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segunda-feira, 5 de junho de 2023

O Rosário Hindu de Osibata.

As sementes da Nelumbo nucifera, popularmente conhecida como Lótus, Osibata pelos nagôs, Kamal Gatta pelos Hindus são utilizadas no Brasil na confecção de rosários de cura, de pretos velhos e em determinadas receitas para uso litúrgico e medicinal, nestes dois últimos casos também têm aplicação as suas folhas. 

Alguns versos do Ifá fazem menção às folhas de Osibata e o Candomblé costuma utilizá-las nas lavagens rituais dos búzios que servem para jogo em consultas às divindades.

Com estas sementes é confeccionado no hinduísmo um rosário (Japa Mala) em quais sementes são entoados mantras sagrados da deusa Lakshmi por ocasião do ritual da Puja, daí  a referência Kamal Gatta Mala ao rosário.

Um aspecto que devemos destacar é o de que a lótus é uma linda flor, e Lakshmi também é a deusa da pureza, da beleza e do amor, essa beleza também é interior. A flor mantém-se sempre limpa e bela, resistente às correntes aquáticas e à lama, inclusive quando quando é abundante no manancial.

Sementes de Osibata



domingo, 4 de junho de 2023

Os Búzios da Deusa Lakshmi.

Os cauris de coloração amarela são utilizados há milhares de anos na Índia na ocasião do Lakshmi Puja, em devoção à deusa Lakshmi, portadora da boa saúde, da prosperidade e do amor, são referidos como kaudi Lakshmi (cauris de Lakshmi), possuem a sua cor, o amarelo, a cor do ouro do qual é a propiciadora.

É muito comum vermos jóias como pulseiras e braceletes de ouro maciço onde se destacam alguns cauris nas imagens das mais diversas formas de Lakshmi nós templos indianos.

Os indianos após a o ritual da puja guardam consigo os vinte e um cauris consagrados, em um saquinho de tecido fino, geralmente no quarto onde dormem, em um local alto, rogando as bençãos da deusa para aquela casa.

Textos sagrados védicos elogiam os cachos dos cabelos do Deus Shiva (irmão da deusa Lakshmi) observando que são lindos como cauris.

Os búzios que por um bom período eram o dinheiro no oeste africano, vinham do oriente, onde são abundantes no mar, especialmente na Índia, onde em algumas localidades, igualmente, já foram utilizados como moeda corrente.




segunda-feira, 22 de maio de 2023

São Bartolomeu de Maragogipe e o Vodum Dã.

"MATRIZ DE SÃO BARTOLOMEU – MARAGOGIPE, BAHIA"

"Essa igreja foi construída no ponto mais alto de uma pequena península situada às margens do rio Paraguaçu, ao interior da Baía de Todos os Santos. A paróquia do local existe desde 1640, e consta que a construção da atual matriz se iniciou em 1643, por iniciativa do colonizador português Bartolomeu Gato. Foi a partir dessa construção que nasceu a atual cidade de Maragogipe.

A construção da igreja levou vários anos, e a população que se formou no local não economizou esforços para embelezar o templo. Há o registro de que, no ano de 1655, ocorreu um conflito com alguns indígenas da tribo ‘tupiguaém’ (que habitavam mais ao sul), e, num momento de luta, o filho de Bartolomeu Gato foi morto com uma flechada no peito. Entretanto, como de costume, esses desentendimentos tinham curta duração, e a vila de Maragogipe logo voltou à vida normal.

Essa igreja é um destacado ponto de interesse histórico, pois sua fachada, bem como seu interior, se lembram o estilo da Antiga Sé Primacial de Salvador, que infelizmente foi demolida no início do século XX.

Os portais são feitos de pedra de cantaria entalhada, e as torres são terminadas em pirâmides simples, revestidas de cacos de azulejos e de conchas, no estilo típico de igrejas baianas do século XVII.

O interior é guarnecido por altares em estilo neoclássico, que provavelmente foram incorporados à igreja no século XIX.

