domingo, 25 de setembro de 2011

O Interdito do Carneiro.

Templo de Dangbé em Ouidah. Foto em : http://www.festival-ouidah.org/Ouidahanglais.htm


A tradição de alguns terreiros de candomblé de nação jeje, principalmente na Bahia, faz interdito (vodún su) de se comer da carne do carneiro aos seus iniciados, independentemente do vodum para o qual eles se iniciaram.
Uma lenda muito antiga, provavelmente de origem Ga-Adangbé, explica o seguinte:

Certa vez o templo de Dangbé (Dangbê) pegou fogo, havia fogo por toda a parte e a serpente Dangbé entrou em desespero, vendo passar por ali o carneiro, que também fugia das chamas, enrolou-se no pescoço dele, então, ele partiu correndo com a serpente ernolada e ambos conseguiram se salvar das chamas, assim por "gratidão" ao carneiro Dangbé prometeu nunca mais comer de sua carne, e nem mesmo os seus descendentes (que são vários grupos instalados em inúmeros quarteirões de vilas e cidades da África do Oeste e da diáspora...)
Assim aprendi... e assim termina a história; espero que tenham gostado!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

São Cosme e São Damião na Cultura Baiana.

São Cosme e São Damião. Imagem do Portal São Francisco

A postagem abaixo explica bem o significado destes santos dentro da cultura baiana que lhe dá, dentro do sincretismo afro-baiano, um ênfase nagô muito forte:



"Dia 27 de setembro. Dia de São Cosme e São Damião."


"São Cosme e São Damião são santos católicos com grande receptividade entre as camadas afro-brasileiras do Recôncavo baiano. Seus nomes de batismo são Acta e Passio, nascidos na Arábia do século III, de família nobre e cristã. Os irmãos gêmeos estudaram medicina na Síria e exerciam a profissão gratuitamente. Acusados de feitiçaria, por realizarem milagres, foram jogados de um despenhadeiro – Assim conta a história. Em outras versões ouve-se que tentaram matá-los de várias formas, mas não conseguiram. Por fim foram degolados. Entre seus milagres estão a cura e a materialização (após a morte) para ajudar crianças vítimas de violência.

São associados aos Ibejís, divindades gêmeas do Candomblé. Apesar do catolicismo oficial venerar a figura de Cosme e Damião como santos adultos e que dedicaram a vida a praticar a medicina caridosa, os mesmos santos “correspondem” a entidades infantis nos cultos afro – brasileiros, e é justamente dessa maneira que Cosme e Damião são venerados pela ma ior parte de seus devotos: os santos meninos.

 Pessoas devotas , crianças, católicos, pais-de-santo, babalorixás, vendedores ambulantes do souvenir dos santos, simpatizantes, toda essa gente devota segue em clara romaria até o bairro da Liberdade, precisamente á Paróquia dos Santos Cosme e Damião, no dia 27 de setembro. Durante todo o dia de São Cosme e São Damião, são várias celebrações com procissão, missas durante o dia e uma celebração do Cardeal á noite.

Os devotos de São Cosme e Damião costumam “dar Caruru de Cosminho” em suas casas durante o mês de setembro e principalmente no seu dia: 27 de setembro. A festa já começa durante os preparativos, e mexe com todo o comércio de feiras em Salvador, quando se tem uma procura maior dos ingredientes para a grande festa e quando a família se reúne para cortar os quiabos em forma de cruz e depois em extreitas rodelas, preparar os temperos, torrar e triturar o amendoim e a castanha, temperar a galinha e fazer os seus pedidos também. A quantidade dos quiabos do Caruru, geralmente chegam aos milhares, a depender da promessa, devem ser cortados por quem está oferecendo, mas vale a ajudas de participantes voluntários que também fazem a sua reza e pedidos aos santos gêmeos.

Nas proximidades do dia 27 de setembro, é comum encontrar, pelas ruas da Bahia, crianças, adultos , a espera de um prato de caruru, aliás, na Bahia, não se diz São Cosme e São Damião e sim São Cosme e Damião), para o caruru dos santos. A dupla imagem de madeira ou uma simples gravura emoldurada é exposta numa caixa enfeitada em papel de seda colorido, envolta em fitas e cheia de flores, rosas ou flores de laranjeira, muitas vezes. Não se pode comemorar santos tão populares nos lares baianos sem que se peça esmola para a missa.

Vale tudo para se fartar de uma prato de caruru: pode-se ir às ruas, sem a menor cerimônia, e esperar que pessoas simplesmente ofereçam as quentinhas do farto prato ou pode-se ir até a casa de familiares e amigos durante o período do mês de setembro para prestigiar os santos e saborear as iguarias afro-baianas.

