sábado, 9 de outubro de 2010

PAPOINFORMAL Solidário com a Roça do Ventura.

Foto: A Tarde.

"Iphan barra construção em área de terreiro em Cachoeira

Cristina Santos Pita, do A TARDE

Sítio ecológico e santuário religioso de matriz africana da nação jêje marrin e um dos mais antigos terreiros de candomblé da Bahia, a Roça de Ventura, como é conhecido o terreiro Zô Ôgodô Bogum Malê Seja Hundê, da cidade de Cachoeira (a 110 km de Salvador), no Recôncavo baiano, está sendo ameaçado pela especulação imobiliária. Segundo denúncias de entidades ligadas ao culto afro e do povo-de-santo de Cachoeira, parte da área da Roça de Cima, que deu origem ao tradicional terreiro, está sendo desmatada para dar lugar à construção de um loteamento residencial. Para os religiosos, embora esteja numa área particular, a Roça de Cima, onde os mais antigos faziam celebrações, é uma área considerada sagrada e por isso deve ser preservada.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) enviou técnicos ao local e notificou o proprietário da Fazenda Altamira, o advogado Ademir Passos, que paralisou as obras do loteamento. Fiscais do Ibama também vistoriaram a área no último sábado, dia 2, mas ainda não foi divulgado relatório sobre possíveis crimes ambientais. O Seja Hundê está em processo de tombamento pelo Iphan desde 2008 e é um dos mais importantes terreiros de candomblé do País.

A demolição parcial da Roça de Cima, que faz parte da Fazenda Altamira, começou no último fim de semana e provocou uma série de protestos dentro e fora da comunidade do povo-de-santo. “Os donos sempre permitiram que se fizessem as obrigações na Roça de Cima há mais de 50 anos. Foi o primeiro candomblé que deu origem ao da Roça de Baixo, que existe desde 1878, quando Ludovina Pessoa abriu para a filha dela, Maria Luiza do Sacramento, aí todo mundo passou para o terreiro de baixo, para não separar os jêjes”, explicou Edvaldo de Jesus Conceição, ogã Buda, líder religioso do Roça do Ventura.

Na Roça de Cima, uma área de 12 hectares que pertence à Fazenda Altamira, localizada na Ladeira da Cadeia, não há construções de alvenaria, há algumas árvores no seu entorno e os assentamentos sagrados, onde ainda são feitas as obrigações ao ar livre. Os zeladores do terreiro alegam que várias árvores centenárias e sagradas no culto aos voduns foram arrancadas pelas máquinas. “Foram derrubadas ubaúba, jaqueira, são-gonçalinho, mangueira, sucupira e olicuri, além do aterramento da Lagoa de Nanã, também sagrada. Nós cultivamos as árvores que são consagradas aos orixás”, destacou Buda.

A Fazenda Altamira foi vendida há oito anos ao advogado Ademir de Oliveira Passos, que nega a derrubada de qualquer tipo de árvore do local. Segundo o advogado, a área é de capoeira, com vegetação rasteira e algumas árvores no seu entorno. “A área que eles alegam pertencer ao terreiro, na verdade, me pertence. Comprei a Fazenda Altamira de Antônio Brandão Costa por R$ 110 mil. Vou construir um loteamento com 120 casas numa área que é de pasto, não é mata e nem restinga. A Roça de Ventura está a cerca de 300 metros do local, onde eles celebram os rituais, fora dos limites da propriedade, que possui cadeia sucessória há mais de cem anos’, afirmou."

In: A Tarde
http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=5633055

Um comentário:

De Kaiala disse...

A área desmatada não é de propiedade do senhor Ademir de Oliveira Passos por que o mesmo comprou terras pertencentes ao Seja Hunde. As obras foram embargadas pelo IPHAN e pelo Ibama não tendo ainda a presença da Polícia Federal para barrar a ação que continua sendo executada,tendo já sido construido um barracão que permanece sendo modificado todos os dias, no local mesmo após o tombamento do Terreiro.Quero ver até quando isso cai continuar acontecendo.Povo de Santo ta na hora de cada um deixar de olhar para seus próprios umbigos e só procurarem os irmãos quando precissam e se unirem contra esta estupidez de quem tem poder.A hora de dar um basta é agora.Todos vocês podem cruzar os braços e esperar que seu terreiro também seja invadido.
Vamos agir!