sábado, 21 de novembro de 2009

O Terreiro do Pinho.



O Terreiro do Pinho

A casa está desativada no momento, embora tenha passado por algumas reformas, enlutada e aguardando o processo sucessório, é Jeje Dahomé e os cânticos são em ewegbè e ajagbè. Há muitos candomblés descendentes do Pinho no Recôncavo e segundo a oralidade dos terreiros descendentes, a família de Modubi, e quiçá o extinto Kpo Zehen da antiga área do Bogum na capital baiana, teriam origem lá também.

Modubi, talvez, com o tempo tenha adequado sua prática e se diferenciado, ainda no Bitedô, para Mahi, deixando de lado o sacrifício do carneiro de Hevioso que é o rei de Dahomé, e concebendo como rei a Sogbo Adan, bem Mahi, dentre outras coisas.

No Benin e no Togo, como no Terreiro do Pinho na Bahia, pode se virar com quantos voduns a vodunsi carregar, mas inicia-se somente para um vodún, assim também é no Haiti.

Kpɔ̀sú (O homem-pantera, Kposú) é um vòdún velho, o tratamento vovô é uma forma de carinho para com ele, na relidade ele é filho de Kpɔ̀(Pó), a pantera, tida no Togo como uma das manifestações de Khebioso (Hevioso) dentro da floresta. Ele nasceu meio homem e meio animal e com forte instinto da parte felina, tanto que sua esposa teve que consultar o oráculo de Fá com um bokonon para ver o que podia fazer para diminuir a agressividade dele para que pudesse governar com mais equilíbrio, conta o dù Letegbe, e lhe foi dito que fizesse uma corôa de penas vermelhas de papagaio e adornasse a cabeça de Kpɔ̀sú dizendo certas palavras, e assim ela o fez, afastando dele a fúria da pantera, e pode bem governar seu reino. Esta coroa é conhecida como a coroa de Da Daho, o pai do Dahomé, sinônimo de Kpɔ̀sú que é um termo empregado em substituição ao de filho bastardo (Agasú), e de matador de Aja (Ajahuto), ela adorna até hoje as cabeças dos seguidores do culto de Hevioso na África do Oeste.

Roger Bastide em O Candomblé da Bahia: Rito Nagô, menciona que "Da Daho" tem como um dos seus voduns tokwen (toquem) que criou, o vodum JAGOROBOSSU, contrariando alguns autores que apresentam o surgimento deste vodum bem posteriormente, ele talvez sem saber confirma a antiguidade do Terreiro do Pinho, cujo vodum chefe espiritual da casa é JAGOROBOSSU e cuja placa de inauguração data do século XVII, oficialmente, embora as tradições de vodum no local tenham surgido por volta de 1568 com a formação do quilombo.
Era hábito dos fons, ajas, e ewes, que o local de culto vodum fosse construído pelo rei local e por ele fosse empossado o vodunnon, esse hábito ainda vigora na África.
É “Na Furê Najé Eshá” que funda a casa, obviamente de família real africana, segundo registros orais. O mais interessante é que a comunidade denominada Najé envolve o local.

Muitas casas tradicionais de Jeje descendem do Terreiro do Pinho, onde a formação do ëgbë não atingiu muito.
Uma destas características é a de não se "raspar" para iniciar, pois o ato de se raspar é uma influência dos nagôs, mesmo no Benin há esta influência, inclusive em Savalu, onde o anagonú (iniciado no Culto de Sakpatá) tem a cabeça raspada no processo de iniciação. As casas descendentes raspam porquê sofreram a influência da formação do ëgbë, ou mesmo porquê envolveram ritos mahinos, minas, ou mesmo savalunos que já tinham forte influência nagô. Mas o Pinho não tem influência nagô? Claro que sim, mas de outras formas. O próprio culto de voduns no Rio Grande do Sul tem fortíssimos traços da cultura do Jeje Dahomé do Terreiro o Pinho.