 
Grande também é o número de lares baianos que festejam o grande dia dedicado aos dois mártires da Igreja. Tão populares como São João, como Santo Antônio, os dois santos têm a sua festa comemorada sobretudo com um grande almoço, o caruru dos santos.

 
No candomblé Cosme e Damião são filhos gêmeos de Xangô e Iansã. Os santos gêmeos possuem muitos simpatizantes e devotos, estes que todo ano fazem caruru para eles, chamado também de “Caruru dos Santos” e “Caruru dos sete meninos” que representam os sete irmãos (Cosme, Damião, Dou, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi) cita em seu livro “Cosme e Damião, O culto dos santos gêmeos no Brasil e na África” por Vivaldo da Costa Lima.

Em casa em que haja gêmeos: ou que os santos tenham evitado partos gêmeos. Ou que promovam a festa como tradição de família. Nenhum dia melhor para se saborear um grande almoço da cozinha baiana do que o 27 de setembro.

Em casa onde existam Cosme e Damião, não entra epidemia, porque eles foram sempre considerados advogados contra “feitiços, bruxarias, mau olhado e espinhela caída”. Isso quanto às origens européias da devoção. No que se refere ao ramo africano, sabe-se que foram os nagôs que nos trouxeram os seus gêmos, Ibeji, transformados numa das maiores tradições vivas das populações baianas, especialmente. Nas casas de famílias católicas, suas imagens são comumente encontradas, em oratórios, pequenos altares ou simples prateleiras reservadas. No seu dia, estes pequenos altares tem desde de simples velas acesas, a oferendas como mel, caruru, balas e farofas de azeite. É comum també, distribuir pequenos saquinhos recheados de doces, balas e brinquedos as crianças nas ruas, comunidades onde se habita.


Desde a véspera, a movimentação todas é em torno da finalização do preparo da comida de preceito: caruru, vatapá, muito camarão seco, leite de coco, azeite, milho branco, feijão preto, feijão fradinho, ximxim de galinha, arroz branco, farofa de mel, banana da terra frita, amendoim assado,coco seco cortado em tirinhas,inhame, abóbora, batata doce, pipoca, rapadura, cana cortada,acarajé, abará e ovo em rodelas.



Os primeiros a serem servidos são os donos da festa: São Cosme e São Damião. As oferendas são precisamente colocadas no altar decorado para a ocasião Procedida a cerimônia, chamam-se os sete meninos, especialmente convidados para iniciar a comilança. A tradição manda que se prepare uma roda de sete meninos. Geralmente é colocada uma toalha de mesa no chão e as crianças se sentam ao redor. Eles geralmente sentam-se no chão e comem em pequenos pratinhos de barro, ou em um único grande prato como uma bacia. Não usam talheres, usam as mãos. Mas algumas mudanças já ocorrem em torno da tradição do Caruru de cosminho como misturar meninos e meninas, comer com talheres; ao final eles levantam-se e juntos cantam a musica de Cosminho juntos com os outros convidados da festa.







“São Cosme mandou fazer


A sua camisa azul


No dia da festa dele


São Cosme quer Caruru


Vadeia Cosme, vadeia!


Vadeia Cosme, vadeia!”






“Cosme e Damião


Vêm comer teu Caruru


Que é de todo ano


Fazer Caruru pra tu

 


Vem cá, vem cá, Dois-dois


Vem cá, vem cá, Dois-dois




E já os garotos estão comendo, no seu lambuzado e na sua alegria, e os adultos, em redor, cantam deliciosas toadas. Se acabam, levantam a tigela e cantam:



Vamos levantar


O Cruzeiro de Jesus


No céu, no céu, no céu


A Santa Cruz






Antes, outras canções são entoadas, com grande entusiasmo dos presentes, meninos ou adultos:

 
São Cosme me mandou fazer


Uma camisinha azul


Quando chega o dia dele


São Cosme quer caruru






E mais:



São Cosme e São Damião


Cheira cravo, cheira rosa


Cheira flor de laranjeira


Vadeia Cosme, vadeia


Vadeia Cosme na areia






O jornalista e poeta Cláudio Tuiuti Tavares recolheu, em excelente estudo sobre Ibeji, variantes destas cantigas e numerosas outras como:

 
Cadê sua camisa


Dois-dois!


