O que a Umbanda tem do Jeje:

O ponto riscado na Umbanda, veve de origem ewe fon, imigrado e incorporado nos ritos de vodum congolês, são representatividades da entidade a qual se chamam na realização de um trabalho místico-espiritual e símbolos da própria entidade a qual é reverenciada por este intermédio. São muitos mais do que riscos, símbolos, emblemas, desenhos, independentemente do material com que sejam produzidos.
O amaci (do ewe/fon amansin) preparado com as folhas sagradas dos orixás é símbolo do amparo espiritual daquele que passa a compor o grupo religioso.
A forma de trabalho espiritual em seu conjunto, a presença dos ancestrais africanos ditos pretos velhos, que foram escravos nesta diáspora, caracterizam a forma com que os voduns africanos vêm e orientam seus filhos, seus descendentes, seguidores... Pitando seu izocré, sob seu humilde chapéu de palha, batendo com sua bengala e riscando seus pontos é que aliviam, orientam e resolvem os problemas do dia à- dia daqueles que lhes vêm em busca de soluções para os males desta vida. São eles os pais, os chefes de famílias que assumem o papel de curandeiro, orientador e feiticeiro.
E salve a Umbanda!
As Sete Lágrimas de um Preto Velho
(W. W. da Mata e Silva)
Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto-velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei por que as contei... Foram sete.
Na incontida vontade de saber aproximei-me e o interroguei: Fala meu preto-velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?
E ele, suavemente respondeu: Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.
A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...
A segunda a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que seus próprios merecimentos negam.
A terceira distribui aos maus, aqueles que somente procuram a UMBANDA, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.
A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão.
A quinta chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios, mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na UMBANDA, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo.
A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente.
A sétima, filho, notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessas aos Médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam as doutrinas.
Esquecem que existem tantos irmãos precisando de amparo material e espiritual.
Assim, filho meu, foi para esses todos, que viste cair, uma a uma
AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO-VELHO.