sexta-feira, 31 de julho de 2009

Umbanda Patrimônio Imaterial do Rio.

Foto em www.jusbrasil.com.br

Agora foi a hora e a vez da Umbanda! Em dia 22 de julho de 2009, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, aprovou mais esta Lei Estadual nº 5514/2009, de autoria do Deputado GILBERTO PALMARES (PT-RJ) que torna a religião Umbanda um patrimônio imaterial do RJ.
Parabéns Deputado GILBERTO PALMARES!!!


Vejam na Íntegra:


LEI Nº 5514, DE 21 DE JULHO DE 2009.

DECLARA A UMBANDA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:


Art. 1º Declara como patrimônio imaterial do Estado do Rio de Janeiro a Umbanda, religião genuinamente brasileira.

Art. 2º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.


Rio de Janeiro, 21 de julho de 2009.


SERGIO CABRAL
Governador



PROJETO DE LEI Nº 2274/2009
EMENTA: DECLARA A UMBANDA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Autor(es): Deputado GILBERTO PALMARES


A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
RESOLVE:
Art. 1º - Declara como patrimônio imaterial do Estado do Rio de Janeiro a Umbanda, religião genuinamente brasileira.

Art. 2º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.



Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 13 de Maio de 2009.



GILBERTO PALMARES
Deputado Estadual


JUSTIFICATIVA

Trata-se de Projeto de Lei que "DECLARA A UMBANDA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO."

As raízes da Umbanda estão na fusão da cultura da ancestralidade indígena com a da africana, tendo ela sido primeiramente manifestada em uma sessão kardecista a 15 de novembro de 1908, e posteriormente estruturada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio Fernandino de Morais. Cabe ressaltar que a umbanda é uma religião genuinamente brasileira.

É uma manifestação religiosa baseada na caridade, na igualdade entre os seus filhos e no cuidado para com os humildes, visando sempre ao bem e à evolução espiritual. É baseada na manifestação de espíritos de várias linhas - Caboclos, Pretos-velhos, Crianças, Exús e ciganos, como sendo as principais, os quais vêm incorporar nos médiuns para auxiliar seus irmãos encarnados a compreenderem melhor a si mesmos e ao próximo, e a evoluírem através de ações benéficas para com a humanidade. Mantém-se na Umbanda o sincretismo religioso com o catolicismo e seus santos, assim como no antigo Candomblé dos escravos, por uma questão de tradição, pois antigamente fazia-se necessário como uma forma de tornar aceito o culto afro-brasileiro sem que fosse visto como algo estranho e desconhecido, e, portanto, perseguido e combatido.

Na Umbanda os Orixás são energias, forças da natureza que estão presentes em todos os lugares, influenciando as pessoas e irradiando energias que mantém o equilíbrio natural dos elementos em relação ao universo. Uma interpretação mais objetiva coloca os Orixás como energias emanadas da divindade, como subdivisões da unidade perfeita de Deus e não, como muitos pensam, como espíritos que progrediram muito espiritualmente, não necessitando mais do processo reencarnatório, e que para darem continuidade no seu progresso espiritual possuem como missão organizar e orientar uma rede de espíritos com menos progresso espiritual do que eles, ajudando-os a progredirem espiritualmente. Estes espíritos são, na verdade, os guias espirituais.

Pelo exposto, conclamamos os representantes do Povo Fluminense a aprovarem a presente proposição, por se tratar de justa homenagem a uma religião genuinamente brasileira.

domingo, 26 de julho de 2009

Candomblé Patrimônio Imaterial do Rio.

DEPUTADO GILBERTO PALMARES (PT - RJ) Foto Alerj.

O candomblé agora é Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, graças à uma lei de autoria do Deputado Estadual GILBERTO PALMARES do PT - RJ, aprovada pelo governo do Estado.
Isto enfraquece a forte onda de intolerância religiosa, discriminação explícita ou implícita sofrida por seus adeptos, pesquisadores, simpatizantes e espaços sagrados. Agora o candomblé tem que ser preservado e respeitada toda sua manifestação cultural dentro do Estado do Rio de Janeiro, e que sirva de exemplo para outros Estados da União.
Parabéns ao DEPUTADO GILBERTO PALMARES!!!

A notícia foi editada pelo Jornal O Globo e está na Internet de 17 de Julho do corrente ano. Vejam:

"RIO - Religiosos e pesquisadores comemoraram nesta sexta-feira a decisão do governo do Rio de declarar o candomblé um patrimônio imaterial do estado. A lei, proposta pelo deputado estadual Gilberto Palmares (PT), foi sancionada pelo governador em exercício, Luiz Fernando de Souza Pezão, e publicada quinta-feira no Diário Oficial. Projeto semelhante, que trata da umbanda, já foi aprovado na Alerj e aguarda sanção do governador.

A museóloga e pesquisadora de Cultos Afro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Márcia Netto comemorou:

- Grande notícia! Acho que muda muita coisa para essas religiões que, até há pouco tempo, eram vistas como folclore ou seita. Vai ajudar a diminuir o preconceito, dar credibilidade e ajudar a desmistificar. O preconceito contra o candomblé vem desde a colonização.

Gilberto Palmares espera que a lei ajude a reduzir a intolerância religiosa:

- A partir do momento em que os cultos viram patrimônio, eles passam a ser mais divulgados, diminuindo a violência -- afirmou o deputado."

(In: http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/07/17/candomble-patrimonio-
imaterial-do-estado-756872936.asp)

sábado, 18 de julho de 2009

O Uso do Afoma em Tempo de Gripe Suína.

Foto em Objetos Educacionais (MEC/BR) http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/7505

Neste período de Gripe Suína que atravessamos, e à qual praticamente todo o mundo está vulnerável, até que soluções definitivas surjam, através do desenvolvimento de uma vacina eficaz, o uso do afoma é muito indicado para uma boa resistência pulmonar à esta forte gripe, mas desde que não seja retirada esta planta de árvore de espinhos, que segundo a tradição oral Jeje poderia causar malefício ao doente, ainda que de uma árvore de espinhos de bom uso terapêutico, é importante saber-se a procedência do vegetal. O afoma também guarda propriedades medicamentosas -bem como as místicas para a nossa cultura religiosa- da árvore de onde procede.
As folhas, que para problemas pulmonares sempre deverão ser utilizadas frescas (nunca secas), devem ser bem lavadas com água pura e socadas (trituradas) com um pouco de água pura e fria, antes filtrada e fervida, a proporção de 1/1 em volume, e toma-se o sumo (amasìn), coado, cerca de 1 cálice de 50 ml, por 3 ou 4 vezes ao dia (uso adulto), bem distribuidas as doses; para crianças a dose é a metade da habitual por 3 ou 4 vezes ao dia.
A planta afoma, que é consagrada a Omolu, é uma hemiparasita muito conhecida em diversos países tropicais, e no Brasil é vulgarmente conhecida por “Erva -Passarinho” ou “Erva-de-Passarinho” (Struthanthus flexicaulis).
Procure sempre visitar o médico.

“Erva-de-passarinho
O artigo tem como finalidade descrever o positivismo e o negativismo da erva - de - passarinho num ecossistema.
1. Definição, classificação e origem da Erva-de-Passarinho.
A erva-de-passarinho é uma planta superior, parasita, que ataca geralmente as plantas lenhosas e as árvores, sugando sua seiva e podendo causar até sua morte se não for retirada. A parasita recebeu esse nome porque se espalha com a ajuda de passarinhos: eles ingerem as sementes que são eliminadas mais tarde, junto com as fezes. De acordo com Gêiser [2]
Relação desarmônica ► Interespecífica ► Parasitismo ► hemiparasita
Relação desarmônica ou negativa, quando um dos dois indivíduos é prejudicado na associação.
Interespecífica são relações entre espécies diferentes. Já o parasitismo
acontece em organismos que se instalam no corpo de outros seres para deles extrair alimento. Esses organismos são chamados parasitos, e os seres que lhes servem de alimento e moradias são conhecidas como hospedeiros.
Apesar de não causar a morte, pelo menos imediata, de seu hospedeiro, enfraquece e prejudica suas funções orgânicas, sendo responsável por várias de suas doenças.
Encontramos representantes de parasitas nos mais variados dos grupos de organismos, como vírus, bactérias, protozoários, fungos, vermes, insetos e até mesmo alguns vegetais.
O termo hemiparasita designa, por exemplo, a erva-de-passarinho, por ser uma planta clorofilada, capaz de realizar fotossíntese, mas para isso absorve de outros vegetais a seiva bruta (água e sais minerais retirados do solo). Dizemos, por isso, que essa planta é uma hemiparasita (hemi = pela metade). De acordo com Linhares & gewandsznajder [3]
2. Caracterização da erva-de-passarinho
Família: Loranthaceae Juss
Nome vulgar: Erva-de-passarinho
Nome Científico: Struthantus flexicaulis
Distribuição: Cosmopolita
Bibliografia; [1]
3. Maleficidade da erva-de-passarinho
De difícil combate, a erva emite raízes especiais denominadas haustórios, que penetram no caule e nos ramos da planta hospedeira, sugando-lhe a seiva e causando sua degeneração. Os biólogos não sabem dizer exatamente quanto tempo uma árvore contaminada pela erva-de-passarinho demora a morrer. O tempo de vida da árvore, após a contaminação, depende de sua espécie, da qualidade do solo e de seu nível de estresse, que esta ligada ao local onde esteja fixada e ao nível de poluição do ar no lugar onde viver. [1]
4. Beneficidade da erva-de-passarinho
A erva-de-passarinho, Struthantus flexicaulis, o seu suco das folhas frescas, é recomendado para: Bronquites, pneumonia, pleurisias, hemoptises, dores no peito, pontadas e outras afecções respiratórias. O chá das folhas, por decocção (cozimento): Doenças do útero e hemorragias. [4]
5. Erradicação da erva-de-passarinho
O combate é feito única e exclusivamente através da poda, que deve ser feita preferencialmente durante o inverno, pois as folhas das árvores secam e a praga fica mais visível. A erva de folha graúda, é mais visível e fácil de ser combatida, dificilmente volta a se manifestar sozinha na árvore após esta ser podada. Já a erva de folha miúda volta a se desenvolver caso seja deixada uma única folhinha. Muitas vezes, seu hospedeiro precisa, além da poda, enfrentar uma raspagem. [1]
6. Considerações Finais
A minha opinião é que desta forma podemos de alguma maneira chamar a atenção não só da zona rural como também da zona urbana, no que diz respeito à epígrafe deste artigo.
Verifica-se a simbiose entre a erva-de-passarinho (hemiparasita) e os pássaros. Como também relata à importância do vegetal como planta medicinal. Em contrariedade se vê literalmente a parasitologia colossal da erva-de-passarinho no seu hospedeiro.
Desta forma tento chamar a atenção, do poderio floral que temos em nossas mãos, para sabermos se podemos extingui-la ou preservá-la em nossa biodiversidade.
7. Referências Bibliográficas
[1] DIACUY PAISAGISMO, http://www.diacuypaisagismo.com.br Disponível na internet. Acesso em 28/09/2004;
[2] GEISER, R.Revista Virtual www.jardimflores.com.br/CONSULTAS/erva.html Disponível na internet. Acesso em: 28/07/07;
[3] LINHARES, S & GEWANDSZNAJDER, F. Biologia Atual. 5 edição. São Paulo: Editora Ática, 1995;
[4]PLANTAS MEDICINAIS, www.segredosdosdeuses.com.br/plantas2.htm Disponível na internet. Acesso: 28/07/2007;
Autor: Edglay Lima Barbosa
Profº. Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba-UEPB.”
(In: http://www.webartigos.com/articles/4029/1/erva-de-passarinho-
proliferacao-ou-erradicacao/pagina1.html).

