domingo, 30 de agosto de 2009

As Línguas dos Mercados do Benin.

As cidades do Benin são formadas geralmente por etnias diferentes e com idiomas próprios, ainda que aparentados, onde termos e fonéticas variam, bem como o sentido de uma palavra ou expressão. Para não gerar dúvidas no comércio na hora da compra de produtos, o mercado de uma cidade emprega uma língua padrão para desenvolver sua atividade, uma língua geralmente falada por uma maioria de pessoas da localidade, e que varia de cidade para cidade; talvez essa regra seja produto da atividade comercial de um grupo étnico ao longo do tempo no local.
Vejamos:


CIDADE – LÍNGUA FALADA NO MERCADO:


- AZOVE – ADJA;
- BASSILA – ANI;
- BOHICON – FON;
- COME – MINA;
- DANGBO – GUN;
- DANTOKPA – FON;
- DASSA – IDATCHA;
- DJOUGOU – DENDI;
- GLAZOUE – MAHI;
- GOUKA – NAGÔ;
- KASSOUA – LOKPA;
- KETOU (Ketu) – NAGÔ;
- MALANVILLE – DENDI;
- NATITINGOU – WAMMA;
- NIKKI – BARIBA;
- OUANDO – GUN;
- OUESSE – MAHI;
- PARAKOU – BARIBA;
- PEHUNCO – BARIBA;
- POBE – NAGÔ;
- PORT DE COTONOU – FON;
- SAVALOU (Savalu) – MAHI;
- SEHOUE – FON;
- SEKOU – FON;
- ZOGBODOMEY – FON.

De todos os mercados do Benin o mercado de Dantokopa, é o maior deles.
É muito comum encontrarmos cidadãos beninenses poliglotas, por uma questão multicultural bem difusa, é uma questão de sobrevivência no dia à dia, contudo a língua oficial do país é o francês que é ensinado nas escolas após o aprendizado da leitura e da escrita da língua étnica de um dado grupo.
Nos mercados do Benin, que são típicas feiras-livres, tal as conhecidas feiras-livres dos cariocas, encontra-se de uma infinidade de produtos , inclusive os ritualísticos para o cultos dos voduns.

domingo, 23 de agosto de 2009

Referência aos Nomes do Bogum e do Cejá Undê.

Sacerdotisas do Culto Vodún em Zogbodomey.

O nome do Candomblé do Ventura, ou como conhecido Cejá Undê (Cachoeira, Bahia):

"Zogbodô Malé Bogum Cejá Undê", que ordenada de acordo com o nome do Bogum (obtendo sentido) temos:
“Zogbodô” Bogum Malé Cejá Undê, que seria em fon a frase:
Zogbodo gbò Gŭ ma lὲέ sε ̆ ja Hùn de,
que significa:
“Zogbodo corta (sacrifica ritualmente) para Gŭ, não parta espírito, venha aqui vodún.”
(Considerando-se a palavra hùn um sinônimo de vodún).



O nome do Candomblé do Bogum (Salvador, Bahia), cuja tradição deu nome ao local:

“Zoogodô” Bogum Malé Hundó
Aqui, a palavra Zogbodo parece ter sido alterada para Zoogodô ao longo do tempo, mas a disposição das palavras é coerente para a tradução.

Mas ao considerarmos Zogbodô. Obtemos a seguinte frase:

Zogbodo gbò Gŭ ma lὲέ hundɔ.

Entendendo-se a palavra hundɔ como uma corruptela mahi da palavra fon hundotɔ que significa viajante, temos:

“Zogbodo gbò Gŭ ma lὲέ hundotɔ”, ou seja:
"Zogbodo corta (sacrifica ritualmente) para Gŭ, não parta viajante!"
(Gŭ é um vodún guerreiro e expedicionário em suas batalhas, portanto, um grande viajante).


