da justiça. Ao passo que Weleketi (Wleketi) dos ewes é consorte de Heviosso, é a Oya dos nagôs quem cumpre este papel na concepção Jeje Mahi, sendo Avlekete (Vlekete; Avelekete) um vodun da família de Heviosso que também é cultuado nas praias, daí a razão de “Afrekete”, como é conhecida em Cuba, ser título de Iyémojà (Iyemanja).



Raphia hookeri; Raphia Vinifera (Zan)
Existem muitas variedades de palmeiras de ráfia no Benin, e de uma forma geral, todas elas servem para a confecção de objetos de culto e de utensílios domésticos, e também na alimentação. Da maioria delas se aproveita as folhas para um trançado de cestos, cordas, esteiras, telhados de palha, etc. Elas são em geral denominadas de Zan pelos fons.
Também se utiliza a Raphia hookeri para a alimentação com a fabricação do “sodabi” (bebida alcólica tipo vinho; um vinho de palma); para os ritos de zangbeto, de espíritos de caçadores e guaridões da noite; os ritos de vodun, e de iniciação ao vodun, no Benin e na diáspora, enfim que envolvem a confecção de vestimentas e adornos elaborados com as folhas desta palmeira que também é conhecida pelos mahis, nagôs e iorubás sob a denominação de Iko ou Igi Ogoro, em gun seu nome é Apelle Kode ou Oba.
Durante período longo da iniciação os hun'sis (vodunsis; iniciados), além de aprenderem outros trabalhos e estudos religiosos aprendem a trabalhar artezanalmente a palha e a tecê-la, produzindo trabalhos para uso interno do hunkpame (vodunkpame; convento) e para serem vendidos fora dele de modo a angariar fundos que serão anexados nas despesas do mesmo. O convento é o local de preparo do indivíduo para a sociedade, e reintegração à sua família, tendo em vista a obdiência a ancestralidade como principal fator de coesão social.
Existem também a palmeira Hóxódé (Hohode) que é consagrado a Hoho entre os fons, os voduns gêmeos que representam a benção da duplicidade e prosperidade, muito conhecidos entre os nagôs e iorubás como Ibeji.

Elaeis guineensis (Detin; Ede; Igi Okpe)
Muito conhecido na Bahia como Dendezeiro. No Benin é conhecido como Detin em Língua Fongbe e no dialeto Gun (de Allada) que é uma variação do fongbe entre outras, e por Ede em adja. Os nagôs e iorubás denominam este coqueiro por Igi Okpe. Do fervimento se sua polpa surge o azeite-de-dendê (zomi ou ami-vovo dos fons; epò-pupa dos nagôs e iorubás). E do coquinho, o okwe conhecido pelos mahis, é preparado o adin (óleo de sòsò) e isto desagrada a Legba, sendo um legbasu (proibição de Legba; de su- proibição) porquê envolve a destruição do coquinho para seu preparo, e os coquinhos são sagrados de Fá, divindade da advinhação com a qual Legba colabora servindo de intermediário no Fá-Titê (Jogo do Okpele-Ifá em yorùbá), trazendo as respostas de Fá através da leitura dos dùs (destinos). Por isto Legba não gosta do adin.
Devido ao temor que se tem da divindade, as indústrias não costumam utilizar do coquinho de quatro orifícios, ou olhos, sagrados do Fá, e procuram usar nos processos aqueles que não servem para o jogo, com números de olhos distintos. O azeite-de-dendê movimenta uma boa parte do mercado de exportação e do mercado interno de muitos países do oeste africano. Ele é o óleo natural mais rico em vitamina A vegetal (b-carotenos) até então conhecido.
O dendezeiro, que dá frutos que servem ao ritual de advinhação, é consagrado ao vodun Fá.

Trichilia Heudelotii (jogbe)
Este atin de linda folhagem tem o poder de atrair o vodún em alguns rituais específicos.
É um atin muito sagrado e de suma importância nas tradições do culto de Fá Vodún.