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Forte Influência Jeje na Umbanda.



A Religião Umbanda têm suas raízes no extinto culto de Omoloko, que era um culto que reunia baixo a simbologia nagô sincretizada com os santos da Igreja Católica, diversos grupos africanos bantos e sudanezes presentes no Rio de Janeiro antigo. Esta religião conservou preceitos deste culto mais primitivo e que não cantava louvando suas divindades em português, mas em dialetos diversos, com ênfase para o Quimbundo.
A contribuição do elemento negro sudanez especialmente o Jeje (Fon; Adja) é muito forte dentro do preceito da Umbanda. O desenhar, traçar o risco (denominado ponto riscado) tem sua origem na prática do “veve” de vodún, onde cada desenho é um símbolo que evoca ou simplesmente representa o vodún, ou ancestral. Através do veve são realizadas inúmeras oferendas rituais em ocasiões diversas, um hábito não muito presente no candomblé Jeje Mahi, mas de conhecimento e prática do antigo terreiro de Jeje Dahomey, e que em geral na diáspora tem sido praticado. O veve também é praticado no Benin, Togo, Ghana, República do Congo e Costa do Marfim até os dias atuais, e além do vodunnon, o bokonon também o pratica quando necessário em suas oferendas rituais.
O amasìn (amaci) que a crença umbandista pratica, também é uma prática de origem jeje, não só ritual, mas também como medicamento quando preparado para esta finalidade, com as folhas ou ervas adequadas.
Uma divindade de origem Jeje, uma ninfa, era muito cultuada no Omoloko e relacionada com Oxum, e carinhosamente tratada Mamãe Sinda (sín-da água; dàn-serpente), Mamãe Sinda da cobra coral, sincretizada com N. Sra. da Penha -talvez influência da imagem da serpente aos seus pés e mesmo da presença da Igreja da Penha no Rio de Janeiro- também denominada Oxum da Cobra Coral, que na realidade é um vodún feminino, uma ninfa, metade serpente, metade mulher, uma Mami Wata. Alguns terreiros de Umbanda preservaram a adoração à esta divindade no Brasil louvando-a com cânticos em Língua Portuguêsa.

“Mamãe Sinda como é linda,
Mamãe Sinda, Mamãe Sindá!
Mamãe Sinda vem n'Umbanda,
Mamãe Sinda da Cobra Corá!”

Muitos outros traços de herança Jeje se fazem presentes em muitos terreiros de Umbanda até os dias de hoje, nos tipos de fios de contas (guias) de contas maiores que a conhecida missanga, na forma de se amarrar o pano de cabeça, na roupagem tradicional e simples, que para muitos, lembra a época antiga dos antigos candomblés de Jeje Dahomey.

Glàséma.


Foto em:
http://www.missouriplants.com



Glàséma



(BELDROEGA)


Planta muito conhecida no Brasil e no Benin e de muitas propriedades medicinais, sendo muito utilizada para combater processos inflamatórios, principamente dos rins, com ação analgésica e antitérmica, também é denominada Teresinha, uma variedade da Onze Horas. Apresenta flores de cores variadas, sendo a de flores amarelas e a de flores lilás as mais comumente encontradas no Brasil. Esta planta muitas vezes serve na decoração jardins de casas e lugares públicos, decorando canteiros. É conhecida por Glàséma em fongbè.

“Nome científico- Portulaca oleracea L.
Família- Portulacáceas
Sinonímia popular- Salada-de-negro, caaponga, porcelana
Sinonímia científica- Portulaca marginata Kunth.
Parte usada- Planta inteira
Propriedades terapêuticas- Diurética, laxante, vermífuga, antiescorbútica, sudorífera, colerética, depurativa, emoliente, anti-inflamatória, antipirética e antibacteriana.
Princípios ativos- Ácido oxálico, sais de potássio (nitrato, cloreto e sulfato) ( 1% na planta fresca e 70% na planta seca), derivados da catecolamina (noradrenalina, DOPA e dopamina, em altas concentrações), ômega 3.
Indicações terapêuticas- Depurativa do sangue, disenteria, enterite aguda, mastite, hemorróidas, cistite, hemoptise, cólicas renais, queimaduras, úlceras, inflamação dos olhos.
Outros sinônimos científicos:
Portulaca marginata Kunth.
Portulaca oleracea subsp. Sylvestris (DC.) Thell.
Portulaca oleracea var. opposita Poelln.
Portulaca retusa Engelm.

Outros sinônimos populares:
Ora-pro-nobis, bredo-do-porco, verdolaga, beldroega-pequena, beldroega-da-horta, onze-horas.

Origem:
A literatura é um pouco confusa quanto a sua origem. Tem-se referência de que ela seja nativa da China, Japão, Índia, África e partes da Europa. Outras literaturas trazem referência de que as espécies desta família são originárias principalmente da América ocidental e andina.

Outros princípios ativos:
Mucilagem, saponina, vitamina C (700mg por 100g da planta fresca), proteína, alcalóides (0,03%), glicosídeos, esteróis, óleo essencial, resinas, ácidos orgânicos, ômega 3 (é a planta conhecida mais rica em ômega 3 encontrado em óleos de peixes).

Nome em outros idiomas:
Alemão: Portulak
Espanhol: Verdolaga
Francês: Poupier
Inglês: Purslane
Italiano: Portulaca
Árabe: Bakli, Farfhin
Grego: Glystiritha
Armênia: Perper

Uso medicinal:
A Beldroega é considerada uma planta refrescante. A beldroega tem valiosos minerais, vitaminas, e grande quantidade de ácido salicílico. Em infusões é tônica e depurativa do sangue.
É empregada internamente contra disenteria (principalmente infantil), enterite aguda, mastite e hemorróidas. As folhas são utilizadas contra cistite, hemoptise, cólicas renais, queimaduras e úlceras.
Suas folhas tem propriedades diuréticas e refrescantes. Aplicadas sobre as feridas favorecem a cicatrização e, em decocções, combatem as inflamações dos olhos. Colocando-se folhas de beldroega debaixo da língua ajuda a acalmar a sede.
As folhas também podem ser aplicadas como compressas para acalmar hematomas e inflamações nos olhos.
As sementes são vermífugas poderosas e excelentes emenagogas. O suco é particularmente efetivo, internamente ou externamente no tratamento de doenças de pele.
Indígenas das Guianas usam-na contra diabetes, para problemas digestivos e como emoliente e, externamente, como ungüento para problemas musculares.
Estudos clínicos têm mostrado que esta planta é rica fonte de ácido graxo Omega-3, substância importante na prevenção de infartos e no fortalecimento do sistema imunológico. Devido a presença de catecolaminas em seu extrato aquoso verificou-se também uma ação relaxante na musculatura.
Dosagem indicada:
Diurético (infusão)
Colocar, em uma xícara de água fervente, uma pitada de folhas de beldroega. Passado 15 minutos, filtrar e adoçar o líquido, bebendo-o em duas vezes.

Uso culinário:
As folhas jovens tem um sabor refrescante e podem ser consumidas em saladas ou cozidas ao vapor. As folhas mais velhas podem ser usadas para enriquecer sopas e ensopados. Os talos podem ser consumidos picados para saladas no inverno.

Salada refrescante de verão:
1 alface grande
1 maço pequeno de folhas de beterraba
8 folhas jovens de borragem
3 folhas jovens de tília
4 folhas picadas de melissa
um maço caprichado de folhas de beldroega
1 pepino finamente picado
molho de vinagrete
Lave bem e seque todos os ingredientes, rasgue as folhas se necessário. Misture tudo e adicione o molho de vinagrete.
Adicionar folhas de beldroega no espinafre refogado lhe confere um sabor extra.
Sanduíches feitos com fatias finas de pão preto, queijo cremoso e folhas de beldroega são uma excelente indicação para uma refeição leve e saudável.
A beldroega é ingrediente importante em uma sopa tradicional francesa, a Bonne Femme.

Curiosidades:
Todas as partes desta planta vem sendo usadas na medicina tradicional há séculos em todo o mundo, sendo de 500 AC seu primeiro registro na literatura na China.
É uma planta muito apreciada pelos coelhos.
Outra variedade, a Portulaca grandiflora, é muito apreciada por ser ornamental.
Seu nome genérico Portulaca provém do latim portula que significa pequena porta, referindo-se a maneira de como sua cápsula abre-se. Seu nome específico Oleracea refere-se a seu uso na cozinha.
Na Idade Média era considerada uma planta que protegia dos maus espíritos e com um poder "antifeitiço". Há registro de que um herbalista do século XVI disse que a beldroega esfria o sangue e provoca o aumento de apetite.”

Fonte:
http://ci-67.ciagri.usp.br/pm/ver_1pl.asp?f_cod=21

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Azonadô

Tronco do Azonadô (A folhagem é de coqueiros ao lado).

Azonwanno Vodún dança com seu já.

Azoano adô ou Azonadô- Denominação aportuguesada no Brasil, que é oriunda do nome da Paineira Azonwanno a dŏ (O subidor de Azonwanno; onde o vodún sobe), árvore coberta de espinhos, senão acúleos, e que floresce anualmente, cuja muda teria sido plantada na antiga, hoje extinta, área do Candomblé do Bogum, e trazida por um avô da saudosa Mãe Menininha do Gantois, chamado Salakó, da costa africana; não mais existente no local desde 1979, quando foi -infelizmente- tombada tendo em torno de dois séculos de idade, alegando-se risco e danos as residências da ladeira e substituída pela finada Mãe Nicinha de Loko, por um Flamboyant Amarelo dentro da área que restou do Bogum.
O mito do vodún encerra a capacidade que têm de escalar o tronco de uma árvore coberta de espinhos, como que por magia, já que possui a fama de ser um grande feiticeiro.