Todos os anos, no mês de agosto, ocorre uma grande celebração em louvor ao padroeiro São Bartolomeu, um dos doze apóstolos de Cristo."

In: https://sanctuaria.art/2015/04/01/matriz-de-sao-bartolomeu-maragogipe-ba/

 

Os otutus que elevam Dangbé (dangbê) nos terreiros de Jeje são geralmente decorados como as antigas torres de igrejas de Salvador, com cacos de azulejos e/ou conchas, assim como os da igreja matriz de Maragogipe. O Otutu não é somente o local de oferendas, mas um marco que caracteriza a identidade de um povo de origem Adam, assim como os hulas. Vide a postagem sobre Dangbé neste blog.



"A história de São Bartolomeu e seu martírio por esfolamento"

"Antônio Nunes Oliveira"


“Filipe vai ter com Natanael e lhe diz: ‘É Jesus, o filho de José de Nazaré’”. Depois de externar sua sinceridade e aproximar-se do Cristo, Bartolomeu ouviu dos lábios do Mestre a sua principal característica: “Eis um verdadeiro israelita no qual não há fingimento” (Jo 1,47).

A partir desse dia, Bartolomeu, mencionado como Natanael (Origem do Hebraico com a junção de duas palavras: Netan’el = nathá + El, “ele deu” e “Deus”, significando assim, “Deus deu”, “dom de Deus” ou “presente de Deus”) tornou-se discípulo de Jesus Cristo. A Igreja entende a partir das Sagradas Escrituras que Bartolomeu foi escolhido por Cristo a partir de um momento “chave” da sua vida em que Cristo o observou e só Ele e Bartolomeu sabem o que passou em seu coração.

Quando Cristo o chamou, logo após fazer o elogio do Israelita Verdadeiro, Bartolomeu o responde com profundo respeito e admiração: “Como me conheces?” (Jo 1, 48a); enquanto Jesus o responde: “Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas sob a figueira“(Jo 1, 48b). Bartolomeu então, sente-se comovido e tocado pelas palavras de Jesus. O texto nos leva a perceber os sentimentos de Bartolomeu, que se sentiu compreendido por Deus e compreende que este Homem que o chama, sabe tudo acerca da sua vida, Ele sabe, conhece, e ensina o caminho da vida, a este Homem pode realmente confiar todas as suas preocupações e toda sua vida; e assim responde com uma confissão de fé sincera e límpida, dizendo: “Rabi, tu és o filho de Deus, tu és o Rei de Israel” (Jo 1, 49).

Nos Evangelhos sinópticos, cita-se que Bartolomeu ou Bar-Talmay (filho de Talmay em Aramaico) nasceu em Caná da Galiléia, a pequena aldeia onde Jesus transformou a água em vinho, tendo vivenciado uma infância e adolescência comum aos homens de sua época.

Bartolomeu conviveu com Jesus, tendo presenciado milagres e vivido conforme a sua profissão de fé. Sua vocação é apresentada de forma concreta, real e viva no testemunho da fé e atividade apostólica. Bartolomeu não nos ensina apenas uma profissão de fé em Cristo, mas sua assinatura é clara: todo nosso conhecimento e ciência acerca de Jesus é vã se não a experimentamos; ou seja, é adentrar nas águas profundas da nossa Fé, é viver o autentico Evangelho em nossas vidas.

Após a ressurreição de Cristo, não há muitos relatos detalhando sua atividade apostólica. Em 2006, o Papa Emérito Bento XVI, na Audiência Geral do dia 04 de Outubro, abordou sobre São Bartolomeu:

“Da sucessiva atividade apostólica de Bartolomeu-Natanael não temos notícias claras. Segundo uma informação referida pelo historiador Eusébio do século IV, um certo Panteno teria encontrado até na Índia os sinais de uma presença de Bartolomeu (cf. Hist. eccl., V 10,3). Na tradição posterior, a partir da Idade Média, impôs-se a narração da sua morte por esfolamento, que se tornou muito popular. Pense-se na conhecidíssima cena do Juízo Universal na Capela Sistina, na qual Michelangelo pintou São Bartolomeu que segura com a mão esquerda a sua pele, sobre a qual o artista deixou o seu auto-retrato. As suas relíquias são veneradas aqui em Roma na Igreja a ele dedicada na Ilha Tiberina, aonde teriam sido levadas pelo Imperador alemão Otto III no ano de 983.

