Os Huedas eram oriundos de Ayó (Oyó) eram ayonus, portanto um
povo de origem iorubá e em êxodo chegaram ao Vale do Uemê,
território Mahi, até a cidade de Tado, quando imigraram rumo ao sul.
Enfrentaram muitos problemas devido ao grande número de
imigrantes nas áreas, muitas vezes deficientes, em que se
instalaram, então uma pequena parte deles prosseguiu na rota sul
pela margem do Rio Mono chegando à Agonmeseva.
Sob a liderança de um príncipe de Tado denominado Ahoho,
eles chegaram à Região de Guezin e rumaram para Huetokpa
em Savi, Uidá, onde se deu início ao que seria o futuro reino e que
mais tarde esse reino passa a fazer parte das conquistas do Rei
Agajá como uma possibilidade de expansão para a costa marítima,
sem ter que pagar tributos ao reino vizinho.
Por todo o trajeto migratório, os Huedas por onde passavam e onde
se estabeleciam de forma provisória para descansar e conhecer
melhor a terra, propagavam o culto sagrado ao vodum Dan
Aydohwedo, a serpente sagrada, denominada Gbé (Gbè) pelos
mahis, e que significa vida (Gbesen- espírito da vida- Gbessem).
Os mahis denominaram a árvore sagrada de Gbessem
(Newboldia laevis) por Ahoho, fazendo alusão ao príncipe.
Uma lenda conta que a serpente sagrada veio do céu para a
Terra enviada por Mahu (a deusa suprema) para proteger a todos
os voduns nagôs, e também dar a sua benção e proteção aos seus
filhos.
O culto a Gbé em Abomey foi estabelecido na floresta sagrada de
Gbé, o Gbezum (Gbèzun), local onde dizem que o vodum,
em certa ocasião, apareceu para um homem chamado "Ja"
-a palavra Ja significa "ver, enxergar"-, quando ele caminhava
pela floresta, mas não apareceu de imediato, ele ouviu alguém
cantar uma canção olhou, olhou e não viu ninguém, ficou
muito assustado, então, foi embora.
Preocupado com o acontecido decidiu retornar ao local para
procurar quem cantava, e a musica continuou, só que o ritmo
agora estava mais acelerado, mas Ja nada via… Não havia
ninguém ali, a não ser ele mesmo! Resolveu procurar um sacerdote
do Fá (um bokonon, um adivinho) e se foi… O adivinho consultado
lhe disse que a música que ele ouviu estava sendo cantada pelo
vodum Gbé, um vodum que teria vindo de Jaluma para habitar
naquela floresta.
No dia seguinte, obviamente para cumprir algum preceito sagrado
da adivinhação, determinado pelo bokonon, Ja penetrou na
floresta pela manhã, bem cedo, e pode ver quem entoava aquele
cântico: uma grande serpente com duas cristas vermelhas na
cabeça que estava toda enrolada em uma árvore, era o vodum Gbè.
Por essa razão até hoje Ja carrega o presente para Gbessem
nos terreiros de Candomblé Jeje Mahi quando é realizado o "boitá"
(Gbo-etá, que significa carregar sobre a cabeça), essa lenda
justifica também a razão pela qual as árvores consagradas ao
vodun Gun são genericamente denominadas Jassu, pertencem a
Gun Ja (Ogum Já), assim como o vermelho das cristas da cabeça
de Gbé é a cor de Ogum entre os nagôs, o povo protegido por Gbé.
Uma cantiga muito entoada nos candomblés de Jeje Mahi lembra:
Ja, Ahoho kpekpele,
Ja, Ahoho kpekpele
Kpekpele! Gunja nde
Aholu Gbesen nde
Kpekpele! Gunja nde,
Aholu Gbesen nde.
Veja tem pato no Ahoho
Veja tem pato no Ahoho
Pato! Ogunjá está chamando,
Chamando o Príncipe Gbesen.
Pato! Ogunjá está chamando,
Chamando o Príncipe Gbesen.
Obs kpekpele (pepelé) vem do iorubá kpekpeye.
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Vídeo:Prof Dr David Koffi Aza da Aunor
Dã Kó (cantiga)