 

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 2)

Foto de um Akoko no Benin.


Milicia excelsa (Iroko, Loko'tin)
Muito conhecida como Gameleira Branca, sempre presente nos terreiros de candomblé e consagrada ao vodun Loko, na Bahia e no Rio de Janeiro, (Iyoko em idioma yorùbá e nagô). Devido a sua ser sua morada os mahis consideram Loko o vodun atinmé, ou seja: O vodun dentro da árvore; e o nagô o visualiza em uma escultura confeccionada da própria madeira do Iroko.
Na floresta do rei Kpassè, fundador de Ouidah, palavra fon originada de xwéda /Kwê dan/- casa de Dan, que significa reino, existe um antigo e espesso Iroko que lhe é dedicado, pois segundo a crença local o rei teria certa vez se transformado em uma destas árvores para escapar da perseguição de seus inimigos.
A presença desta árvore sagrada sugere afastar infortúnios diversos, principalmente acidentes, má sorte, pandemias e epidemias, e é muito utilizada para conjuros deste tipo, além de ser medicinal.
Os mahis do Benin cosagram a Gameleira branca como morada dos seguintes voduns: Dan, Toxwyo, Loko, Òsò e Iyami Aje, Sakpata, Hevioso (heviosso) ou Hebioso, Djigali, Adadjogbé, e Gu. Os Gen (Mina) a associam também a outras divindades. No Brasil é principalmente consagrada a Loko. Por se considerar uma árvore também consagrada a divindades relacionadas com feitiços e perigosas de se evocar como Òsò e Iyami Aje, não se passa e não se fica exposto a este atin no cair da noite, considera-se que é a hora dos feiticeiros chegarem. Existem preceitos de confecção de talismãs com sua madeira e com suas folhas que são pintadas com pontos brancos e fixadas em entradas de residências para afastar doenças e epidemias.

Adansonia digitata (Baobá, Mutê, Akapassa'tin)
Muito encontrada da África e conhecida como a “árvore da longevidade”, de espesso tronco, o Baobá é muito utilizado na alimentação e na medicina natural. Os clans otamaris que o denominam de Mutê, Muto ou Mutomu, consideram o aparecimento de um Baobá em seus sítios um sinal de alerta que sugere uma consulta ao oráculo de Fá, pois evidencia-se uma supeita de doença ou de envenenamento de alguém daquela casa, tendo que realizar preceitos rituais. Estes clans também realizam cerimonias de iniciação de seus jovens sob um Baobá. Dentre os mahis o akapassa'tin é consagrado ao vodun Sakpata. São encontrados nos conventos de voduns (vodunkpame ou hunkpame) na África muitos outros tipos de árvores que também envolvem ritos de iniciação como a Gardênia (Gardenia erubercens) e o Falso Ébano (Diospyros mespiliformis), no Brasil muitas outras espécies de atin foram relacionadas a cultura dos voduns pelo fato da flora não ser idêntica
à da terra-mãe, então tiveram que ser substituidas algumas por outras aqui encontradas com alguma similitude para que houvesse correspondência entre aspecto-vodun ou vegetal-vodun, a Jaqueira ou Apaoká (Artocarpus integrifolia; Artocarpus heteropyllus), muito comum no Estado da Bahia, planta originária da Malásia e trazida pelos portugueses no Brasil colonial, é sem dúvida um exemplo disso aqui, nela se construiu uma relação íntima com o vodun Sakpatá e o com òrisà nagô Omolu.