É importante lembrar que a africana Ludovina Pessoa que foi a fundadora destas duas casas era iniciada para o vodún Gŭ (Ogun dos nagôs).
A referência feita à Zogbodo, um lugar da cidade de Zogbodomey, região de Zou no Benin, não distante de Dassa Zoumé, de Allada e de Abomey, onde se encontra o histórico mercado de Zogbodoxi, talvez possa ser uma referência da origem da fundadora destas casas de candomblé da Bahia, visto que em Zogbodomey há uma matrilinearidade sacerdotal no culto vodún, tal como acontece no Brasil.
Observamos, também, que os nomes destas duas casas fazem referência ao vodún Gŭ e que o vodún Gbὲ Sε ̆ (Bessém, abrasileiradamente) , um dos títulos do vodún Dàn em terra mahi, e que significa “espírito da vida”, seria obviamente o ponto de união entre os mahis na época de suas fundações, como o vodún chefe do culto, um fato que comprova que estas casas são oriundas do culto de Dàn no Benin.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Interdito do Gergelim

Foto em http://www.uniprot.org/


Conta uma lenda, também citada por Verger, que certa vez Sakpata (Saponan – a varíola- em nagô; também conhecido por Obaluayié), e que é conhecido no território dos Tapa por Shankpannan Bokou (de caráter mais malfazejo) ou Shaknpannan Aerou (de caráter mais benfazejo) como é conhecido na cidade de Oron, chegou à antiga capital Yorùbá de Öyö para falar com o oba. Ele estava muito revoltado e dizia que tinha sido expulso da terra do Dahomey e pediu ao rei que fizesse guerra contra o rei de lá, à qual pedido, o oba se negou por mais que Sakpata lhe implorasse.
Vendo que não conseguiu o seu objetivo naquele reino, largou ao chão algumas sementes de njamati (em Nagô) ou agbò (em língua mahi) ou akan maku (em fongbè), gergelim ou sésamo (Sesamum indicum), juntamente com uma corrente na qual dependuravam-se tesouras, e desapareceu como se fosse uma miragem.
Passados alguns dias as pessoas daquele reino começaram a ser atacadas pela varíola, uma após à outra. O oba então resolveu consultar o oráculo sagrado para ver o que se podia fazer, e foi orientado para que fizesse alguns preceitos e pegasse as tesouras largadas por Sakpata e as colocasse em água, porquê aquela água é que teria o poder de curar a doença lançada naquele reino. Assim foi feito, e os resultados eram positivos, embora a doença já tivesse se espalhado. Foi o começo do culto do òrisà Saponan em terra nagô.
Bem, o objetivo desta lenda é observar que o interdito do uso de gergelim (que no Brasil, em Miami e na França é muito utilizado na panificação de croissants) no período das festas e da iniciação deste vodún, em candomblé de Mina Jeje no Brasil, bem como o do plantio e do uso do mesmo na roça de candomblé de Jeje Savalu (e ele é o rei desta nação), surge à partir desta lenda, pois, tanto no candomblé, quanto no culto ao vodún africano ou diasporano, a lenda ou a história é quem explica o porquê de um rito, de um preceito ou de um interdito, e esse é um deles. O mesmo interdito é observado no culto nagô de Saponan. O gergelim simboliza o mal da varíola lançado por sobre a terra, um mal que só Sakpata pode curar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Akohun

Este é o Manjericão de folha graúda (Ocimum basilicum).

Este é o Manjericão roxo de folha miúda.

Este é o Manjericão branco de folha miúda (Ocimum americanum). Foto em: http://www.missouriplants.com

Planta muito conhecida no Brasil sob o nome de Manjericão ou Manjericão Branco (Ocimum basilicum, L.) e no Benin sob o nome de akɔhun ou kɔhun em fongbè (Língua Fon) e em maxigbè (Língua Mahi), e Késukésu em Gungbè (Língua Gun).
O sumo (amasìn) das folhas e do caule do akɔhun, além de antitussígeno e anticatarral, é muito empregado em gripes e resfriados, é antiespasmódico, sudorífero e carminativo; também serve para o tratamento de otalgias, de dores no peito, dores do cólon e como antiespamódico em geral; para febres e convulsões, dores de cabeça, diarréia crônica e desinteria; para tratamento da hemorragia nasal e tratamento da gonorréia, também é utilizado para lavagem vaginal quando obtido socado com sementes de Aframomum melegueta e coado, tal assepsia externa tem o objetivo de prolongar o período de gravidez, em determinados casos.
Quando obtemos seu sumo socando folhas de Alchornea cordifolia, Cymbopogon citratus, e sementes de Elaeis guineensis, temos um poderoso medicamento fitoterápico para o tratamento da depranocitose.
Para os casos de esplenomegalia juntamos com folhas de Heliotropium indicum, Hildegardia barteri, Commifora africana, e Croton zambesicus, então colocamos em decocção, obtendo desta forma um banho para tratar a doença.
A gonorréia, a infecção urinária e a nefrite são tratadas com a decocção (infusão fervida) de suas sementes; seu sumo amornado combate otites e sinusites.
No Benin Central as infusões de manjericão são muito usadas para banhar crianças, pela manhã e à noite, para protegê-las das picadas de insetos.
É uma planta muito utilizada em temperos da culinária doméstica, principalmente para temperar a carne.
O odor que exala esta planta não é muito apreciado por ofídeos, servindo para afastá-los do ambiente interno, principalmente.
O manjericão ou manjericão branco é utilizado em banhos rituais, vários preceitos de vodún, e um dos quais de conhecimento “somente” do vodunnon.

