sexta-feira, 5 de junho de 2009

Azonadô

Tronco do Azonadô (A folhagem é de coqueiros ao lado).

Azonwanno Vodún dança com seu já.

Azoano adô ou Azonadô- Denominação aportuguesada no Brasil, que é oriunda do nome da Paineira Azonwanno a dŏ (O subidor de Azonwanno; onde o vodún sobe), árvore coberta de espinhos, senão acúleos, e que floresce anualmente, cuja muda teria sido plantada na antiga, hoje extinta, área do Candomblé do Bogum, e trazida por um avô da saudosa Mãe Menininha do Gantois, chamado Salakó, da costa africana; não mais existente no local desde 1979, quando foi -infelizmente- tombada tendo em torno de dois séculos de idade, alegando-se risco e danos as residências da ladeira e substituída pela finada Mãe Nicinha de Loko, por um Flamboyant Amarelo dentro da área que restou do Bogum.
O mito do vodún encerra a capacidade que têm de escalar o tronco de uma árvore coberta de espinhos, como que por magia, já que possui a fama de ser um grande feiticeiro.

O Prof. Vivaldo da Costa Lima registra:
"(...) Do mesmo modo que a falecida mãe-de-santo Runhó do antigo terreiro Jeje do Bogum, terreiro importante ao ponto de dar, como o do Gantois, seu nome a todo o bairro em que se situa - falando da historia de sua casa, dizia: "Tiana Jeje, mãe pequena daqui antes da finada Emiliana, tinha marca da nação no rosto. Tiana veio do tempo de meu pai-de-santo. No tempo em que fiz o santo ainda foi com africano na casa. Já a finada Emiliana era crioula (5). E continuava, saudosista: "A primeira mãe-de-santo era Ludovina, que era africana. Os terreiros de Jeje já acabaram tudo, Carabetã, Campina de Bosqueja, Agomenã, tudo..."
Mas a casa do Bogum continua, apesar da melancolia com que vodunsi RUNHÓ lamentava os tempos pretéritos "dos africanos", a manter a tradição de ser a casa mais pura de jeje-marrim que há na Bahia" (6). Esse terreiro possui diversos assentos de vodus daomenos e sua mãe-de-santo pode passar muito tempo falando dos mitos de sua nação e contando histórias dos velhos tempos em que "os jejes eram respeitados só com o nome". Irmã-de santo da famosa EMILIANA do Bogum (7) a quem substituiu na direção da casa, explicava, ainda: Emiliana morreu ha 15 anos (em 1966) e tinha 92 anos de idade. 0 terreiro foi fundado por africanos e tem mais de 100 anos. Esta é a segunda casa feita aqui no mesmo lugar. A gente quer acabar mas tem tanto santo por aí que veio da África que todos nós só lamenta aquela árvore onde esta assentado Azoano Ado (8)... "Houve a primeira casa que foi dos africanos, depois foi ficando nos caboclos. Esta casa foi construída em 1927, tem mais de trinta anos. A outra era de taipa. Nós não fazia questão de continuar, mas todo mundo dizia " Terreiro é o de Jeje!". Mas também a mãe-de-santo VALENTINA-RUNHÓ do Bogum, quando falava em "Jeje", estava se referindo a nação de seu terreiro, que de sua própria família biológica ela dizia apenas que era "de africanos". (...)"
"(...) 5. A palavra foi empregada no antigo sentido " conservado em algumas áreas lingüísticas " de "negro nascido no Brasil".
6. Jeje-marrim é umas das nações jejes conhecidas no Brasil. A expressão alude aos fõs da nação Mahi, ao noroeste de Ketu, e ao norte de Abomé. Dos Mahi escreve CORNEVIN: "C'est leur esprit indépendent, difficile et querelleur, surtout entre eux, qui leur valut le qualificatif de "MaHiNou", ce qui signifie presque litéralement "les démangés de la rage"./ Le terme Mahi fut ensuite étendu par les gens d'Abomey a tous les habitants de la région comprise entre les qroupements fon et les groupements yorouba" (1962, 47).
7. CARNEIRO,(1948,28-109)
8. Vodun daomeano, conhecido nas casas jejes ou que "tem uma parte de jeje". O terreiro da falecida mãe-de-santo CECILIA MOREIRA DE BRITO, em Cosme de Farias, tem como padroeiro a "Azoano, que é o nome que Omulu tem do lado de jeje marrim". (Entrevista 5, 1'. série). A Casa de Obaluâe, da mãe MARIA ANTONIA BISPO DA PAIXÃO; Magujé de Obaluâe, na Federação, tem Azoano igualmente como padroeiro: "Azoane é o dono da Casa".(...)"
(In: A Família de Santo nos Candomblés Jeje-Nagô da Bahia: Um Estudo de Relações Intragrupais, Salvador, Universidade Federal da Bahia, 1977.)

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