Dois jogando bola


Com ela


Dois jogando bola


Quem não tem pena


Mamãe


Quem não tem dó


De ver Dois-dois


Na roda


Brincando só


Cosme e Damião


Ogum e Alabá


Vamos catar conchinha


Na beira do mar


Os apreciadores da festa e do farto prato típico têm lugar certo para comê-lo gratuitamente do seu grande dia de festejo: Caruru dos Sete Poetas, Mercado das Sete Portas, Instituto de Artesanato Mauá, Mercado de Santa Bárbara, Mercado Modelo.


Padroeiro dos farmacêuticos, médicos, babeiros e cabeleireiros, São Cosme e Damião protege as crianças , os orfanatos, creches,as doceiras filhos em casa, além de proteger com doençcas como hérnia e a peste.Os emblemas dos santos são caixa com ungüentos, frasco de remédios, folha de palmeira.
Por que sete meninos são convidados de honra para o almoço de Cosme e Damião?


Havia sete irmãos: Cosme, Damião, Doú, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi, todos mabaças, e é por isso que se torna necessário dar o caruru em honra de sete meninos, especialmente convidados.


Mas, se os festejos são profanos, como os famosos carurus, se das igrejas católicas saem procissões dos dois mártires, como a da Lapa à Soledade, nos terreiros dos candomblés se realizam durante todo o dia cerimônias e as mesmas comidas também são esmeradas para que Ibeji sinta, para sua maior glória, a fé dos seus devotos.

Um mês depois, no dia 25 de outubro, as cerimônias se repetem, embora com menos intensidade: comemora-se a festa de São Crispim e Crispiniano, também mabaças e confundidos na crendice popular com Cosme e Damião, cujas imagenzinhas com sua palma, sua pena e seu livro, estão em quase todos os lares da Bahia, de negros ou de brancos, de pobres ou de ricos, que tenham coração para crer, com sua fé inabalável, nos grandes protetores da saúde da espécie humana."






"(TAVARES, Odorico. Bahia; imagens da terra e do povo)"






"Fontes: www.dihitt.com.br/noticia/o-caruru-de-cosme-e-damiao


http://www.jangadabrasil.com.br/setembro13/fe13090a.htm Wikipédia






Artigos relacionados:

1.Festas populares da Bahia


2.Dia da Baiana de Acarajé – dia 25 de novembro


3.Caruru


4.Mariscada


5.Insuportável, uma comédia de batom vermelho – último dia"


Por:
Rosilda Oliveira
in: Cultura Baiana
http://www.culturabaiana.com.br/sao-cosme-e-sao-damiao/
























domingo, 18 de setembro de 2011

Caruru.



Foto Wikipédia.
27 de Setembro está chegando e para homenagear os santos mártires S. Cosme e S. Damião, vamos reproduzir uma receita baiana de caruru que vimos em um site da internet.

É um dia festivo porquê no dia 26 a Igreja Católica celebra sua memória, e no dia seguinte realiza-se a sua festa, e nos terreiros de candomblé também são comemorados, juntamente com os espíritos infantis dos gêmeos, e dinvindades infantis ou erês, dentro do sincretismo religioso.

Ainda é de costume se fazer o Caruru de Ibeji (divindade gêmeas nagôs) em alguns terreiros mais tradicionais de candomblé na Bahia, oferecendo-se o primeiro delicioso alimento na bacia de ágate e pondo-se ali 7 meninos para comê-lo em comunhão conjunta.

Vamos à receita, destacando-se que algumas casas não colocam pimentão, castanha ou amendoim, e outras usam do camarão fresco inteiro e descascado, deixando o seco para tempero, e não batem em liquidificador...


"Receita do Caruru


Ingredientes (para 25 pessoas):


200 quiabos


1 kg de camarão seco


6 cebolas brancas grandes


2 pimentões graúdos(a gosto)


1 porção de castanha de caju assada e moída


1 copo de amendoim torrado e moído


Azeite de dendê


um pouco de gengibre ralado (uma colher de sobremesa)






Como fazer:


Lave bem os quiabos para que saia a baba, separe sete, inteiros, para oferecer aos ibejis. Corte o restante em cubos bem pequenos. Bata no liquidificador o camarão e todos os temperos, depois refogue no azeite quente e coloque os quiabos cortados. misture bem todos os ingredientes na panela coloque a água quente, ponha um pouco de azeite e deixe cozinhar. se achar necessário ponha mais azeite(aos poucos) e se o quiabo estiver ainda duro…ponha mais um pouco de água quente."

Fonte:
Rosilda Oliveira, em Cultura Baiana 
http://www.culturabaiana.com.br/caruru/

domingo, 11 de setembro de 2011

O Nascimento do Culto a Dogblossu.