domingo, 9 de agosto de 2009

Azizà Vodún.

Foto por Ifabimi

Certa vez um caçador que emigrou para uma determinada área bem florestada, estranhou por que a caça estava à cada dia que passava mais reduzida, num dia em que caçava no interior de uma floresta, onde aprofundou-se, e sem ouvir sequer um ruido, voltando-se depara com um ser pequenino, tipo anão, de olhos luzentes e avermelhados como brazas vivas, era Azizà, grande amawato (curandeiro), azètɔ ́(feiticeiro) e protetor dos animais e plantas das florestas que se apresentou e lhe perguntou o que ele fazia ali? O caçador respondeu que estava em busca de caça, porquê estava com fome. O pequeno ser, então, disse que da próxima vez que voltasse, troussesse dois frangos para comer, mas que lhe faria um “bò” para que nunca faltasse comida em casa, já que fazia muitos e com distintas finalidades. Mas o que seria o tal “bò”?
O caçador muito assustado com tudo isso, voltou para casa pensando como poderia levar dois frangos se somente tinha um galo e uma galinha?
Chegando em casa, para seu maior espanto, sua galinha botara muitos ovos, e alguns chocaram, e dalí se pôde tirar os frangos e levar para a floresta para que aquele gênio lhe preparasse o “bò” para sua prosperidade. O caçador penetrou na mata e assobiou chamando Azizà que lhe entregou uma estatueta esculpida em madeira, e lhe ensinou como tratá-la. Ele retornou com o “bò” e a partir dalí suas criações e campos cultivados prosperaram incessantemente, então o “bò” passou a ser adorado como objeto de culto vodún que desempenha funções místicas específicas.


(Aziza é um vodún anão das florestas da África Ocidental, que confere grande força e poder com a capacidade de curar os homens através de seu excepcional conhecimento das ervas.)
Imagem: Azizà por Cyprien Tokoudagba, Museu de Abomey, no Flickr.

Aziza (Poema)
Aziza, clarividente espírito nos profundos abismos. Nem seus pés ou mãos deixam vestígios. Na trilha dos volumosos arbustos intercalados, sem cortes, sem ferramentas ou pirilampos na noite. Seu corpo e sua mente passaram por moradas do medo, trilhas iluminadas pelo escuro opaco e preto para entrar no reino cobiçado, mas de desconhecidos gênios.
Aziza, tua lenda alimenta várias histórias, canções e contos, e para a conta do seu destino para sempre enganados. A série de mistérios brota na lenda ancestral. Quem reforça o seu passado e seu personagem reanima a contesta.
Em um solo úmido ou madeira podre, enlameada, na floresta ou sobre os montes nus, a chuva é a suspeita de tuas virtudes e de seu colorido, de seu nada e de seus feixes de madeira morta.
Em seu pensamento e seus gritos de pesados silêncios, algumas glórias ao segredo de sua medida. Outros afirmam a fúria de sua ira. Mas para todos, és uma estadia de profundidade desconhecida.
Seu conhecimento das plantas, Aziza, faz da floresta, o maior hospital de Deus, que sábio pára, para assistir na madrugada ou à noite. Você confia na serpente que levanta a folha e faz os mortos retornarem à vida, desde o sapo.
Em pálida tristeza, por vezes o guerreiro procura sua ajuda, que é de uma forma desconhecida de todos os homens.
Na palma do Iroko Centenário você recolhe a água, que o céu em misericórdia enviou ao seu pedido. A procissão do vento acompanha o seu produto, e o sopro de suas localizações em passos surdos sem tentar manter o seu legítimo lugar.
Invisível ao homem, com seu talento e sua íris, é Aziza no seu mítico, vagando longe dos perigos. Tu visitas a nossa coragem em nossas entranhas, forja envergonhada, e é eleito um prodígio em sua volta, enquanto que transformou.
De sua força, eles têm uma grande consciência, mas em sua memória, eles perderam a faixa, despossuídos pelo véu do passado, do cordão umbilical da sobrevivência. Eles, seus poderes e seus dons para proclamar os benefícios.
Da sua boca a palavra que alivia e cura, de suas mãos, a receita que se refere à doença. Com base nisso, eu baseio a minha crença - Aziza - na sua existência, feito desfoque e mistério que não sai.
Aziza, o espírito do gênio, continua a ser aquilo que sempre foi.
(Por: Fiangor, Rogo Koffi. Traduzido para o português por Ifabimi.)