Newboldia laevis (Ahoho; Akoko; Igi Iyami; Hunmatin)
O Ahoho é um arbusto, rico em proteínas, possui propriedades sedativas, e é um dos “huntigomé”, ou seja: Atin onde é, de uma forma geral, cultuado Gu, o vodún guerreiro e dono do ferro e do gu-wui, seu sabre sagrado e símbolo de um rei; o termo “huntigomé” se perdeu em Cachoeira, Bahia, onde ficou substituído pela palavra “jassu” em alguns candomblés de Jeje Mahi.
Este arbusto é muito conhecido no Brasil pelo nome de Acocô, entre os mahis pelo o nome de Ahoho, entre os minas por Hunmatin, e entre os iorubás e nagôs como akoko ou Igi Iyami (termo mais para a Nigéria), onde eles costumam cultar o òrisà Ogun (Gu entre entre os fons) à sua sombra, porquê viajante e expedicionário, Ogun sempre descansava sob este atin à beira da estrada. Utilizam-no também como cercas delimitando espaços, e como forragem, exceto para cavalos, quando ainda pequenas e tenras suas mudas.
A tradição dos mahis no Brasil faz com que se coloque um pequeno galho ou folhas de ahoho presas ao corpo, e quiçá alusivamente à arruda dos portugueses, atrás da orelha, ao se deslocar em viagem, de um lado para outro, e mesmo para ir se entregar uma oferenda em local distante, este comportamento é a certeza da proteção do vodum durante os percursos de ida e de volta. Quando do retorno, retira-se e despacha-se.
Suas folhas são sagradas e representam prosperidade para a obrigação de sete anos de vodunsi, junto com a folha conhecida por Oniferé, a folha do ahoho também representa a proteção de Gu na trajetória de suas vidas pelo mundo. São folhas também relacionadas com rituais de purificação, principalmente no Benin.
As crenças africanas costumam mencionar que Gu costumava descansar sob o Ahoho em suas longas caminhadas. Este vodun é representado por qualquer peça de ferro depositada sob o atin, e é ali que recebe suas oferendas votivas.

Afzelia africana (Afzelia)
Esta árvore é muito encontrada também nos conventos de voduns, e além de possuir propriedades medicamentosas em associação com outros vegetais, inclusive no tratamento da trypanosomiasis, lhe é conferido o poder mágico repulsivo de maus espíritos, assim como conferem tais poderes à Ceiba petandra (Sumaúma), "Gédéhunsu" em Mahi, além de muitas outras, que também é encontrada na Amazônia, sendo a maior árvore, e chegando a atingir 65 metros de altura.
Em Regla de Arará (Rito de vodun cubano e originário de Alladá) a Ceiba petandra (Sumaúma) é atribuída ao vodun Aremú (Obatala para os nagôs). Os ritos de origem iorubá em Cuba denominam-a “Igi Olorun” (Árvore de Deus), Igi Araba, Eluwere, Asaba, e até de Iroko. A Regla de Arará também relaciona este atin com as seguintes divindades: Heviosso, Nanan, Loko, Awuru, Magala, Yemu e o próprio vodun Loko.
Não existe um conhecimento litúrgico sequer que esteja desassociado do conhecimento popular medicinal de qualquer vegetal no vodún sinsen (culto aos voduns). Os métodos científicos de hoje são aplicados na pesquisa de reconhecimento das substâncias que curam e que estão contidas nas plantas de uso no culto. O vegetal de tal vodun é o mesmo que encerra tais poderes mágicos para tal efeito, e possui tal aplicação medicamentosa ou não, podendo ser medicamento ou veneno, para seres humanos, animais, ou determinados indivíduos de tal espécie.

Bombax Costatum (Dehuama)
Esta árvore é muito comum na África do Oeste e possui lindas flores; é um atin de grande porte que chama atenção pela imponenência e pela beleza.
Está associada com a remoção temporária da virilidade masculina, reduzindo e controlando o desejo no homem, inclusive nos períodos de reclusão religiosa. Tal formulação é segredo do vodunnon.
É conhecida pelo nome de "dehuama" (derruamã) pelos Mahi.