"O Nascimento do Culto a Dogblossu"

O texto abaixo descreve como nasceu o culto da serpente Boa constrictor no povo hula:


"O povo hula depois de deixar a origem comum dos povos do Sul do Benin (Adja Tado ou Adja Sado), foi até a beira do rio Mono, devido à muitas guerras tribais. Ali eles encontraram refúgio em uma grande floresta dominada por árvores de grande porte chamado Ada (Adam), daí o nome da aldeia Adam (Ada foi a primeira cidade fundada pelos hulas).

Essas pessoas, na sua maioria, julgaram este local agradável, nesta região aquática, o que os tornaria invulneráveis.

Apesar desta disposição, algumas hostilidades são notados nesta região após os ataques de alguns soldados, de um lado, e a não misericórdia do ambiente natural: inundação do rio Mono na época da cheia, do outro; em outras palavras, não havia estabilidade ou paz social. Após esta situação horrível, o Rei Tãnte Avãnku morre. Nessas condições, retornando ao seu sucessor Mèto Ausãn (o que seria introduzido no Tado: origem privilegiada da força) para buscar formas e meios de superar os muitos ataques e muitas vicissitudes enfrentadas pela comunidade hula. Ele ordenou a um dos seus guerreiros, (Gbéto Doyé) de procurar um campo seguro, o que é hoje a cidade de Agbannakin (que significa: Esta é a cabaça que servirá de caçarola e o prato que servirá de jarro). Em outras palavras, seria difícil ou impossível de ser atacado.

Para tornar o povo hula mais poderoso e mais invulnerável, o Rei Mèto Ausãn fez uma pesquisa para encontrar ''o poder das forças.'' Sua pesquisa resultou em algumas receitas relacionadas à serpente Boa. É em si um animal caçador habilidoso, nunca perde sua presa e  tem a virtude de se manter como que invisível para os seus predadores. Tão logo há captura da presa, ele a tece e a sufoca. Portanto, este é um animal formidável, e cercado por rituais tornou-se um poder sublime. O rei, “hula holu”, fez uso desta mistura com fórmulas mágicas nos passeios com sua tropa de guerreiros. Este poder foi para a realeza, em outras palavras, é um poder privilegiado do rei.

Os monarquistas são designados como sacerdotes que são os manipuladores desta força deificada. Seria do grupo de sacerdotes deste culto que nasceu o clã Dogblossouvi cuja divindade tutelar, ou melhor: Dogblossu é o ancestral epónimo (a serpente Boa), porquê atribui a todo o povo hula, ele assume o seu nome, o nome sócio-linguístico do grupo. Agora chamado Hula Dogblossu. Note-se que, devido à sua proteção, hoje vemos o templo na corte real e no limiar das casas dos chefes guerreiros de Agbannakin e em Heve, por exemplo."

(Fonte: Turismo, Governo do Benin.)










domingo, 4 de setembro de 2011

Nyiantoto.




Nyiantoto   (Lactuca taraxacifolia (Willd. & Schum.)

Nomes: Alface Africano ou Língua de Vaca.

Trata-se de uma planta muito utilizada quando socada com alho nas mordidas de cobra; as folhas abrandam a ardência de queimaduras porquê são adstringentes; seu suco serve como colírio para assepsia e desinfecção dos olhos; e para assepsia na varicela. 
É um vegetal comestível, porém, trata-se de um interdito para os iniciados dos voduns do raio.



Mina do Ouro.

Mulher mina de Agoué com sua criança. Foto do ano de 1900.


Mina é uma denominação dada aos escravos que tinham sido embarcados no porto de São Jorge da Mina para as Américas. Esta denominação é imprecisa, pois podia abranger diversas etnias (segundo a Wikipédia em português). 
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Bem, o surgimento disso se deve ao fato de que quando os portugueses estabelecidos em Gana buscavam pelo ouro,  motivo inicial da construção do Forte de São Jorge da Mina (El Mina), acabaram por denominar não somente a localidade costeira, mas também os negros de diversas etnias existentes no local e arredores envolvidas com a mineração por: Negros minas.

O Quilombo da Salamina da localidade de Putumuju em Maragojipe parece ser mais uma boa prova da presença mina no Brasil, visto que sua formação é muito antiga e
em língua mina, além dos dialetos aparentados, significa “limpar a mina", referindo-se à atividade, ou "limpa-mina", ao que exerce esta atividade (srà mina; sla mina), evidenciando o trabalho de extração do ouro que envolvia essas tribos na África.