Para concluir, podemos dizer que a figura de São Bartolomeu, mesmo sendo escassas as informações acerca dele, permanece contudo diante de nós para nos dizer que a adesão a Jesus pode ser vivida e testemunhada também sem cumprir obras sensacionais. Extraordinário é e permanece o próprio Jesus, ao qual cada um de nós está chamado a consagrar a própria vida e a própria morte.”


Cena do Juízo Universal, Capela Sistina. Autor: Michelangelo. São Bartolomeu que segura com a mão esquerda a sua pele resultado de seu martírio, esfolado vivo.
O martírio do apóstolo ocorreu na cidade de Albanópolis, hoje Derbent, na região russa do Daguestão, às margens do mar Cáucaso. A tradição conta que ele teria sido morto por ordem do governador local, o qual não aceitava a pregação e a conversão dos nativos ao cristianismo. Sua morte por esfolamento é considerado o ápice de sua fé, sendo assim, o seu martírio vermelho.

O esfolamento é um método de tortura relatado desde 800 a.C no norte da África. A vítima era preparada para que o tecido epitelial se soltasse mais facilmente, seja por meio de panos quentes sobre a pele ou por deixar a vítima por horas abaixo do sol quente e escaldante, como faziam os Astecas. Métodos mais extremos como o de cozinhar a pessoa em um caldeirão com água fervente e/ou óleo, sem deixá-la padecer, também já foi relatado durante a Idade Média.

A pele era demarcada por meio de uma faca afiada, pois se dizia que a dor era amenizada. Conta-se que os turcos seljúcidas, mestres na arte da esfolação, preferiam tal técnica pois a tortura poderia perdurar por mais tempo. Faziam cortes longos e horizontais, preferindo retirar pedaços grandes de pele.


Dessa forma, a vítima perdia uma grande quantidade de sangue, sentia muito frio pois, a pele também participa da regulação da temperatura, sendo nossa primeira defesa e parte do sistema regulador da homeostase (equilíbrio dos sistemas e das funções corporais) em uma linguagem fisiológica. Por isso a hipotermia era uma das causas das mortes decorrentes de esfolamento.

Algo indubitável que acontecia era a perda da consciência e choque. Como os algozes faziam de tudo para manter a vítima viva do início ao final, mantinham as vítimas despertas por meio de tormentos físicos (socos, queimaduras, colocar a pessoa de cabeça para baixo, etc). Choque hipovolêmico e desmaio não tardaria em tal situação. Alguns relatos mencionam que a maioria das vítimas por esfolamento perdiam a consciência antes que a pele do torso fosse removida.

A festa litúrgica de São Bartolomeu é celebrada no dia 24 de agosto, dia provável de sua morte. As igrejas da Europa oriental são muito gratas a São Bartolomeu pelo seu testemunho de fé e santidade. Frutos esses que duram até os dias de hoje…

In: https://anatomiaefisioterapia.com/2020/04/17/a-historia-de-sao-bartolomeu-e-seu-martirio-por-esfolamento/.       (22/05/2023).

 


O principal motivo do sincretismo de Dàn (Dã) com São Bartolomeu é devido ao martírio deste Santo as serpentes perdem as peles enquanto estão crescendo, lógico não se trata de uma comparação com o sofrimento do santo em vida,  porém, do perder a pele.

E como eu me referi no último post sobre o Bumba-meu-Boi que antigamente existia na cidade de Maragogipe, lá vai o touro preto na frente...  "Resistência". São Bartolomeu, 2022. Assista ao vídeo:
https://youtu.be/Zwxn5Dpya-k