terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Gbessem, o Espírito da Vida.




Os Huedas eram oriundos de Ayó (Oyó) eram ayonus, portanto um 

povo de origem iorubá e em êxodo chegaram ao Vale do Uemê, 

território Mahi, até a cidade de Tado,  quando imigraram rumo ao sul. 

Enfrentaram muitos problemas devido ao grande número de 

imigrantes nas áreas, muitas vezes deficientes, em que se 

instalaram, então uma pequena parte deles prosseguiu na rota sul 

pela margem do Rio Mono chegando à Agonmeseva.


Sob a liderança de um príncipe de Tado denominado Ahoho, 

eles chegaram à Região de Guezin e rumaram para Huetokpa 

em Savi, Uidá, onde se deu início ao que seria o futuro reino e que 

mais tarde esse reino passa a fazer parte das conquistas do Rei 

Agajá como uma possibilidade de expansão para a costa marítima, 

sem ter que pagar tributos ao reino vizinho.

Por todo o trajeto migratório, os Huedas por onde passavam e onde 

se estabeleciam de forma provisória para descansar e conhecer 

melhor a terra, propagavam o culto sagrado ao vodum Dan 

Aydohwedo, a serpente sagrada, denominada Gbé (Gbè) pelos 

mahis, e que significa vida (Gbesen- espírito da vida- Gbessem).

Os mahis denominaram a árvore sagrada de Gbessem 

(Newboldia laevis) por Ahoho, fazendo alusão ao príncipe.


Uma lenda conta que a serpente sagrada veio do céu para a 

Terra enviada por Mahu (a deusa suprema) para proteger a todos 

os voduns nagôs, e também dar a sua benção e proteção aos seus 

filhos.

O culto a Gbé em Abomey foi estabelecido na floresta sagrada de 

Gbé, o Gbezum (Gbèzun), local onde dizem que o vodum, 

em certa ocasião, apareceu para um homem chamado "Ja" 

-a palavra Ja significa "ver, enxergar"-, quando ele caminhava 

pela floresta, mas não apareceu de imediato, ele ouviu alguém 

cantar uma canção olhou, olhou e não viu ninguém, ficou 

muito assustado, então, foi embora. 

Preocupado com o acontecido decidiu retornar ao local para 

procurar quem cantava, e a musica continuou, só que o ritmo 

agora estava mais acelerado, mas Ja nada via… Não havia 

ninguém ali, a não ser ele mesmo! Resolveu procurar um sacerdote 

do Fá (um bokonon, um adivinho) e se foi… O adivinho consultado 

lhe disse  que a música que ele ouviu estava sendo cantada pelo 

vodum Gbé, um vodum que teria vindo de Jaluma para habitar 

naquela floresta.


No dia seguinte, obviamente para cumprir algum preceito sagrado 

da adivinhação, determinado pelo bokonon, Ja penetrou na 

floresta pela manhã, bem cedo, e  pode ver quem entoava aquele 

cântico: uma grande serpente com duas cristas vermelhas na 

cabeça que estava toda enrolada em uma árvore, era o vodum Gbè.

Por essa razão até hoje Ja carrega o presente para Gbessem 

nos terreiros de Candomblé Jeje Mahi quando é realizado o "boitá" 

(Gbo-etá, que significa carregar sobre a cabeça), essa lenda 

justifica também a razão pela qual as árvores consagradas ao 

vodun Gun são genericamente denominadas Jassu, pertencem a 

Gun Ja (Ogum Já), assim como o vermelho das cristas da cabeça 

de Gbé é a cor de Ogum entre os nagôs, o povo protegido por Gbé.

 

 

 Uma cantiga muito entoada nos candomblés de Jeje Mahi lembra:


Ja, Ahoho kpekpele,

Ja, Ahoho kpekpele

Kpekpele! Gunja nde

Aholu Gbesen nde

Kpekpele! Gunja nde,

Aholu Gbesen nde.


Veja tem pato no Ahoho

Veja tem pato no Ahoho

Pato! Ogunjá está chamando,

Chamando o Príncipe Gbesen.

Pato! Ogunjá está chamando,

Chamando o Príncipe Gbesen.

 

Obs kpekpele (pepelé) vem do iorubá kpekpeye. 

................................................................................ 


 


Vídeo:Prof Dr David Koffi Aza da Aunor

Dã Kó (cantiga)


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Ogum Timbiri

 

Gou- Escultura de Akati no Museu do Louvre (Wikipedia).


