Para bem compreendermos uma iniciação ao vodún, devemos conhecer suas raízes culturais, e assim cautelosamente compararmos com as que se praticam na diáspora, sobretudo no Brasil onde a nação de Ketu serviu de modelo na formação do ëgbë. Assim disponho abaixo a mesma em suas principais etapas conforme é praticada no Benin:
I- O Recrutamento:
É Fá quem indica quem deve ser iniciado ao vodún.
II- A Entrada Para o Hunkpame:
Trata-se de um período em que se passam três meses ajudando no convento no trabalho doméstico e agrícola. Pode-se ir visitar a família, porém, antes de voltar para casa, há um ritual para '' fixar o pé em casa''. Este rito tem lugar na noite e na manhã seguinte. Ao amanhecer, termina. Nesta fase se é Kajekaji (aprendiz). Depois de concluida esta fase torna-se um hunsò /runsó/, o que os nagôs chamam de yawo /iaô/.
III- Hùnxwedoxo e Asihuhu:
Representa a mortificação e a ressureição pelo vodún do hunso. Este passo é realizado 15 anos após o noviciado, e novamente volta-se a ser um kajekaji. O Vodunnon coloca um punhado de terra na mão esquerda do kajekaji, e este a fecha, então pronuncia: “Esta é a terra do ventre de Dan, segure-a, e não a deixe cair”, então, seguem para o interior do convento. Chegando no convento, ele vai para a cama antes do Vodunnon. A sua mão esquerda servirá de travesseiro e de talher, e então, alguém vai levá-lo dentro do Vodúnxo, o mesmo que hùnxo (quarto sagrado), onde só têm acesso o Vodúnsì (esposa do Vodún) kajekaji, que lá irá aprender com a nangbó (uma avó religiosa que ensina) a língua xogbonugbe que vai falar como Nubyoduto.
IV- Hùnfunfon:
A morte e ressurreição do Vodúnsì é feita sete dias após o hunso chegar ao templo. Dorme-se em um colchão especial preparado para esta finalidade e sobre o chão, então, se estende um tapete especial sobre ele, é o símbolo da morte. Ali está o morto; menos o vodún que não está morto. Um hunso é responsável para cada um dos hunso mortos que ali houverem. E canta-se, quando lá pelo final do quarto canto começa a ressurreição pelo vodún. Derrepente levantando-se tomado pelo vodún, começa a dançar ao ritmo do tam-tam na direção de um frango que um hunso traz na mão e o vodún sacrifica com os dentes. E retorna-se para o aprendizado da língua xogbonugbe e da reza com a Nangbo até se concluirem três meses nesta etapa.
Finalmente, vem o ritual do afamèyiyi (tatuagem), quando após sua cicatrização é determinada da data do Sudidé /Sudidê/ (remoção da proibições do Vodún) pelo vodunnon.
V- Sudidé (Sù Ɖiɖè):
É um ritual secreto. Ocorre em um local isolado. Existe nele uma cerimônia de corte de folhas e abate de aves e preparação das folhas. Com as folhas e sangue, prepara-se o colar sagrado com o qual o hunso também se banhará ritualmente na água; os ramos secos de palma Zan (palha-da- costa), irão adornar o seu pescoço e sua cintura, o adorno também envolve a preparação de pintura com caolim e argila vermelha, e as folhas verdes de Palmeira Zan para a cerimônia noturna. Na manhã seguinte, ele vai a fonte em local escondido para o banho de purificação que é o ritual do toyiyi donde se retorna para o hùnkpame cantando e dando graças e louvores.
VI- Axiyiyi:
O rito de ir ao mercado, simboliza o restabelecimento ao mundo profano. Vamos ao mercado para cantar e dançar por três vezes. O vodúnsì senta-se em um tapete e consulta com o vì sobre seu feito de ir ao mercado na frente de três montículos de areia levantada pelo próprio Hunso ajoelhado. Ao montes de areia, que ali simbolizam o Vodún, é depois oferecido aquele vì (noz de kola de 4 gomos) como comida.
VII- Ahwandida (Ahwankenkan):
Esta é a fase final da Iniciação que começa quando retornam ao recinto sagrado, então, vem o rito de guerra onde há um sacrifício e depois a dança e o festejo final.
Este é todo o rito de iniciação ao Vodún no Benin, com origem aja-fon.
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