O Prof. Vivaldo da Costa Lima registra:
"(...) Do mesmo modo que a falecida mãe-de-santo Runhó do antigo terreiro Jeje do Bogum, terreiro importante ao ponto de dar, como o do Gantois, seu nome a todo o bairro em que se situa - falando da historia de sua casa, dizia: "Tiana Jeje, mãe pequena daqui antes da finada Emiliana, tinha marca da nação no rosto. Tiana veio do tempo de meu pai-de-santo. No tempo em que fiz o santo ainda foi com africano na casa. Já a finada Emiliana era crioula (5). E continuava, saudosista: "A primeira mãe-de-santo era Ludovina, que era africana. Os terreiros de Jeje já acabaram tudo, Carabetã, Campina de Bosqueja, Agomenã, tudo..."
Mas a casa do Bogum continua, apesar da melancolia com que vodunsi RUNHÓ lamentava os tempos pretéritos "dos africanos", a manter a tradição de ser a casa mais pura de jeje-marrim que há na Bahia" (6). Esse terreiro possui diversos assentos de vodus daomenos e sua mãe-de-santo pode passar muito tempo falando dos mitos de sua nação e contando histórias dos velhos tempos em que "os jejes eram respeitados só com o nome". Irmã-de santo da famosa EMILIANA do Bogum (7) a quem substituiu na direção da casa, explicava, ainda: Emiliana morreu ha 15 anos (em 1966) e tinha 92 anos de idade. 0 terreiro foi fundado por africanos e tem mais de 100 anos. Esta é a segunda casa feita aqui no mesmo lugar. A gente quer acabar mas tem tanto santo por aí que veio da África que todos nós só lamenta aquela árvore onde esta assentado Azoano Ado (8)... "Houve a primeira casa que foi dos africanos, depois foi ficando nos caboclos. Esta casa foi construída em 1927, tem mais de trinta anos. A outra era de taipa. Nós não fazia questão de continuar, mas todo mundo dizia " Terreiro é o de Jeje!". Mas também a mãe-de-santo VALENTINA-RUNHÓ do Bogum, quando falava em "Jeje", estava se referindo a nação de seu terreiro, que de sua própria família biológica ela dizia apenas que era "de africanos". (...)"
"(...) 5. A palavra foi empregada no antigo sentido " conservado em algumas áreas lingüísticas " de "negro nascido no Brasil".
6. Jeje-marrim é umas das nações jejes conhecidas no Brasil. A expressão alude aos fõs da nação Mahi, ao noroeste de Ketu, e ao norte de Abomé. Dos Mahi escreve CORNEVIN: "C'est leur esprit indépendent, difficile et querelleur, surtout entre eux, qui leur valut le qualificatif de "MaHiNou", ce qui signifie presque litéralement "les démangés de la rage"./ Le terme Mahi fut ensuite étendu par les gens d'Abomey a tous les habitants de la région comprise entre les qroupements fon et les groupements yorouba" (1962, 47).
7. CARNEIRO,(1948,28-109)
8. Vodun daomeano, conhecido nas casas jejes ou que "tem uma parte de jeje". O terreiro da falecida mãe-de-santo CECILIA MOREIRA DE BRITO, em Cosme de Farias, tem como padroeiro a "Azoano, que é o nome que Omulu tem do lado de jeje marrim". (Entrevista 5, 1'. série). A Casa de Obaluâe, da mãe MARIA ANTONIA BISPO DA PAIXÃO; Magujé de Obaluâe, na Federação, tem Azoano igualmente como padroeiro: "Azoane é o dono da Casa".(...)"
(In: A Família de Santo nos Candomblés Jeje-Nagô da Bahia: Um Estudo de Relações Intragrupais, Salvador, Universidade Federal da Bahia, 1977.)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ayizan.

Palmeira Ráfia.

Dendezeiro.

Vodún que penetrou no Benin através da cultura ewe-adja, lá é tida como esposa do vodún Lègba. Representa o território, é considerada vodún dos mercados, e vodún da fertilidade da terra para que a mesma possa ser cultivada. Ayizan é representada na Palmeira Ráfia, ora no Dendezeiro, e a vemos em outras palmeiras, árvores cujas folhas recebem a denominação geral de zan. O ritual de sarapokan de Jeje Dahomey e Jeje Mahi no Brasil, nesta última ramificação do candomblé Jeje, onde o iniciando ainda apresenta cabelo antes de ser raspado, é uma reverência a este vodún, representa a penetração neste território sagrado de culto aos voduns.
Ayizan é festejada no Togo, quando da colheita do feijão, ocasião em que o vodún Legba se faz presente nesta festividade. Suas oferendas constam de cereais, sobretudo feijão. Seu atin (árvore) principal oferece a produção do sodabi; e aprecia o dendê, daí suas relações com o mercado. No Benin algumas tradições de vodún levam suas togbosi (tobosi do mahi; ahwansi em Allada; entidades femininas infantis do vodún Azili /Aziri/ principalmente) ao mercado após uma prévia consulta com vi (Noz de Cola) aos voduns, estes representados em montículos de terra, em reverência a Ayizan, e como uma forma de reintegração com a vida profana ao final do processo iniciático, o que no Brasil ficou substituído, aculturadamente, pela conhecida “Quitanda do Erê”, ritual nagô baseado no culto jeje. Desta forma este vodún passa a representar além do início do sagrado, o limite que estabelece uma ponte com a vida profana. É um vodún muito conhecido também no Haiti e em Cuba, onde também possui relações com os ritos de iniciação. É costume de algumas casas no Brasil pôr Ayizan como primeiro vodún no zandró (sequência de cânticos festivos e rituais) devido à sua pactualidade com Lègba e por representar o território sagrado, bem como sua palmeira estar à entrada de pórticos, templos, casas e espaços sagrados. Diversas cidades no Togo e no Benin tem este vodún na história de sua fundação, e diversos fundadores e reis, prestaram culto a Ayizan.
As árvores sagradas são também cingidas em determinada épocas, envoltas com uma tira de zan desfiada de modo a alertar que ali é morada (território) de um ou mais voduns, como o Hun'tin (Folha de Serra; Falsa Espinheira Santa; Cincho) do vodún Dangbe e o Loko'tin (Iroko; Gameleira branca) de Loko e outros.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Formação do Candomblé de Nagô Vodum.

A formação do ëgbë introduziu a forma de culto de vários grupos étnicos africanos presentes no Brasil ao final do 18º e início do 19º século DC.
O grupo Jeje ao passo que teve no passado sua extensão de terras do culto vodún cada vez mais limitada, foi cedendo cada vez mais ao modelo paradigma do ëgbë (sociedade) da nação de Ketu, e eis que surge o nagô vodum, muito complexo em sua ritualística, pois varia de acordo com o rito jeje do qual procede. O nagô vodum foi uma forma de resistência da comunidade jeje ameaçada, sobretudo em locais face a exploração imobiliária, tendo como resultado uma crescente aculturação dos rituais jeje dentro do candomblé. Houve a formação do Jeje Mahi com Ketu, do Savalu com Ketu, do Mina com Ketu, do Jeje Dahomey com Ketu, enfim, estabelecendo cultos diferentes de nagô vodum devido a sua origem e prestados a diferentes divindades jeje, embora a parte nagô seja algo similar cultuando os awön òrisà muito conhecidos no Brasil. Na realidade, e não muito diferente da prática Mahi e de Savalu, o òrisà torna-se o arquétipo de um vodún, porém, nem toda correspondência pode ser estabelecida devido a imcompatibilidade na forma de se reverenciar a um e a outro. Tal forma não dista da concepção fon e ewe de vodún, onde cada identidade vodún representa além de seu grupo venerando, o conceito próprio de sua origem mítica, acontecimentos lendários e reais, a justificativa de ritos, o espaço e o tempo, por fim o nome que lhe faz único, individual, conceito tecido até a atualidade. A formação Jeje Savalu foi a que menos sofreu com tais alterações pois vem de uma região na áfrica onde a presença nagô é muito forte e constitutiva, então, rapidamente, o Jeje Savalu adequou-se a formação do ëgbë, posteriormente, o modelo nagô vodum deste Jeje não alterou muito sua identidade, em grande parte oriunda dos nagôs na África.
A diferença traduz a origem e pode ser encontrada em toda ritualística, pois está manifesta no pouco do que não foi aculturado, ou pelo menos em parte. O nagô vodum não se trata de ter sido inventado como nação, conforme alguns pesquisadores afirmam, mas como formação cultural tendente ao nagô, e entende-se a cultura como invenção e reinterpretação de gerações, mas de uma forma de resistência do negro, as violências sociais do novo mundo, sob o que lhe congregava, a crença, o que mantinha vivo hábitos e costumes da vida cotidiana do africano que perpetuou na diáspora. Um exemplo de aculturação do Jeje para nagô vodum pode ser bem evidenciado quando se oberva casas de culto, que descenderam principalmente daquelas oriundas do Jeje Mahi de Cachoeira, Estado da Bahia que passaram a cultuar divindades oriundas dos awön yorùbá como Logunëdë e Osagian (Ajagunan), este último que não se arquetipa como um Olisa mahi como Osalufön, que aliás seria o próprio, em termos de conceitos científicos, investigando-se a origem de culto deste vodún.
A especulação imobiliária onde o “progresso” desenfreado, ou dessensibilizado e discriminador, chegou, talvez tenha sido fator primordial de aculturação, mas houveram fatores inerentes na prática do jeje que contribuiram para tal, como o tempo de reclusão em rituais de iniciações que com a República, e posteriormente normatização do trabalho, e ainda posteriormente do trabalhor, e das conquistas dos movimentos femininos na primeira metade do século passado, a têndencia ao nagô vodum tornou-se marcante, pois as reclusões acompanham ao modelo de Ketu, em tempo menor, diferentemente do candomblé de Jeje da época, que mesmo sob a influência da formação do ëgbë mantinha um tempo bem significante de reclusão. O tempo de reclusão Jeje compreendia extensivo aprendizado, inclusive do idioma falado e cantado dentre outras coisas pertinentes a religiosidade, fato que acelerou a aculturação de uma forma geral, pois sem o domínio pleno do idioma a compreensão e a reproduçao da cultura fica comprometida.

 


 

terça-feira, 19 de maio de 2009

A Identidade Mahi (Maxi).