Ogum foi uma divindade muito aclamada pelos seus fiéis durante guerras, revoltas e batalhas pelo fato de ser vencedor de demanda. 

Destaco aqui, em breves linhas que alguns adeptos da Umbanda de hoje consideram Ogum Timbiri como se fosse uma  entidade japonesa associada à Linha do Oriente. Na época da segunda grande guerra surgiu nos terreiros de Umbanda do Rio de Janeiro um lindo ponto cantado que fazia referência à Ogum Timbiri e dizia: "olha as ondas do mar oh! Japonês, olha as ondas do mar; segundo outros entoadores olha as costas do mar oh! Japonês, olha as ondas do mar!" Como quem diz: presta atenção japonês, você vai perder essa guerra… Não devemos associar Ogum a nenhum regime político, sequer imaginar que a divindade seja excludente de alguma raça, o papel aqui para os seus seguidores é o de intercessor. 

Quando dizemos Ogum Timbiri (Ogun ti igbi ri) estamos dizendo que Ogum foi visto pelas ondas. 

No candomblé alguns cânticos de Timbiri tenderam a se confundir com Biriri, e até mesmo com Tiriri. Numa dessas cantigas é dito ele ser o primeiro chefe de Kpossu, o primeiro chefe do campo de batalha de Kpossu (Ogun Timbiri ta nu Kpossu ta de, Ogun Timbiri ta nu Kpossu Gbeta).   

Ogun yè!   

Ponto cantado

Ponto cantado 2 

 

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Akandji

 

     
Gritz de milho do Armazém Túnis (web).   

 

Você conhece akandji?

Muito tradicional no Benim, o akandji é uma saborosa iguaria de milho 

que acompanha o café da manhã, o lanche e as refeições em geral.

 

Os grãos de milho para a produção do akandji são selecionados, então

lavados e escorridos. Daí vão ser moídos, assim é no preparo 

tradicional.

O milho triturado é peneirado, resultando em três produtos: a farinha, 

o gritz e o farelo, este último é dispensado no preparo da massa.

 

O gritz e a farinha de milho são umedecidos com água e depois 

enviados de volta ao moinho para uma segunda moagem. Um terço da 

farinha é lavada em água e colocada para ferver, produzindo uma pasta 

que é deixada para resfriar à temperatura ambiente. 

O restante da farinha, pequena quantidade de açúcar e farinha de trigo 

segundo alguns preparadores, sal e fermento biológico, são misturados.  

Tudo é bem amassado e sovado até que se forme uma massa 

visivelmente bem homogênea, então coloca-se para descansar por cerca 

de 60 minutos. Após este tempo, a massa é enrolada com folhas de 

bananeira, de araruta ou de taioba e posta para assar por cerca de 

45 min em forno pré-aquecido, aos 180ºC.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Eliminando Intrusos No Celular.

 


 

 

Se você anda desconfiado de que exista grampo por desvio em suas chamadas de celular, Whatsapp e mensagens de texto ligue *#21# no seu celular que irá aparecer uma mensagem dizendo se existe algum desvio, caso exista e você queira eliminar a intrusão digite ##21# que será eliminada. 

Fica a dica! 🤗

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Vodum Legba, Uma Divindade Tutelar Entre os Fons do Benim.

 

 


 

Segunda-feira, 10 de janeiro, feriado no Benin, comemora-se o festival 

anual do Vodun, festival instituído por lei de 20 de agosto de 1997. 

Nesta ocasião, La Croix Africa foi descobrir uma das divindades mais 

difundidas do país, o Vodun Lègba.

No misticismo Vodun, Lègba é considerado uma divindade tutelar. “  

Na categoria de deuses tutelares, colocamos os espíritos assumindo 

funções especiais na conduta e no destino dos homens (…). 

Dentre esses Vodun, está Lègba que exerce múltiplas funções. (1) 

explica o professor Jérôme Alladayè, historiador das religiões. Ele é 

apoiado pelo professor Dodji Amouzouvi, sociólogo das religiões, que 

afirma que “  na constelação Vodun, Lègba aparece como uma entidade 

central ”.


Tendo em vista essa precedência no panteão Vodun e suas diversas 

funções, essa divindade é muito difundida no Benin. É encontrado em 

residências e também em espaços públicos. Referindo-se aos tipos de 

Lègba existentes, o professor Mahougnon Kakpo, especialista em 

literatura oral sagrada, afirma: "  Lɛgba: é a divindade protetora 

encontrada na entrada de uma casa (Agbonu Lɛgba), de uma cidade 

(To Lɛgba), de um convento (Hun Lɛgba), um mercado (Axi Lɛgba)  ”. 