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 1)

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS

A presença do negro daomeano, oriundo do antigo Dahomey, atual Benin, e sua integração na formação do egbe, termo iorubá que significa sociedade, candomblesista, introduziu o culto as árvores sagradas ou atinsa, do fongbe atin (árvore), e seus rituais específicos segundo o vodun ao qual determinada árvore pertence, por características próprias, lendárias e étnicas, pois na Mãe- África a designação do atinsa é de acordo com o conhecimento próprio do grupo étnico. Os atributos materiais e espirituais do ser vegetal são diretamente proporcionais à gama de conhecimentos que se tem do vodun, ou voduns, em que no mesmo é reverenciado.
A visualisação da dinvindade na forma do atinsa não é exclusividade dos fons, mas no Brasil, graças aos fons/mahis e seus descendentes, savalunos de Cachoeira, Bahia, e Alladanus introduzidos no Rio de Janeiro, uma boa quantidade de árvores existentes em nossa flora é preservada para a prática do Candomblé da nação Jeje Mahi, e da não existência de muitas delas como observadas em seus habitat natural, a substituição por atins com alguma similitude na espécie.
No Benin atual a preservação ambiental é promovida por um conjunto de fatores sócio-culturais implicando o envolvimento de uma diversidade social de grupos, além das ações governanmentais, e onde existem sociedades secretas como as Sociedades Oro; Kuto; Gelede e Zangbeto, que zelam por seus zuns (de zun, floresta em fongbe) sagrados e de caráter iniciático, onde somente é permitida a entrada de pessoa do culto e vedada a entrada de indivíduos não iniciados ou alheios ao culto, a não ser com o concentimento do chefe local, para iniciar ou ofertar por exemplo o vi (obi abata, noz de cola), frango e sodabi (uma bebida local) a divindades, por determinação do próprio culto, estas sociedades são bem cohecidas sobretudo na região dos mahis, cumprem um papel social muito importante que é o de preservar a ordem na população, orientar para a solução de problemas comunitários e até de punir quando necessário, são sociedades de culto aos antepassados.
Ainda no Benin existem florestas-cemitérios que são local de sepultamento de corpos de pessoas que morreram em decorrência de acidentes, ou de doenças infecto-contagiosas, como a varíola, são locais com centenas e centenas de anos de existência e destinados a tal finalidade. Muitas ofertas são depositadas nestes locais por familiares, descendentes e adeptos do culto principalmente de Sakpata, vodun da varíola. A caça nesta floresta é proibida, como são proibidas todas e quaisquer atividades que visem por em risco o meio-ambiente sagrado dos mortos. São locais de adoração e mantidos pelo próprio povo que repeita a memória de seus antepassados e o poder de suas divindades.
O Candomblé de Jeje Mahi encerra em seus preceitos ritualísticos muito da propriedade cultural da qual é descendente, o respeito ao meio ambiente, a preocupação com as matas e rios, o fazer o ritual sem por em risco a mata, as águas de uma forma geral, sabe que alí é local sagrado. O fato de se comemorar as festividades em torno de atinsas e beiras de recursos mananciais é oriundo de seus costumes africanos, pois ali é morada, de um ou vários voduns, de uma família de voduns, ou de um ou vários de seus antepassados, sabe que é preservando a vida que se preserva a memória e vice-versa. Se alguém dentro da sociedade se aventura em descumprir a ordem de zelo, sabe que estará sujeito as sanções disciplinares, podendo ser expulso do egbe, responder por um dano que por ventura houver, e mais do que isso, desagradar ao vodun ou ao antepassado, que o julgará e o punirá a proporção do dano que foi produzido.
Um outro outro conceito sagrado de florestas para os daomeanos, são aquelas específicas para cada vodun. Existem no Benin florestas para o culto de Heviosso; Dan; Sakpata; Aydohwedo; Legba, Omolu; Hoho; Lissa; etc. Tais florestas são denominadas vodunzun, que não possuem acesso restrito, e são dedicadas a cultos específicos de um vodun ou grupo de voduns, são guardados os princípios de respeito as tradições e preservação do patrimônio místico-hitstórico-ambiental pela população local. Da totalidade das florestas hoje existentes no benin 60% (sessenta por cento) da totalidade são vodunzun, 21% (vinte e um por cento) são das sociedades secretas e 8% (oito por cento) são florestas-cemitérios.