A constituição da origem Mahi é devida as populações que migraram em diferentes períodos para aquela região, principalmente os clãs Devonu, Dovinu, Djigbénu, Gbanlinnu e Ayonu.
Divo é uma cidade povoada na Costa do Marfim originalmente pelos povos cuja linguagem Djiboua (Djigbé) é o Dida. O Departamento de Divo tem uma população estimada em 387 000 habitantes.
O nome Divo veio de uma transcrição errada por parte das autoridades coloniais. Este nome vem do vocábulo “dji bi” em Dida, e na realidade traduz-se “ Lá por onde a pantera caminha”. Segundo a lenda, os seus antepassados ficaram estabelecidos à altura de Sassandra. Como resultado de disputas entre diferentes famílias, uma guerra teria forçado o grupo a emigrar derrotado. Migraram a Leste, através de um grande rio, e ficaram ali estabelecidos.
Ainda afetados por mais conflitos, o grupo partiu dali em pequenos grupos para localidade hoje conhecida como terra dos Didas. Do mesmo modo, "Divo" sempre deu controvérsia. São estes, os primeiros exploradores que chegaram em Grand Lahou para Bada. Localidade da terra Dida que teve guias Avikam que sabiam que o povo da região, sob o nome Djiboua (Djigbé), é descendente de uma pantera. E que a transcrição feita pelo explorador do nome teria dado a Djiboua a deformação “Divo”.
Numa outra versão apresentada a criação de Divo remonta a tempos imemoriais. Um total de quinze aldeias foram criadas.
Com efeito, segundo a lenda, o clã Djigbé, ou Djiboua, teria vivido na casa Gbogré-Djigbi, a actual cidade de Sassandra onde ele compartilhou com o clã Gnahoré. Deixando Gnahoré como resultado de uma disputa, os Djigbé primeiro foram para Liboli (próximo de Tioco) procurando subisistência e formando várias aldeias.
Assim, parte do clã descendeu aos Godi, e outros acompanharam o rastro dos búfalos, e acabaram formando Brabodougou, ou seja, o rastro de búfalos, e uma terceira parte cria cavalo e vai originar o povoado de Bribory, que é o nome de um caçador de Grozom.

Presentes no Dahomey muitos descendentes deste clã, no passado refugiaram-se das guerras, e também a procura de subsistência, na região Mahi, da mesma forma que outros clãs ali foram se estabelecendo com o passar do tempo.
“O Benim central constitui a fronteira agrária última do país, e um mosaico étnico verdadeiro. As ondas sucessivas da migração que vem de regiões densamente povoadas (Montanhas de Atakora na parte do noroeste do país, planalto de Aja no sudoeste, e ao sul-central – o Planalto de Abomey) transformaram profundamente a paisagem agrícola e política durante 40 anos passados, especialmente em duas décadas passadas. Contudo, a história da mobilidade na região é mais velha. Pode ser traçado atrás pelo que no período entre guerras quando os homens pela maior parte jovens entraram em equipes de funcionários à Costa Dourada e depois à Costa de Marfim. Antes disto, o Benim central, desde o décimo sétimo século tinha sido uma zona de “buffers” entre o estado invasor e esclavagista do Dahomey no sul, Oyo no Leste, e as chefias Wasangari de Borgu pré-coloniais. A mobilidade e a identidade de declocamento, bem como as lealdades políticas, foram a parte e a parcela do contexto; e o ”grupo étnico” Mahi pode ser visto como um subproduto desta história instável. (os Mahi pertencem ao grupo de Gbe-falantes como o Fon, o grupo étnico dominante no Benim e, em conjunto com vários subgrupos de Iorubá, são considerados como 'os autóctones no Benim central.) Contudo, a etnogênese Mahi foi processo de longo prazo (os registros primeiros traços do nome remontam os anos 1730; a Lei 1991) e permanece um "trabalho cultural contínuo” (Casca 1989), medir por palmos dos períodos pré-coloniais, coloniais e pós-coloniais. Além disso, ele não é de modo nenhum um processo linear, conseqüentemente resultando 'no Mahi' como um grupo de contorno nítido e homogênio que coincidiria exatamente com o nós-grupo. Por exemplo, a política francesa da aliança (com os reis de Mahi, supostos, e confederações de Dassa) na primeira fase de colonização e formas não-estabilizadas de administração indígena e divisões territoriais, engendou muita confusão e debates 'sobre uma verdadeira' identidade Mahi, que duram a este dia (e renovado dentro de descentralização e política com muitos participantes). Os argumentos são ao mesmo tempo ancorados em interpretações contrárias por cima do papel de clãs Mahi e chefias nas guerras pré-coloniais e alianças com, ou contra, a monarquia do Dahomey, e o Iorubá vizinho o afirma. Além disso, a sensação da pertinência é feita de identidade vária e situada, não limitada ao étnico. A interação de múltiplos pertences com acesso de terra e controle é descrita e analisada nesta contribuição com base na pesquisa de campanha (missões a curto prazo) executado em 1993, 1995, e 2002 na comuna de Gbanlin localizada alguns quilômetros a oeste de Ouessè no norte de Zou (agora o Département des Collines). O Gbanlin foi fundado até o final do décimo nono século agregando vários clãs (akò), cada um deles tendo uma trajetória complexa de fuga e restabelecimento. O clã é assim da grande importância, embora praticamente conflitante com a linhagem (hènnu) que parece ser a sua expressão localizada (ao nível de aldeia). Pensaram originalmente em relações entre linhagens e dentro deles (entre segmentos ou hwe) como funcional e não como hierárquico, apesar da preeminência do clã de fundação Devo. O clã/linhagem é espontaneamente tratado um nível primário como de pertencer (neste aspecto, não há nenhuma diferença entre a natureza de étnico, clã e níveis de linhagem; Mercier 1968). Isto foi forjado pela história pré-colonial de deslocações de linhagem e encontros (ainda em parte refletido na nomeação de linhagens). Contudo, um sentido da localidade progressivamente emergiu em aldeia e nível de ala (ver também a importância de vilas agrícolas – doho – e campo ou "fazenda" – gleji – em representações espaciais locais). Isto ocorreu pela história do acordo, a estabilização territorial ocasionada pela colonização, e alianças políticas e matrimoniais entre linhagens. Esta sensação da pertinência foi além disso – e um tanto paradoxalmente – reforçada por migrações de grupos de funcionários à Costa do Ouro e a Costa de Marfim no período dos anos 1930 aos anos 1960, baseadas em critérios de parentesco e vizinhaça (ver também o papel de investimentos sociais na aldeia graças à prosperidade adquirida na migração). Isto contribuiu para um sentido de 'Mahidade' especialmente com respeito a outros grupos autóctones da área (o Iorubá subagrupa-se tal qual os Savè e os Idasa).
Os fatores diferentes vieram para fazer o quadro mais complexo dos anos 1970 e os anos 1980 para a frente. Os emigrantes de outras regiões do Benim ficaram a parte de estratégias de acumulação locais pelo controle por cima da força de trabalho. A seqüência do acordo usado para começar com uma relação de trabalho antes do emigrante foi concedida uma parte da terra pela cabeça de linhagem (hènnugan). Como sinal de relações sociais entre proprietários de terras autóctones e emigrantes, as questões de terra progressivamente emergem como intrinsecamente políticas (ver por exemplo os emigrantes de exclusão das arenas públicas locais e a sua adoção de cultos Vodun locais). As inovações institucionais ocorreram nos anos 1990 com a imposição de um aluguel de terra em emigrantes, com a chefia tenta introduzir a arena de estabilidade de terra, e com a partida – e instrumentalization – de um projeto de gerência de recurso natural. A tensão principal não descansa de fato na oposição entre autóctones e recém-chegados, mas um tanto entre pessoas idosas e crianças. Isto é primeiramente por causa de experiências contrastantes da migração: para as antigas, economicamente e socialmente prósperas, Ghana e Costa do Marfim, muito mais frustrante para a última que foi desalojada da Nigéria nos anos 1980. Esta linha da rachadura foi reforçada (e também complicada) com a intrusão de novas igrejas cristãs do fim de de anos 1980 para a frente, resultando em – e exprimindo - conflitos agudos. O sócio religioso não reproduziu simplesmente uma oposição intergênere local, ele também teve um conteúdo econômico forte (entre grandes homens locais que são grandes comerciantes de colheita alimentares) e tendeu a limites de aldeias crosscut (por uma oposição entre novas igrejas Protestantes de um lado, e uma coalizão de Católico e grupos Vodun de outro lado). A dificuldade entre várias linhas da oposição (geração, prosperidade, linhagem, religião, autoctonia) é refletida em uma proposta negociada nos anos 1990 para a partição de uma aldeia em três alas autônomas (de fato três aldeias administrativas) onde nenhuma dessas linhas dominaria claramente. A divisão da aldeia é assim um tanto vista por elites locais como um modo racional de recuperar o controle social e político por cima de uma comunidade mais limitada inclusive emigrantes e "desordeiros" jovens.(...)”
(In: Localidade, terra e mobilidade no Benim central: o caso de Gbanlin, por Pierre-Yves Le Meur)

A busca pela indentidade própria e sua relações extendeu-se à diáspora dentro de sua cultura e com grande ênfase em sua religiosidade, principal fator de coesão social dentro do grupo, ainda que dentro de uma cultura imposta como foi a do escravizador.
No Brasil uma separação entre Minas e Mahis se deu pela razão principal de que os Minas estariam mais ligados culturalmente ao reino escravizador do Dahomey e inimigo dos Mahis que eram aliados dos Iorubás.
“No Brasil, como corretamente observa Hall, o termo “mina” era apli-
cado, em alguns contextos, aos que falavam as línguas gbe. A bem conheci-
da Casa das Minas, em São Luís do Maranhão, por exemplo, é uma casa de
culto de origem especificamente daomeana, onde se veneram espíritos as-
sociados à dinastia real do Daomé. Um vocabulário da “língua geral da
mina” compilado na Capitania de Minas Gerais em 1741 é igualmente de
língua gbe, basicamente fon, embora incorporando alguns elementos de outros
dialetos. O vocabulário, de modo um tanto confuso, dá como equivalen-
te vernacular de gente mina a palavra guno. Como “nu” quer dizer povo,
guno seria “povo gu”, e indica os minas como gamthòmè. A palavra “tome”
corresponde a país, sendo, então, “país dos gam”. Assim sendo, os chama-
dos guno seriam presumivelmente os “gun”, nome do grupo gbe situado adi-
ante, a sudeste, na faixa da fronteira entre os atuais Benim e Nigéria, inclu-
indo as localidades de Porto-Novo, no Benim, e Badagri, na Nigéria, e os
gamthòmè estariam relacionados a Gen, isto é, Popó Pequeno, mas talvez esta
segunda forma possa ser um erro de impressão.
No Rio de Janeiro, uma“Congregação dos Pretos Minas”, formada ao longo da década
de 1740,incluía várias nações, todas elas falando uma língua comum: “dagomés”,
“makis”, “sabarus”, “agonlins” e “ianos”, isto é, Daomé, Mahi (imediata-
mente a nordeste do Daomé), Savalu, ao norte do Daomé, Agonlin, a leste,
cuja principal vila é Covè, e Oió. Os oió são também chamados ayonu que,
em fon, quer dizer “povo de Oió”, e estão localizados mais no interior, para
lá dos mahi, na direção nordeste. Os oió falam iorubá – e não gbe – e sua
incorporação aos “minas”, de língua gbe, reflete, provavelmente, outro caso
de bilingüismo. Em 1762, a congregação se dividiu e os mahi, os savalu, os
agonlin e os oió formaram a “Congregação dos Pretos Minas do Reino de
Maki”. É digno de nota que esta separação não seguiu o recorte linguístico
(os de língua gbe contra os de língua iorubá), mas sim alinhamentos políti-
cos na África, onde os quatro grupos sessecionistas eram inimigos do reino
do Daomé e/ou vítimas de sua expansão territorial.”
( In: Etnias de Africanos na Diáspora:
Novas Considerações Sobre os
Significados do Termo "Mina". Por Robin Law).

domingo, 17 de maio de 2009

Árvores (Espécie e Família) Popularmente Veneradas no Culto aos Voduns no Benin e no Togo.



