quarta-feira, 24 de março de 2010

Gnidji

Bandeira do Reino de Dahomey. Wikipédia.

“Gnidji”: A tradição renasce das cinzas em Abomey.

Desaparecido por falta de recursos, a tradicional cerimônia chamada ''Gnidji''que é montar um touro para sacrificar à divindade "Zomadonu", herança do Reino de Daomé gradualmente renasceu das cinzas com o Festival Internacional das Culturas de Daomé.

Gabin Djima Diretor do Escritório de Turismo da região de Abomey conheceu e disse que a cerimônia tradicional "Gnidji" foi instituída pelo Rei Agonglo. É um ritual em que ele oferece carne à divindade "Zomadonu" para lhe mostrar a sua gratidão e pedir suas bênçãos sobre todo o reino. Naquela época, se lembra Dah Mivèdè, sacerdote do culto "Zomadonu", durante a cerimônia organizada periodicamente sera sacrificado dezoito bois por ano porquê haviam dezoito templos reconhecidos oficialmente a se beneficiar do sacrifício. Estes templos eram das divindades: Zomadonu, Kpêlu, Adomú, Donuvo, Huêmu, Zewa, Sêmassu, Hudêi, Hinssien, Ahunzo, Godjeto, Totohinu, Tokpa, Tokpin, Lowilinu, Guélihonu, Hangbe e Ahuissu. Entre essas divindades Zomadonu recebia sacrifícios primeiro, devido a sua posição no panteão do reino.


Originalmente ...

O culto a "Zomadonu" foi iniciado sob o reinado do Rei Tegbessou (1742-1776) reunindo 14 templos. Ele encarna o espírito de crianças com deficiência das famílias reais, as quais foram geradas com malformação, são popularmente denominadas “Tohossú” pela nação. Essa divindade também marca o epítome da benevolência, da justiça e da procriação. Estas crianças servem como intermediários entre o visível e o invisível. Segundo Dah Mivèdè, houve um tempo, o reino estava enfrentando uma crise profunda. Então o rei Tegbessou consultou o oráculo de "Fá", que revelou que ele teria que oferecer uma cerimônia em homenagem ao Tohossu, divindade da água. Assim, ele invocou os poderes de Abadá que vem a ser o marido de sua filha Wossogba, de Bafana Mahi, em Benin. Após a cerimônia dedicada ao "Tohossú" foi rebatizado com o nome "Zomadonu" e se tornou o líder supremo de todas as outras divindades. Dentro do templo de Zomadonu "na sede Lego em Abomey, encontram-se os Tohossús entre as divindades das famílias de Sakpatá, Toxwyio, Agassu, Hebiosso, Lissá e Yalode. Como tal, a cerimônia Gnidji é organizada no seu templo.


A cerimônia Gnidji

Assim como certas cerimônias no reino de Daomé o Gnidji começa com o ritual conhecido como ''Toyiyi'' o primeiro passo da cerimônia. Aqui, os seguidores dos orixás em causa por este sacrifício, bem como dignitários vão à fonte do rio ''Dido'' numa floresta sagrada em busca de água, que servirá na libação e na oração. Segundo as explicações obtidas, esses defensores nomeados para este ritual devem cumprir certas condições. Eles não devem estar impuros e não ter relações íntimas na véspera do ritual. Se todas estas condições não forem atendidas, especialmente em mulheres, eles não têm acesso a essa fonte. O mesmo se aplica a qualquer intruso que acompanha o longo cortejo de 07 a 200 pessoas. Em troca, eles derramam o conteúdo do frasco que tinha a cabeça em outro mais comumente denominado ''Zingbin''. Então todos participaram do ritual de beber da água ”Hintewuyê”, o frasco do último seguidor da fila é acrescentado do feijão já preparado antes de qualquer outra refeição. A segunda etapa é dedicada ao ritual ''Ahandoho'' que é trazer garrafas de cervejas locais (o “tchakpalo” ou “lihan” ) de “adjamilimili”, nozes de palma, milho e feijão assado no templo de habitação dos espíritos dos falecidos membros da comunidade (Assigniho). No dia seguinte, essas bebidas são uma oferenda aos espíritos dos antepassados aos quais pedem licença. Daí, a oração se estende até o fetiche “Tohossú” e “Tovodun”. Somente depois é que o vodum estará em transe durante treze dias de espetáculo de tirar o fôlego. Durante o primeiro dia do show, os adeptos montam o touro para o sacrifício. Este ritual conhecido pela palavra "Gnidji" quer dizer louvor ao local do vodum "Zomadonu" em honra do qual o animal é sacrificado.
"Assukablo", "Gnifossisso", "Zokuetê", "Wekplokplo" estão entre outras danças realizadas pelas mulheres devotas da divindade para esta ocasião, com um nó em torno de sua cintura e uma saia branca. A cor que simboliza pureza de Zomadonu. Quando estiver usando uma pulseira de búzios, que presta homenagem à divindade é o próprio Tohossú. Durante estes momentos de ritual adeptos e espectadores são obrigados a andar descalços. Há proibição de tirar fotografias no momento crucial do ritual em torno da carne. "Esta cerimônia é reservada exclusivamente aos dignitários da primeira classe." Diz Dah Mivèdè. “Dada a sua santidade, acrescentou, é cuidadosamente escondido da vista por um impressionante conjunto de panos utilizados como cortinas na ocasião.” Uma maneira de provar que "Zomadonu" ainda mantém a sua essência sagrada para um pequeno grupo de iniciados.
Durante sua estadia no convento, oferecem alimentos específicos compostos principalmente de nozes de cola e de muitas outras coisas. Depois de treze dias, os seguidores preparam um relatório para seus superiores que permite que eles mais tarde possam se juntar às respectivas famílias, após o ritual. Refira-se que esta cerimónia é renascer das cinzas graças ao Festival Internacional de Culturas do Danxome iniciado pelo conselho municipal da cidade de Abomey. Em dezembro de cada ano o festival tem lugar, e os jovens do Planalto do Dahomey viram os momentos decisivos durante o "Gnidji".


In: http://www.actubenin.com/
(Ano 2009).

Um comentário:

Felix Marinho disse...

É triste sabermos que o culto ao Vodun Zomadonu encontre-se em vias de extinção, precisando tornar-se uma atração turística para poder assegurar sua sobrevivência. As informações que nos chegam através deste texto informativo é imensamente contrastante aos relatos deixados por Pierre Verger, que expressam toda a magnitude, opulência e solenidade das cerimônias aos Tohossos no passado. Enfim, são os tempos contemporâneos, conturbados e de tão pouca fé.