sábado, 1 de agosto de 2009

Os Mistérios de Dassa Zoumê

N. Sra. de Arigbo. Foto em http://www.pbase.com/bmcmorrow/ncbenin&page=all

Foto em http://image50.webshots.com

Dassa Zoumê, fica localizada no território Mahi no Benin, está rodeada por 41 colinas, sagradas e dedicadas as divindades tradicionais, e lembramos que 41 foram as leis à época do Reino do Dahomey (vide postagem do Rei Agadja). Uma das colinas, em fato mais recente, é dedicada à Virgem Maria devido à uma aparição numa gruta do local. A maior delas é denominada “Dignidade”.

“(...) O Folclore e as danças tradicionais são muito desenvolvidos. Cada aldeia ou cidade distrito tem, pelo menos, um grupo folclórico. Os principais encontrados são: Zinli, o Toba e os Mahi Tchègoumin, dos Fons de Paouignan, Gbaffo, Awaya, Soclogbo, Gankpétin, Togon e Zouto, Guba, o Ogou, o Adjarakpa, o Bolou e o Kpodoro entre Idaatchas de Loulé, de Lema, do Agao de módja-Gangan, Tagui, e de Kere Daho.

De um ponto de vista religioso, as religiões tradicionais são as primeiras conhecidas na cidade. Estas foram essencialmente a história da Terra Prometida e do êxodo. Irritados com o comportamento de homens que habitaram a cidade de origem, os deuses e os chefes sacerdotes foram forçados a emigrar para as terras menos corruptas. A alta vibração espiritual gerada por Dassa a designa para os devotos como sendo a terra prometida. Assim, foi instalado Ogun, divindade do ferro; Sakpata a divindade da varíola; Arira (Ayra) ou Shango, a divindade dos raios e trovões, e seus respectivos templos. Enquanto nesta terra acampam os orixás que correram para conquistar outras terras e tomaram o nome de vodún uma vez que o culto chegou em Abomey e no sul do Benin antes de os adeptos embarcarem (forçados) para as Américas e propagarem seus cultos para todo o mundo.
Para além destas religiões tradicionais e puramente africanas, coexistem as importadas de várias denominações, tais como o catolicismo, o protestantismo, as igrejas evangélicas, e as igrejas cristãs do céu (católicas) e o Islã.

As vibrações caracterizam muito a mística cidade de Dassa e significa que todas as grandes peregrinações de quase todas as religiões têm lugar em determinado momento. Assim, Dassa é a maior e mais famosa peregrinação à África Ocidental:
A peregrinação mariana de Nossa Senhora de Arigbo em Dassa-Zoumé (como a peregrinação de Lourdes, na França). Ela atrai milhares de pessoas, e decorre de uma aparição da Virgem, como em Lourdes com Bernadette de Soubirous. É a igreja de peregrinação a Assembléia de Deus, a menor em adeptos, mas é igualmente notável a peregrinação da Celestial Igreja do Cristianismo (o profeta é um filho de Dassa), e da peregrinação da religião tradicional Aziza. Em breve também haverá peregrinação de seguidores do mundo inteiro do vodún Sakpata.

Não é fabuloso que milhas de colinas circundam Dassa?! Cidade de relíquias, elas representam poderosos centros de cultos místicos. Assim:

- Na Colina Agbanou foram "esculpidos pela natureza" os signos do Fá, e é aqui que passam “todos” os estudantes do Fá, sejam iniciados no Benim ou em países vizinhos.