1
Adansonia digitata
Bombacaceae
2
Afzelia africana
Caesalpiniaceae
3
Albizia zygia
Mimosaceae
4
Antiaris africana
Moraceae
5
Bombax costatum
Bombacaceae
6
Borassus aethiopum
Arecaceae
7
Ceiba pentandra
Bombacaceae
8
Celtis integrifolia
Ulmaceae
9
Daniellia oliveri
Caesalpiniaceae
10
Diospyros mespiliformis
Ebenaceae
11
Diospyros monbuttensis
Ebenaceae
12
Dracaena arborea
Agavaceae
13
Elaeis guineensis
Arecaceae
14
Ficus capensis
Moraceae
15
Ficus polita
Moraceae
16
Grewia carpinifolia
Tiliaceae
17
Holarrhena floribunda
Apocynaceae
18
Hymenocardia acida
Euphorbiaceae
19
Khaya senegalensis
Meliaceae
20
Lecaniodiscus cupanioides
Sapindaceae
21
Lophira lanceolata
Ochnaceae
22
Milicia excelsa
Moraceae
23
Newbouldia laevis
Bignoniaceae
24
Parkia biglobosa
Mimosaceae
25
Tamarindus indica
Caesalpiniaceae
26
Triplochiton scleroxylon
Sterculiaceae
28
Vitex doniana.
Verbenaceae
27
Vittelaria paradoxa
Sapotaceae
29
Zanha golungensis
Sapindaceae
30
Zanthoxylun zanthoxyloides
Rutaceae


Vide nosso link anterior "As árvores sagradas dos voduns."

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Barco de Vodunsis

Comumente conhecido como barco de yaô, derivando a palavra yaô de uma denominação nagô no candomblé, os postulantes seguem uma ordem específica de acordo com a sequência hierárquica da divindade que possui, o vodún para o qual está sendo iniciado. O nome pelo qual é conhecido cada vodunsi é acrescido do nome de seu vodún e ficará assim conhecido o neófito até completar seu ciclo iniciático que no Brasil culmina com a obrigação de 7 anos, e durante este tempo nos períodos de clausura e nos de atividades do hunkpame há um aprendizado religioso e prático para a vida com rezas, cantigas, conhecimento litúrgico e medicinal das ervas, um idioma básico, etc.
Os conhecidos postos do primeiro ao último são Dofonu, Dofonitin, Fomu, Fomutin, Gamu, Gamutin, Vimu e Vimutin, variando o termo empregado que tendeu à aportuguesagem com o passar do tempo, assim sendo encontramos formas que empregam gênero como dofono e dofona, e outras que sem perder o sentido relacionam gênero, tamanho e intensidade como dofonitinho e dofonitinha, etc.
A procedência de cada termo é bem justificada em fongbè, quando para o Fon o iniciando está sendo preparado para a sociedade à partir de um estado “crú” ou “Mu”.

1-Don Fonnu- Aquele que está “longe de ser um Fon”;

2-Don Fonnu tiin- Aquele que está “muito longe de ser um Fon”;

3-Fon mu- É o “fon crú”;

4-Fon mu tiin- É o “fon muito crú”;

5-Gàn mu- Assimilado ao “ferro crú”;

6-Gàn mu tiin- “ferro muito crú”;

7-Vi mu- A “ criança crua”;

8-Vi mu tiin- É a “criança muito crua”.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Vodúngbe Gblamὲ (A Semana Fon).

Domingo- Vodúngbé- aklúnɔ́zángbè. Domingo (caindo no dia da “enchada” da antiga semana) – alìntín. Vodúngbé é o dia sagrado de se cultuar o vodún, em algumas aldeias no Benin não se pode fazer nada neste dia, caso contrário poderá até pagar uma multa.

Em Avlékété, aldeia litorânea no sul do Benin, cuja economia e subsistência é baseada na pesca, o dia Vodúngbé é um dia que deve ser respeitado por todos.

Em Ganvié, aldeia-lago no Benin, a pesca tradicional para, devido à crença e respeito aos voduns, e principalmente aos voduns da água como Anasi Gbegu, Avlékété e Agboé;

Segunda-feira‑ Tέnígbè- vodúngbé fɔ́n j'àyĭ. Segunda-feira, a útima (ou domingo, o último)- vodúngbe é kó wá yí ɔ́;

Terça-feira‑ Gùzángbè ‑talátà ‑talátàgbè. É o dia dedicado a Gú, vodún da Guerra e da forja;

Quarta-feira‑ Azăngagbè;

Quinta-feira‑ Lamísigbè; Vodúnzangbè

Sexta-feira- Axɔ́súzán - axɔ́zángbè - jĭmagbè – mεxózán. Literalmente “o dia do rei”. É o dia dedicado ao vodún Sakpata;

Sábado‑ Sabázángbè.

sábado, 2 de maio de 2009

Sógbó


Se analisarmos o vodún Sógbó (grande ráio) por etnias provenientes de Ghana, podemos indentificá-lo como sendo um vodún feminino da família de Hebioso (ou Hevioso) que foi levado para o que hoje conhecemos por República do Benin, tendo passado pelo Tado (atual Togo) com as conquistas e expansão dos ewe-adja, cuja cultura no Brasil indentificou o Candomblé de Jeje Dahomey (termo usado posteriormente para distinguirem-se de Minas e Mahis), ou simplemente Jeje, de formação muito anterior ao reino de Dahomey dos Fons, contudo, quero aqui neste tópico considerar este vodún, como os mahis e outros povos do Benin e no Candomblé Jeje Mahi o consideram, ou seja: Um sinônimo do òrisà Sàngó. Muito antes do Culto de Hevioso já havia no Dahomey, e antes da formação do Dahomey propriamente dito, o culto do vodún Djisó (ráio do céu), este culto tem origem nagô e era praticado pelo clã dos Djétovi e foi levado para Abomey na época do rei Glélé à partir de suas conquistas no território Mahi, daí Abomey perpetuar cultos distintos a Sógbó, um à forma feminina em uma família oriunda dos Adja, e outro à forma masculina oriunda do Mahis. Como o culto de Hevioso também se expandiu, tal forma feminina também é encontrada em locais distantes de Abomey.
Uma lenda já citada no blog PAPOINFORMAL conta o seguinte:
“Desejando descansar após criar o mundo, Mawu, deusa criadora, deu aos filhos Sakpata e Sógbó (Grande Ráio - sinônimo de Hevioso aqui nesta lenda Fon) o cuidado de preservar o seu trabalho, mas os dois vieram a se desentender por ciúmes, a partir daí, Sakpata se punha distante de seu irmão para resolver problemas originados em seu reino, o céu.
Como filho mais velho, ele teve de herdar a maior parte dos bens de seus pais, Sógbó achava isso preferência pelo irmão.
Sakpata havia garantido para si uma posição de soberano e tinha uma grande alegria, a de que os homens mostravam reconhecer o seu reinado, porém, começaram a reclamar porquê a chuva que deveria cair regularmente não caía, e começou, então, a haver muita sêca por toda a terra. Eles reclamavam em alta voz com Sakpata, que por vez se lamentava pelo que estava acontecendo em seu reino, a terra.
Um ano se passou sem a menor gota de chuva...um verdadeiro caos.
A agricultura praticamente não havia mais, havia apenas sêca e calor intenso na terra.
Sakpata observou que Lègba, seu irmão caçula que tudo vigiava e contava para Mawu, e um bokonon (advinho) viajavam pela terra falando de Fá e do oráculo sagrado. Ele reuniu-se com eles e rogou por isso, porquê a chuva era esperada e não vinha nunca. Foi consultando o oráculo com eles que soube que havia uma disputa entre ele e Sógbó, os dois aspirantes do título do poder, e essa era a raiz do problema.
Sua solução envolveu um acordo entre as duas partes. Mas, para isso, tinha que o mais antigo se reconciliar com os mais novo e lhe ser fiel. Sakpata teve a dolorosa lembrança de ter esquecido do fogo e da água. Tarde demais?... Ele tinha a visão de como os homens, animais e plantas precisam tanto desta água agora detida no céu por Sógbó. Quando perguntado como é que ainda poderiam salvar a terra, Fá o aconselhou a recolher alguns dos seus bens terrenos. O pássaro Otutu (Oferenda) iria levá-los para o céu e transmitiria uma mensagem para Sógbó, assim foi... e eis que a ave voando bem alto começou a cantar em plena voz: "Sakpata uma notícia para você! Me entenda você, e então? Ele disse que tu abandone a casa, filho, pai, filho, mãe! Me entenda você, e então? " Como garantia que ouviu e viu o portador dessa notícia Sógbó clareia a terra, lançando um imenso ráio. Assim pode ele reconhecer o pássaro Otutu do irmão caçula que trouxe os presentes e a mensagem de seu irmão mais velho. Otutu disse que Sakpata, mandou dizer que “por ser mais velho, herdou todos os bens de seu pai, mas não havia reconhecido a verdadeira fonte do poder. Água e fogo tinham força para destruir todas as riquezas na terra, que é a razão pela qual o poder volta para aquele que o possui. Assim Sógbó superava a Sakpata.”
E eis que voltou a chover na terra.”

Os símbolos deste vodún são o machado de pedra do ráio sokpè (sokpέn) em fongbè e o sosiovi, um chocalho que imita o barulho da chuva, e com o qual é saudado, e que os nagôs denominam sërë.
Sógbó costuma punir os malfeitores e feiticeiros, e sempre pratica a justiça. É conhecido pelos mahis com a denominação de Sógbó Adan, ou seja: Corajoso Sógbó, diferenciando-o.
Assim como o tovodun (vodún das águas) Avelékété, da praia, do mar e da chuva forte é considerada a esposa de Hevioso, Öya (òrisà nagô) também é considerada a eposa de Sógbó Adan pelos mahis.
Seus filhos são: Djakuta (Adjakata; Jakata; Jakuta), Aklombe (Akolombe), Gbwesu (Besu), Akele, Alasan, Gbade (Bade), Aden, Kunte e Agbolensi. Todos pertencendo à família Jivodun (voduns do céu), e todos voduns do ráio.