(2)


Obviamente, a implantação do cristianismo por quase dois séculos no 

Benin parece não ter, por enquanto, superado o culto prestado a essa 

divindade por alguns beninenses. Lègba continua, de fato, sendo objeto 

de oferendas, sacrifícios propiciatórios, etc.

 


O deus de mil funções.

 

Muitas funções são atribuídas a Lègba. O professor Paulin 

Hounsounon-Tolin, aponta que no Benin, “  Lègba faz o papel de Hermès,

serve como um guia necessário para o sucesso de qualquer negócio  ”. 

O filósofo acrescenta: “  A mitologia Fon [o grupo étnico majoritário na 

nota do Editor do Benin] concebe cada divindade como sendo capaz de 

entender e se comunicar apenas em sua própria língua. Lègba era a 

única divindade capaz de LPcompreender todas as línguas e permitir, 

ipso facto, que as outras divindades se comunicassem entre si  ” (3). 

Ao Professor Alladayè para ir mais longe: “  É para acelerar esta 

intercessão que cada panteão Vodun tem o seu Lègba  ”.

 


Para ler: 

A fé cristã diante do vodun.

 

Lègba também é a divindade protetora. “Lègba é o guardião do templo. 

Ele garante a segurança e proteção daqueles que confiam nele. 

Seu seguidor confia a ele o começo e o fim de todas as coisas, o 

começo de seu dia, de suas atividades para que prosperem” , explica o 

professor Amouzouvi. Além disso, completa o professor Alladayè, “  

Lègba é regularmente invocado e chamado para proteger contra o mal  ”

e, ao contrário de certas crenças, “  ele não está ali para fazer o mal ou 

perturbar o destino do homem  ”.

 

O desafio de estetizar as práticas Vodun.

 

Não se pode apresentar a divindade Lègba sem mencionar o fato de 

que, em certos templos, as abundantes oferendas e os numerosos 

sacrifícios aos quais a divindade é submetida diariamente às vezes dão

origem a um monte de sujeira em seu ambiente; daí o desafio da 

estetização das práticas em torno da divindade. Esta observação 

compartilhada por muitos cidadãos beninenses entrevistados no 

prelúdio do festival Vodun, ao que parece, pode até ser estendida a 

outras divindades Vodun.


Questionado sobre o assunto, o professor Amouzouvi acredita que 

aqueles que fazem essa crítica às práticas do Vodun em geral e ao 

Vodun Lègba em particular, “o fazem por ignorância ou por má 

comparação” . Colocando as coisas em perspectiva , ele questiona a 

consistência da observação: “  você vai a certos templos em Lègba, 

quer sentar, comer e até dormir; você vai nos outros, tem moscas  ”. 

No entanto, o académico reconhece que “  é uma questão de 

sentimento, da sensibilidade de cada um perante o seu Vodun, o seu 

Lègba, garantir uma certa limpeza, estética e beleza à sua volta.  »


Juste Hlannon (Cotonou)

(1) Jérôme Alladayè, Le catholicisme au pays du Vodun, Cotonou, 

Éditions du Flamboyant, 2003, p. 35.


(2) Mahougnon Kakpo, La Naissance de Fa. L’enfant qui parle dans le 

ventre de sa mère, Cotonou, Laha Éditions, 2018, p. 159.


(3) Paulin Hounsounon-Tolin, Éducation et décolonisation culturelle de 

l’Afrique. Éléments et situation de comparaison entre les Romains de 

l’Antiquité et les Fons du Bénin, Yaoundé, Éditions CLE, 2019, p.91.


In: https://africa.la-croix.com/vodun-legba-une-divinite-tutelaire-chez-les-

fons-du-benin/amp/   (acesso em 03/02/2023).


https://youtube.com/shorts/HuKQtaso2ig?feature=share




 Quer saber mais sobre Legba?  ifabimi@yahoo.com , na medida 
do possível. 👍

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

O Toxwyio Caracteriza de Onde Viemos.

 

 

Adjahutó, fundador de Allada. 

 

Um toxwyo é um ancestral de família (hennu vodun). Quando uma família ou grupo de famílias da mesma linhagem resolve se instalar em um local, primeiramente o toxwyo é instalado. Outrossim, quando partem em mudança de um local para outro, ele não pode ser deixado de lado, é carregado e reinstalado no novo local.

