quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sopros




Sopros

Procure ouvir as coisas com mais frequência, 

O que a voz do fogo significa, 
Ouça a voz da água.
Escute o arbusto em soluços ao vento: 

É o sopro dos antepassados.
Aqueles que morreram nunca nos deixaram: 
Eles estão na sombra que é iluminada e na sombra que se espessa.
Os mortos não estão sob a terra: 

Estão na abundância das árvores, 
Estão nos ruidos da floresta, 
Estão no fluir das águas, 
Eles estão na água que dorme, 
Estão na casa, 
Eles estão no meio da multidão: 
Os mortos não estão mortos. 

Procure ouvir as coisas com mais frequência, 
O que a voz do fogo significa, 
Ouça a voz da água.
Escute o arbusto em soluços ao vento: 

É o sopro dos antepassados, 
Que não nos deixaram, 
Que não estão sob a terra, 
Que não morreram.
Aqueles que morreram nunca nos deixaram: 
Eles estão no útero da mulher, 
Estão na criança que passa e no carvão que se inflama.
Os mortos não estão sob a terra: 

Estão no fogo que é apagado, 
Estão na erva que chora, 
Estão na rocha que lamenta, 
Eles estão na floresta, 
Eles estão em casa, 
Os mortos não estão mortos. 
Procure ouvir as coisas com mais frequência, 
O que a voz do fogo significa, 
Ouça a voz da água.
Ouça no mato os soluços do vento, 

É o sopro dos antepassados.
Ele recontou o pacto a cada dia, 
O grande pacto que engana, 
Que vincula-se ao ato de nosso destino, 
Para atos de sopros mais fortes o destino de nossos mortos que não morreram, 
O convênio pesado que nos liga à vida.
A lei pesada que nos une ao ato de respirar, 
Morrendo nos leitos e nas margens do rio, 
De murmúrios que se movem na rocha que lamenta e na erva que chora.

Murmúrios que permanecem dentro da sombra que é iluminada e se espessa, 

Dentro da árvore que estremece, 
Dentro da madeira que geme, 
No fluxo d'água e na água parada, 
De forte que tirou o fôlego dos mortos que não morreram, 
Dos mortos que não passaram, 
Dos mortos que já não estão debaixo da terra.
Procure ouvir as coisas com mais frequência, 
O que a voz do fogo significa, 
Ouça a voz da água.
Escute o arbusto em soluços ao vento: 

É o sopro dos antepassados.



Poema de Birago Diop

Traduzido por Ifabimi.