Quando Sógbó Adan dança com seu sokpè, imita os ráios caindo sobre a terra, em ligeiras quebradas na dança. O que é exemplificado por esta toada muito conhecida nos candomblés de Jeje Mahi no Brasil:

“Sógbó Adan tá nu sá gba owè,
A cabeça do corajoso Sógbó vai até a coxa na quebra da dança,
Sógbó Adan tá nu sá gba o.
A cabeça do corajoso Sógbó vai até a coxa na quebra.”

domingo, 19 de abril de 2009

O Sabão Preto.

àɖĭkɔtɔ

Muitos brasileiros, especialmente os residentes no interior dos estados de Minas Gerais e da Bahia, conhecem ou já ouviram falar do Sabão Preto (àɖĭkɔtɔ ou kɔtɔ; em fongbe), que muitas vezes é de coloração clara, dependendo do grau de purificação dos seus ingredientes, e que é obtido de forma artesanal e rústica nas fazendas e nos povoados distantes dos centros comerciais das cidades. A sua história é muito remota no Brasil e talvez date do primeiro século, ocasião em que teria entrado em nosso país incerido nos hábitos e costumes do negro escravizado que já o produzia na pátria mãe, tratando resíduos, acrescentando substâncias naturais gradativamente dentro de um grande zen (pote de terracota) que auxilia na secagem do produto.
A gordura bovina, caprina, ovina e de aves, geralmente denominada banha ou sebo, é derretida e purificada enquanto esfria com água, a qual depois é desprezada.
A cinza que resta do fogão à lenha, na África geralmente é o de três pedras, a céu aberto, é diluida na água e aquecida, o sobrenadante é rico em potassa.
As folhas geralmente ricas em saponina, e que sejam “frias” dentro da crença vodún, devido aos rituais de purificação, e que dêem relativas quantidades de espuma, quando maceradas em água produzem um sumo com água (amasi) que após coado é muito bem aproveitado.
As resinas naturais, tipo colofônia (breu) de certas árvores são dissolvidas juntamente com gorduras vegetais e óleos que sobram no dia-à-dia da cozinha e empregadas no lento processo, tais resinas é que garantem a boa quantidade de espuma.
O que seria resíduo poluente na natureza, é transformado em material útil e 100% biodegradável.
Após produzido, o sabão preto pode assumir a forma desejada sólida, pastosa, ou líquida, segundo seu emprego.
Toda vez que alguma substância ali é adicionada, mistura-se toda a massa, uniformemente, com uma colher de pau, e assim vai se formando o Sabão Preto de uso diversificado, na cozinha, no banho, na ritualística religiosa, na limpeza em geral, na medicina popular como excipiente de emplastos externos, e muitas vezes como um cicatrizante enérgico.

sábado, 11 de abril de 2009

A Origem do Culto a Dangbe.



(Lenda de Ouidah)

No princípio do mundo Máwu, a criadora, levou um homem que se chamava Gbenú (o que possui a vida) com sua irmã Gudjo (a serpente de Gu, o vodún da guerra), e sua mãe, para o região onde viviam os Péda, e eles habitaram em um pequeno pedaço de terra e eram muito pobres.
Certa vez, encontraram com a serpentente Dangbe (Python) pelo caminho, e sem saber que a serpente era sagrada dentre os Peda, a mataram e a enterraram, e se passou o fato.
Gudjo, mais tarde, engravidou, e na hora do parto...tudo ficou muito difícil, ela não conseguia parir, então, sua mãe e seu irmão apelaram ao macaco Zinhu para que os intermediasse junto a Máwu, e eis que ficou prosposto que fizessem um sacrifício expiatório, porquê o que acontecia era devido a terem matado a serpente sagrada Dangbe. Assim imediatamente foi feito e Gbenú conseguiu dar a luz a seu filho e todos ficaram felizes.
Em sinal de agradecimento Gbenú pactuou com Dangbé e sobre sua cova construiu uma pequena casinha que muito posteriormente se transformou em um templo adorado por todos os seus descendentes e os descendentes de sua irmã. Dangbe tornou-se desta forma um towxyo (vodún fundador de clã) que é adorado até hoje na cidade de Ouidah (anteriormente denominada Péda, Glehoué, e Houeda).

Imagem: Vodun Dangbé por Cyprien Tokoudagba, Museu de Abomey, Flickr.

Lenda Infantil Mahi.

A Educação Afro-Brasileira é muito importante dentro da unidade escolar, e também é obrigatória no Brasil. A cultura Mahi, além de sua religiosidade proporciona conteúdos diversos, e muitos também podem ser aplicados em sala de aula desde a Educação Infantil. Tais conteúdos surgem no cotidiano familiar, instituição primária, ocasião em que o conto é aplicado ao novo membro da família, assim como as cantigas de ninar, mais tarde no conjunto de amigos as de roda e as de cultura popular; e vão tomando aspectos mais intelectualizados, ao passo que desenvolve o indivíduo dentro de sua comunidade, de sua cultura.
Uma lenda que é bem absorvida pela criança, dado a curiosidade que a cerca, e desperta a atenção, e consequentemente o gosto, para o alimento básico da comunidade Mahi é a seguinte:



"A Mulher que Transformou o Mundo." (Lenda Infantil Mahi).

Um dia, há muito tempo atrás, no começo do mundo, quando o céu e a terra habitavam pacificamente e junto de nossos ancestrais, uma jovem mulher estava com uma panela de barro sobre seu fogão de três pedras, e cozinhava em casa como sempre. A madeira já tinha dado uma boa chama. Agora, assoprava as brasas em cadência, para dar o máximo de calor.
A mulher habilmente empunhava uma longa colher de pau usada para mexer a mistura de água e farinha de milho até obter uma pasta homogênea, o angu. Ela realizava todas as operações em silêncio. Porquê a concentração era necessária para o completo sucesso desta arte que ainda permanece difícil e se repete diariamente.
Após terminar de cozinhar o angu que constituía o grosso da refeição familiar, ela cuidadosamente raspava o fundo da panela para se livrar do que ali estava grudado. Usava duas ou três cabaças de água que levou de uma grande botija de barro que ficava colocada perto do poço para a reserva de água do dia, mas infelizmente, não se mexe a panela em qualquer sentido, então, num gesto distraído, ela lançou o elevado conteúdo com todas as suas forças.
-Oh! (A água subiu tão alto que foi bater no céu). Céu, perdão, fui louca! (Ele roncou através de vários trovões e fez a tempestade, também sujo com pedaços de angu...não era pra menos).
-Mas isto não serve para me pacificar! O que eu poderia fazer para expressar o meu descontentamento? Ele ainda disse mais uma vez, e estrondozamente: “Cair do meu poder sobre a mulher e paquerá-la? Esta não é adequada ao meu tamanho! Eu apenas me colocarei melhor agora fora do alcance dos seres humanos!” E se foi subindo.
Desde esse dia, o céu ficou muito distante da Terra. Não pode nunca descer até o contato com o homem. Alguns pedaços de angu que estavam flutuando na água se uniram. Eles permaceceram juntos do céu e formaram as estrelas.
Assim, por descuido da mulher, o mundo foi alterado.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Cronologia dos Reis de Allada.

Kpodégbé Djigla


Breve Histórico de Alada:

1550.......................Fundação do Reino de Alada (Allada ou Ardres em francês) por imigrantes ewes provindos do Tado (atual Togo), é o início da formação da cultura Fon, mesclando-se com as locais de pequenas tribos já existentes.



1724.......................Conquista deste reino por Agadja de Agbome (formação do Danhome).
1734.......................Retoma a condição de reino, porém, subordinado ao Danhome.

1891.......................Torna-se protetorado da França.
22 Jun 1894............A França restabelece o Reino de Alada.
1909.......................O Reino de Dahomey é anexado pela França integralmente. (E os reis passam a ser considerados chefes superiores).
1960.......................Independência do Benin em 1º de Agosto.


Reis:
(Os reis são denominados "Ajahutonon" ou "Aladaxosu")

1590 - 1610...............Kopon
1610 - (?)...................Hunungungu
(?) - 1660...................Lamadje Pokonu
1660 -(?)....................Tezifon
(?) - ...........................GBagwe
(?) - 1724...................De Adjara
(?) - 1742...................Mijo
1792 - 1842................Ganwa
1842 - 1885................Ganji Sinje (Ajahutonon-Kpevi)
1885 - 1894................Gi-Gla (No-Don Gbe-non Máwu)
1894 - 1909................Gi-Gla I (Gunhu Hugnon)
Chefes superiores:
1909 - 1923................Jihento
1923 - 1954................Kanfon
1954 - 1960(...)...........Gi-gla II
Rei Atual:
2 Dez 1992.................Kpodégbé Djigla

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O Candomblé Mais Antigo do Brasil é Jeje.



Haviam muitas fugas de escravos das fazendas canavieiras em meados do século XVI para a localidade de Tanque do Barreiro em Maragojipe, Bahia, tanto que com a intenção de conter tais fugas ficou proposto que aos escravos que contribuissem com seu trabalho na construção do açude local seria dada alforria. Os escravos que fugiam iam formando a comunidade quilombola da localidade do Pinho que deu origem a casa de culto vodún fundada em 1568 e que é muito anterior a formação da população Mahi no Benin, portanto, ser considerado um Candomblé Jeje Dahomey, também mais de dois séculos antes da formação do ëgbë (sociedade do candomblé) pelo modelo nagô do Candomblé da Barroquinha, por isto seu modelo é genuinamente próprio, e anterior a própria formação do Dahomey, porém, com este nome se distinguem culturas, principalmente a dos mahis, que se formaram posteriormente, e para o Brasil, também, foram vendidos como escravos. Em suma: O Pinho é Djedje (Jeje).
Historicamente sabemos que após a consolidação da dinastia real de Abomey pelo Príncipe Agassouvi Aho, apelidado Houegbadja, no início do século XVII da era cristã, as sucessivas ocupações de imigrantes aumentaram a região Alladanu e o Planalto de Abomey, e contribuíram para a formação do grupo étnico Fon, então podemos observar que o Candomblé do Pinho é mais antigo que a formação do grupo étnico Fon do Benin, tendo herdado costumes diretamente ewe-adja.
De tradição culturalmente reservada, indevassável aos olhos curiosos do leigo, mas de difícil entendimento, pelos herdeiros da terra, culturalmente abençoada pelo vodún, acerca de ser a Roça do Pinho um bem cultural para a humanidade, fazendo parte da História do Brasil, dos quilombos e da triste história da escravidão africana em benefício do Novo Mundo, ali se preserva pelos membros da comunidade, toda a cultura e o patrimônio deixado pelos antepassados quilombolas, embora, tristemente, sem a proteção do tombamento.