- Na Colina Omandjagoun encontramos:

O Museu Ecológico Yakà (existência de objetos-vestígios da história de Dassa );
O Templo de Ogun, sede onde se reúnem a maioria dos objetos de culto de Ogun, divindade da caça e do ferro.

- Okè-gnitè (Montanha da dignidade), o pico mais alto de Dassa, é repleto de relíquias e restos de vidas passadas.

- A leoa deitada Miniffi, morro parecido com um leão devorando sua presa, há esculturas na rocha.

- A caverna Arigbo onde há a peregrinação de católicos.

- A colina Fragba (sede mundial da divindade Sakpata), onde historicamente é o berço do culto do vodún Sakpata.”
(In: História, tradição e religião: os mistérios de DASSA http://okuta.cfun.fr/dassa.html)

Herskovitz em sua “Narrativa Daomeana”, reproduz uma lenda conhecida no Fá que expõe o porquê do nome “Dassa” e a origem do culto de Sakpata.
A lenda conta que no começo do mundo, primeiramente foram criadas as árvores (atin) por Máwu e que Loko'tin (Iroko), a Gameleira Branca, por ser o próprio vodún Loko em sua forma atinmè (dentro do árvore), veio sozinha do céu, depois foram criados os animais e o homem. Os primeiros homens cultivavam a terra e caçavam. Nos primórdios da existência humana haviam dois caçadores denominados Dasa (Dassa) e Agbanli, que conheciam a árvore que veio sozinha do céu, e certa vez necessitando de sorte na caçada, chegaram a árvore e viram um adjalala (pote de barro) ao pé da mesma e disseram que se desse a eles boa sorte na caçada, encheriam, em agradecimento, o pote com sangue da caça e também aspergiriam aos seus pés, e assim aconteceu, tornou-se farta a caça e depositavam ali suas oferendas. Costumeiramente Dasa oferecia ao pote e Agbanli “aos pés da árvore” (atinsa). Um dia Dasa teve que partir acompanhando os seus, e deixar Agbanli, mas o que fazer com o vodún ao qual deveriam cumprir o ritual? Então resolveram dividir, Agbanli ficou com o Loko'tin, já que ficaria por ali, e posteriormente originou o culto de Hevioso, e Dasa partiu dali carregando o adjalala para onde é a atual cidade de Dassa, que deu origem mais tarde ao culto do vodún Sakpata.
Esta lenda também faz, de certa forma, entender a razão de serem feitos sacrifícios aos voduns dentro do culto. A oferenda em geral e a princípio, surge como uma forma de agradecimento por se ter o que comer.

Verger cita em uma de suas obras que coletou em Dassa Zoumê uma lenda que faz referência a origem do culto de Sakpata naquela localidade, em Vedji. Diz a lenda que certo dia um caçador de nome Mölusi em sua tarefa habitual, viu uma corsa (Agbanli) e mirou com sua flecha, eis que a corsa levantou uma das patas dianteiras e derrepente tudo escureceu em pleno dia, pouco depois clareia novamente, e ao invés da corsa surge Aziza (que seria o Aröni para o povo Yorùbá). Aziza ofereceu a ele um amuleto poderozo, uma erva que deveria ser plantada próxima à sua residência e um apito com o qual deveria invocar-lhe em caso de necessidade.
Passaram-se sete dias depois que Mölusi plantou a erva na localidade onde morava e a epidemia de varíola começou a invadir aquele lugar, então ele invocou Aziza com o apito, e quando Aziza apareceu reclamou com ele do que estava acontecendo, ele então respondeu que não era culpado disso, porquê era coisa do vodún Sakpata. Deveria instalar um local de culto para Sakpata e iniciar pessoas para o culto dele. Aziza descreveu ainda como deveriam ser iniciadas estas pessoas e como agradar a Sakpata; revelou suas folhas e seus interditos; como poderia curar as pessoas que foram acometidas pelo mal, e até mesmo ressuscitar as que morreram devido à varíola, enfim, fazendo agora do caçador um vodunnon (sacerdote de vodún). É importante observarmos nesta lenda que o primeiro vodunnon de Sakpata era denominado Mölusi, que significa aquela pessoa que foi iniciada para Mölu (Ömölu; Aholu).