Nota: O Candomblé da Barroquinha (Casa Branca do Engenho Velho), de cultura nagô, e o mais antigo da nação de Ketu no Brasil, só se formou por volta de 1790.
Vide:
http://irohin.org.br/onl/clip.php?sec=clip&id=322

quinta-feira, 5 de março de 2009

Nomes de Alguns Vodunsis nas Tradições Ewe e Fon.

Vodún- Homem- Mulher:
.......................................................................................................
Dan- Dakuvi (Ewe)- Dansì (Fon; Ewe)
Dansú (Fon)- Danso (Ewe)
.........................................................................................................
Nana- O homem não é iniciado para Nana. Ananasì (Ewe)
Nanasì (Fon)
..........................................................................................................
Sakpata- Azonsú (Fon)- Azonsì (Fon)
Sakpateklu; Sakpataklu- Sakpatesì;
(Ewe) Sakpatasì (Ewe)
..........................................................................................................
Aholu- (Príncipe)- Aholuvi (Ewe)- Aholusì (Ewe)
Omolusú (Fon)- Omolusì (Fon)
..........................................................................................................
Hevioso- Soklu (Ewe)- Sosì (Ewe; Fon);
Sosú (Fon)- Sosivi (Ewe)
..........................................................................................................
Age- Ageklu; Klu (Ewe)- Agesivi (Ewe)
Agesú (Fon)- Agesì (Ewe; Fon) e
Akesì; Akesivi
(Ewe)
..........................................................................................................
O nome Omolu é conhecido pelos ewes como Aholu (Axolu) , uma palavra anagotizada pelos mahis em sua dialética, e significa “príncipe”, devido esta divindade ser entitulada pelo anagonu “O Príncipe da Morte”, no passado, quando da epidemia de varíola. É considerado dentre os mahis e ewes um título de Sakpata. Muitas crianças que escaparam da morte ao nascer, devido ao ataque desta doença, também recebiam este nome.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A Conquista de Allada e Ouidah Pelo Rei Agadja de Abomey.

Após a consolidação da dinastia real de Abomey pelo Príncipe Agassouvi Aho, apelidado Houegbadja no início do século XVII da era cristã, as sucessivas ocupações de imigrantes aumentaram a região Alladanu e o Planalto de Abomey, e contribuíram para a formação do grupo étnico Fon. Durante quase dois séculos e meio, a monarquia de Abomey realizou numerosas expedições de guerra para aumentar a sua supremacia sobre reinos vizinhos: aos iorubás, reino do Oriente, ao Ouémènu Planalto de Zagnanado, ao reino de Allada e a outros reinos costeiros.
O Reino dos Houédas (Ouidah), na costa, havia crescido graças aos recursos da pesca, da caça e da chegada dos europeus. Este sucesso tinha atraído a cobiça dos reinos vizinhos, incluindo o rei de Abomey Agadja, que também procurava acesso ao mar, a fim de facilitar seu comércio de escravos. Para alcançar este objectivo, o rei Agadja começou a conquistar primeiro o reino de Allada. Allada (significa em Fon “O Rei está Morto”). Inicialmente foi chamada Davie, ou Adanhousa por alguns da cidade.
Allada foi criada com a chegada dos Àgasúvi do Tado no século 14 DC.
A partir de Janeiro de 1724, este reino foi dominado por Abomey.
Allada situa-se ao sul do Benin no Planalto de Allada.
Após a queda de Allada em 1724, as tropas de Agadja atacaram a cidade de Sahel, que dominou em fevereiro de 1727. Agadja só não conseguiu conquistar o terrítorio Mahi, porquê este se aliou ao poderoso Exército de Öyö e resistiu, e lhe derrotou. Agadja ainda teve que pagar tributos indenizando a Öyö pelos iorubás que mandou para diáspora como escravos: (*) 41 jovens, 41 meninas , 41 espingardas, 41 barris de pólvora, e muitas outras coisas. Tegbessou, mais tarde, seu sucessor também tentou, e também foi derrotado. O Mahi fora para muitos alladanu e outros, um local de refúgio.
Os mahis (reinos de Savalu e Aguagon) e cidades nagôs como Ketu, por exemplo, pagavam altos tributos a Abomey, tais tributos compreendiam dinheiro, gêneros, e escravos. O reino mahi de Aguagon pagava seus tributos com escravos. Cansados de tanto tributo pago indevida e forçosamente a Abomey, os mahis e iorubás já tinham pedido a proteção de Öyö (reino dos iorubás) e de seu poderoso exército contra o poderio tirano de Abomey.
No entanto, a cidade de Ouidah devido à superioridade das armas resistiu por mais um tempo. Tais conquistas obtidas permitiram a monarquia abomense assegurar o controle da circulação de mercadorias e pessoas, incluindo o comércio de escravos em todas as áreas, de Allada à Abomey. Foi, portanto, em favor de novas anexações que aconteceu durante tempos as sucessivas povoações do sul do reino de Abomey pelos Adja-Fon. Sobre o Planalto de Allada e ao sul da depressão de Lama, são aldeias Fon, grupos ao norte da estrada Abomey-Allada-Ouidah.
A etnia Fon, cuja formação data, principalmente da segunda metade do século XVII, baseia sua economia em impostos de ocupação, ou pedágio, controlando o tráfego de mercadorias a partir do mar. Abomey foi o reino dos funcionários responsáveis pela cobrança dos impostos, a fim de garantir abastecimento e até mesmo de recrutar guerreiros.

(*) 41 eram as leis de Abomey.

Referências de Pesquisa:
http://www.beninensis.net/peuplement_allada.htm
http://www.web-africa.org/allada/

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Vodún Nùdúdú

São as oferendas realizadas em geral para o vodún. Tais oferendas podem ser por determinação do Fá, por comemoração de uma data ou evento; como uma oferta expiatória (wusisra), como no caso da maioria das oferendas à Lègba; como obrigação ritualística; ou ainda por agrado.
Podem contar de objetos até mesmo valiosos como dinheiro; jóias; alimentos; ou sacrifício animal (vodún nuhudo), onde são separadas as partes correspondentes ao vodún para que a oferenda seja composta. A outras partes são banqueteadas pelos fiéis, principalmente se for um sacrifício à Lègba, que deve ser consumido no local onde se realiza a oferenda. É a comunhão com o vodún, muito comum dentro do culto.
O preparo e o oferecimento requer um resguardo de seus seguidores geralmente desde um dia anterior à data em que se oferece, e na maioria da vezes este resguardo é referente a não se fazer uso de álcool (ahán), consumo de azeite-de-dendê (zomi; ami vovo) sexo, pensamentos ruins, palavras e ações ruins. Deve se estar em pureza física e mental para se ofertar, e também depois da oferta feita, de modo que seja bem aceito aquele vodún nùdúdú e haja bênção da divindade.

A Iniciação ao Vodún no Benin.

Para bem compreendermos uma iniciação ao vodún, devemos conhecer suas raízes culturais, e assim cautelosamente compararmos com as que se praticam na diáspora, sobretudo no Brasil onde a nação de Ketu serviu de modelo na formação do ëgbë. Assim disponho abaixo a mesma em suas principais etapas conforme é praticada no Benin:

I- O Recrutamento:
É Fá quem indica quem deve ser iniciado ao vodún.

II- A Entrada Para o Hunkpame:
Trata-se de um período em que se passam três meses ajudando no convento no trabalho doméstico e agrícola. Pode-se ir visitar a família, porém, antes de voltar para casa, há um ritual para '' fixar o pé em casa''. Este rito tem lugar na noite e na manhã seguinte. Ao amanhecer, termina. Nesta fase se é Kajekaji (aprendiz). Depois de concluida esta fase torna-se um hunsò /runsó/, o que os nagôs chamam de yawo /iaô/.

III- Hùnxwedoxo e Asihuhu:
Representa a mortificação e a ressureição pelo vodún do hunso. Este passo é realizado 15 anos após o noviciado, e novamente volta-se a ser um kajekaji. O Vodunnon coloca um punhado de terra na mão esquerda do kajekaji, e este a fecha, então pronuncia: “Esta é a terra do ventre de Dan, segure-a, e não a deixe cair”, então, seguem para o interior do convento. Chegando no convento, ele vai para a cama antes do Vodunnon. A sua mão esquerda servirá de travesseiro e de talher, e então, alguém vai levá-lo dentro do Vodúnxo, o mesmo que hùnxo (quarto sagrado), onde só têm acesso o Vodúnsì (esposa do Vodún) kajekaji, que lá irá aprender com a nangbó (uma avó religiosa que ensina) a língua xogbonugbe que vai falar como Nubyoduto.

IV- Hùnfunfon:
A morte e ressurreição do Vodúnsì é feita sete dias após o hunso chegar ao templo. Dorme-se em um colchão especial preparado para esta finalidade e sobre o chão, então, se estende um tapete especial sobre ele, é o símbolo da morte. Ali está o morto; menos o vodún que não está morto. Um hunso é responsável para cada um dos hunso mortos que ali houverem. E canta-se, quando lá pelo final do quarto canto começa a ressurreição pelo vodún. Derrepente levantando-se tomado pelo vodún, começa a dançar ao ritmo do tam-tam na direção de um frango que um hunso traz na mão e o vodún sacrifica com os dentes. E retorna-se para o aprendizado da língua xogbonugbe e da reza com a Nangbo até se concluirem três meses nesta etapa.
Finalmente, vem o ritual do afamèyiyi (tatuagem), quando após sua cicatrização é determinada da data do Sudidé /Sudidê/ (remoção da proibições do Vodún) pelo vodunnon.

V- Sudidé (Sù Ɖiɖè):
É um ritual secreto. Ocorre em um local isolado. Existe nele uma cerimônia de corte de folhas e abate de aves e preparação das folhas. Com as folhas e sangue, prepara-se o colar sagrado com o qual o hunso também se banhará ritualmente na água; os ramos secos de palma Zan (palha-da- costa), irão adornar o seu pescoço e sua cintura, o adorno também envolve a preparação de pintura com caolim e argila vermelha, e as folhas verdes de Palmeira Zan para a cerimônia noturna. Na manhã seguinte, ele vai a fonte em local escondido para o banho de purificação que é o ritual do toyiyi donde se retorna para o hùnkpame cantando e dando graças e louvores.

VI- Axiyiyi:
O rito de ir ao mercado, simboliza o restabelecimento ao mundo profano. Vamos ao mercado para cantar e dançar por três vezes. O vodúnsì senta-se em um tapete e consulta com o vì sobre seu feito de ir ao mercado na frente de três montículos de areia levantada pelo próprio Hunso ajoelhado. Ao montes de areia, que ali simbolizam o Vodún, é depois oferecido aquele vì (noz de kola de 4 gomos) como comida.

VII- Ahwandida (Ahwankenkan):
Esta é a fase final da Iniciação que começa quando retornam ao recinto sagrado, então, vem o rito de guerra onde há um sacrifício e depois a dança e o festejo final.
Este é todo o rito de iniciação ao Vodún no Benin, com origem aja-fon.

O Vodún Mahi e o Òrisà em Comparação.

Até onde são tecidas comparações entre vodun e awön òrisà? Bem, havemos de entender que as comparações existem, pois no Benin há uma multiculturalidade já bem antiga, o que podemos observar na formação da cultura mahi que luta por uma identidade em comum, porém há a diversidade de clans, sua cultura e costumes herdados pelas novas gerações. O questionamento do Candomblé de Jeje Mahi no Brasil, bem como a denominação de diferentes nações de Jeje no Candomblé brasileiro além do Mina Jeje, é justamente o reflexo do que realmente ocorre naquele território lá no Continente Africano. Quando comparamos o vodun Gu com Ogun, não estamos errados em tecer tal comparação, pois Gu procede do culto nagô de Ogun que adaptou-se à cultura mahi-fon. Ao referirmos que Öya não é vodun mahi, estamos cometendo um grave erro, pois lá foi adotada, culturalmente falando, e passou a ser reverenciada. Já o vodún Sógbó, sendo este sinonímia de Hevioso dentre os mahis, que por ser o vodún do ráio, consequentemente correspondeu-se a Sàngó.
Devemos compreender que os mahis em época de guerra com o Dahomey abrigaram-se a proteção do exército yorùbá de Öyö, e assim conseguiu defender seu território, daí alguns awön òrisà serem cultuados nesta região multicultural; e mesmo na época de escravidão estas divindades nagôs foram trazidas para o Brasil na cultura do mahi escravizado e vendido para a diáspora. Em Cuba também são tecidas comparações, mas a iniciação, os ritos, os cuidados com o vodún e o que ele recebe em termo ritual é o que justifica haver, ou não, uma correspondência entre duas divindades. O culto de Azili por exemplo, vodun da família de Dan, é própio da cultura aja-fon, ao passo que o culto de Òsun vem pelo lado da cultura nagô desde os awön yorùbá, com fundamentos que muito divergem e as fazem divindades individuais, ainda que em Cuba, ou no Brasil, alguns as considere como sendo a mesma divindade.
Ora, se partirmos da concepção de Mami Wata, podemos considerar Yémojà, uma Mami também, porém, lá respeitam-lhe a identidade de Yémojà e de cada mãe d'água, e assim pode-se comparar várias mães Tò vodoun como Naité, Sindasindaé, Òsun, Yémojà, Azili e tantas outras... pois todas são mães d'água, sem que se perca a identidade de cada divindade, essa perda da identidade seria aculturação. Mesmo assim o culto de Mami Wata é um, e o de Azili é outro e ambas delegações costumam se fazer presentes no Dia Nacional do Vodún no Benin para festejar o vodún em pról de um mundo melhor com paz e justiça social, conforme ouvimos costumeiramente nas orações dos vodunnon representantes de delegações presentes ao evento.
Não cabe a nós na diáspora estabelecermos comparações, e sim seguirmos as tradições que nos foram passadas pelos nossos ancestrais, afim de que não cometamos erros e ofensas aos voduns (incluindo no termo os awön òrisà).
Sakpate (ewe) não é fundamentado sem a folha Melão-de-São Caetano. Ele é chamado “Sakpata” entre os fons, como poderia ser o mesmo Obaluaiyé nagô que tem como éwò (proibição yorùbá) esta folha pelos nagôs consagrada ao òrisà Sàngó?
Obaluaiyé não gosta de trepadeiras e de raízes também, já Sakpata recebe o inhame em sua oferenda votiva...e na festividade de sua colheita no Benin.
Até podemos relacioná-los como divindades de poder sobre doenças, ou atribuir uma origem, um ponto distante no tempo, porém nunca dizermos que são a mesma divindade, a mesma cultura, ou que se um vodunsi iniciado em um rito nagô para Obaluaiyé (Omolu- Príncipe; Baba Olu Aiyé; Saponan), que mudou de águas, indo para a cultura Mahi, tornou-se um Sakpatasi... isto não existe! É importante lembrar que dentro do culto ao vodún Sakpata o “ayonu” é o vodúnsì iniciado pela parte nagô (òrisà) e o “azonsi” pela parte fon (vodún propriamente dito).
A grandeza do Mahi está em saber lidar, tanto com Sakpata, quanto com Obaluayié, e outras divindades.
Em http://www.vodoo-benin.info/data/e_about.htm relacionaram o vodún Dan, em um dos quadros apresentados, com o òrisà Obatala dos nagôs, talvez por serem divindades superiores, e/ou das vestes brancas, quando na realidade o vodún “Lisa” é quem corresponde a Obatala. Ainda no mesmo quadro, também relacionaram Oya com o vodún “Aveji Da” dos ewes e fons, que é um vodún relacionado com o ar, porém, é da família de Dan, e que corresponde a Dangla ou a Dangbe, a serpente da vida. (Vide Aveji Da: http://www.mamiwata.com ).
Oya é muito cultuada entre os fons inclusive podemos vê-la rapidamente dançando lá em um festejo de vodún no Benin, numa película cultural brasileira. (Vide vídeo: http://www.youtube.com/watch?gl=GB&hl=en-GB&v=GER6XBLxEko&feature=related )
Quanto aos ritos desenvolvidos no Benin, o referido site é muito recomendável.


 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Gba Hùn!!!


Lamentamos o ocorrido no último 10 de Janeiro do corrente ano de 2009, durante a festa em comemoração ao Dia Nacional do Vodún em Aklankpa em Glazoué, com seis feridos no Hospital de Calavi e saque dos atabaques do Hunkpame principal da cidade, e tudo devido a sucessão ao trono. Um terrível confronto entre forças militares e adeptos do vodún da região Mahi.
Lembramos que a religiosidade, a crença, a ancestralidade deve ser respeitada por todos acima de quaisquer divergências. O ocorrido só tende a afastar da área de Calavi as milhares de pessoas do mundo todo que vão ao Benin anualmente para honrar a memória da ancestralidade com respeito e adoração.
Manifestamos nosso apoio ao nosso pai e amigo Dah Azondekon, que preside a associação dos Mahi vodunnon, tendo a certeza que o vodún irá proceder a cobrança do que ali foi praticado indevidamente, inclusive por militares que deveriam manter a ordem no local.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Prático Oráculo do Vì.

A Interpretação do Jogo do Vì (Nóz de Kola com 4 gomos), ou do Inhame, ou com 4 Cauris Pelo Bokonon.

4 partes convexas- Yèku; “É ciòn alò kú ji bo ciòn alò ji.” (Ele apanhou a morte e sua maldição)- Resposta muito negativa;

4 partes côncavas- Djogbè (Edji Gbè); Alihùn; Alafia- Caminhos abertos; paz- Resposta muito positiva;

2 partes convexas e 2 côncavas- Djirè- Favorável; pode surgir ajuda na situação; também revela equilíbrio, é uma resposta positiva, um sim.

3 partes convexas e 1 côncava- Aklan- Hohovi pode estar reclamando uma promessa feita a eles, ou a outro vòdún. Algo falta para obter êxito, é necessário fazer oferenda, e/ou cumprir o prometido;

3 partes côncavas e 1 convexa- Etawà “ E ta we wà.” (A cabeça que se foi)- Cumpre-se o destino e/ou ao que se está determinado. Resposta não muito boa, e pode significar um não, ainda que o bokonon saiba que este conselho pode não ser ouvido, pois falta “a cabeça”. Pode também representar uma perda.

Esta forma de consulta é muito prática e muito usual, contudo a resposta encontrada para a questão deve ser bem empregada de acordo com o caso que se tem. Tal oráculo é precedido de preceitos referentes a sua prática para que a resposta seja realmente dada pelo vòdún.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

A Matriz Carioca do Jeje Mahi.

Minha saudosa tia Natalina de Oxum (In memorian) do Kwé Sin Fá, herdado por Helena de Dan, hoje em Santa Cruz da Serra, RJ. Tia Natalina transferiu sua casa da Bahia para o Rio de Janeiro, ainda na Bahia iniciou o saudoso Ruy de Oxalá quando ele tinha 7 anos de idade.

A memória do primeiro Candomblé da Nação Jeje Mahi no Rio de Janeiro, ficou registrada pelo saudoso professor, babalorixá e Oluwo Agenor Miranda Rocha (1994: 32) em seus mais de 90 anos de idade:
“As comunidades Jeje encontradas no Rio de Janeiro à época eram as de Rozena de Bessein (azinossibale); a de Domotinha de Oiá (Vodun Zevode) e a de Natalina de Oxum. Todas também no centro da cidade, região da Saúde.
A vinda para o Rio de Janeiro, de Tata Fomotinho, que aqui vai fundar seu terreiro e originar uma extensa linhagem, somente vai ocorrer muito mais tarde, por volta de 1950.” Cita José Flávio Pessoa de Barros (1999: 31).
O saudoso Pai Agenor, como era conhecido em todo os candomblés do Brasil, teve o privilégio de presenciar todo este fato, pois fora iniciado por mãe Aninha, a época de Oba Sanyia. Anteriormente a fundação do Terreiro da Cruz Santa do Opo Afonjá, em Salvador, Bahia, Aninha tinha casa da nação Ketu no bairro da Saúde, e onde tinha por filho-de-santo o saudoso João Alabá de Omolú, que tinha terreiro na rua Barão de São Felix, e que foi Pai-de-santo da famosa Tia Ciata de Oxum e de Maria Adamastor, que foi a 1º Mestre-sala mulher quando se introduziu Mestre-Sala e Porta-Bandeira em ranchos na formação do que hoje conhecemos como Escola de Samba. João Alabá foi sucessor de Aninha, porém, mais tarde a roça foi transferida para o bairro de Coelho da Rocha na Baixada Fluminense, onde até hoje se situa o Opo Afonjá do Rio de Janeiro (Nação Ketu).
Pai Agenor deixa claro que à partir da segunda metade do 19° século, ou seja: Desde o início do Jeje no Rio existiam 3 casas de Jeje Mahi no Rio de Janeiro.
Sabemos que Natalina de Oxum foi iniciada por Mèjitò Adelaide (Domotinha de Oya), ambas naturais da Bahia, e que Mèjitò foi herdeira do Kpo Dagba, a "matriz", o terreiro da africana Gayaku Rosena (natural de Allada), o qual mais tarde foi transferido para o bairro de Piedade, próximo a Cavalcante, à época de Egbomi Dila que foi filha de Mèjitò por falecimento de Mãe Aninha que foi quem lhe tirou a mão ritualística de seu, então, finado pai-de-santo o africano Cipriano Abedé de Ogun. Abedé, na época, tinha terreiro de Nagô na rua João Caetano, e título de Doutor em Ciências Ocultas expedido por uma universidade Norte-Americana, sendo muito respeitado pelas autoridades.