Muito identificável por ser o centro da comunidade, materializam-se na forma de árvores sagradas que podem ser Gameleiras, Cajazeiras, Paineiras, etc, de acordo com a peculiaridade do ancestral instalado.

Quando Adjahutó chegou em Allada instalou sua árvore sagrada, a Paineira, ela representa sua linhagem ancestral e é reverenciada até os dias atuais pelos descendentes.

 

 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Respeito às Tradições Ancestrais


O respeito às tradições de nossos antepassados é fundamental para que cada um de nós alcance boas coisas na vida, reverenciar suas memórias, dar continuidade nos eventos religiosos, nas casas de culto, nos cultos pelo qual passaram e conduziram é muito importante, se seus antepassados que são os fiéis depositários da bênçãos divinas não abençoarem sua vida, por certo você não será feliz, são eles que traçam o caminho certo, que dão a intuição de como agir corretamente na vida. Procure ouvir as vozes dos ventos e seguí-la. Bolu, Boyé!


Oturupon Meji
(Trukpin Medji)


II II
II II
I   I
II II



Pepe, awo ile;
Otita awo ode;
Alapaandede lo kole tan,
Lo kojuu re sodoodo,
Ko kanmi, ko kanke.
O waa kojuu re sodoodo;
Adifa fun Oyeepolu,
Omo isoro nife,
Eyi ti iyaa re o fi sile
Ni oun nikan sos lenje lenje.
Igba ti Oyeepolu dagba tan,
Ko mo ohun oro ilee babaa re mo.
Gbogbo nnkan re waa daru.
O wa obinrin ko ri;
Bee ni ko ri ile gbe.
Lo ba meeji keeta,
O looko alawo.
Won ni gbogbo nnkan oro ilee babaa re
To nda a laamu.
Won ni ki o lo
Si oju oori awon babaa re
Ki o maa loo juba.
igba ti o se bee tan,
Lo waa bere sii gbadun araa re
O nlaje,
O lobinrin,
O si bimo pelu.
O ni bee gege ni awon awo oun wi.
Pepe, awo ile;
Otita, awo ode;
Alapaandede lo kole tan,
Lo kojuu re sodoodo;
Ko kanmi, ko kande,
O waa kojuu re sodoodo.
Adifa fun Oyeepolu,
Omo isoro nife,
Oyeepolu o mokan.
Bepo le e koo taale ni,
Emi o mo.
Bobi le e koo fii lele ni,
Emi o mo.
Boti le e koo taa le ni,
Emi o mo.
Oyeepolu o mokan.
Gbogbo isoro orun,
E sure wa,
E waa gboro yi se.


Pepe, sacerdote de Ifá do interior da casa;
Otita, sacerdote do exterior da casa;
É o pardal que faz seu próprio ninho
E coloca sua entrada virada para baixo em curva;
E o ninho nem toca a água e nem arrasta na terra seca;
Mas, sua entrada aponta para baixo em curva.
Foi quem adivinhou Ifá para Oyeepolu,
Descendência daqueles que fazem os ritos tradicionais de Ifé;
Cuja mãe deixou todos sozinhos,
Quando ele era muito jovem.
Quando Oyeepolu cresceu,
Ele não sabia todos os ritos de sua família.
Sua vida tornou-se confusa.
Ele procurou uma esposa para casar-se, mas não achou nenhuma.
E ele não tinha paz na sua própria casa.
Ele, portanto, juntou dois cauris com mais três.
E foi a um adivinho fazer adivinhação.
Foi lhe dito que era por causa dos ritos tradicionais da sua família
Que ele havia esquecido,
Que ele estava naquela confusão.
Foi dito a ele para ir as sepulturas dos seus pais,
E pedir aos seus ancestrais poder e autoridade.
Depois que agiu assim,
Ele começou a gozar sua própria vida.
Ele teve dinheiro,
Ele desposou uma mulher,
E ele também teve filhos.
Ele disse que foi exatamente como seus sacerdotes de Ifá previram.
Pepe, sacerdote de Ifá de dentro da casa,
Otita, sacerdote de Ifá de fora da casa.
É o pardal que faz seu próprio ninho,
E coloca sua entrada voltada para baixo numa curva;
E o ninho nem toca a água e nem arrasta na terra seca;
Mas, sua entrada aponta para baixo numa curva.
Foi quem lançou Ifá para Oyeepolu,
Descendência daqueles que fazem os ritos tradicionais em Ifé;
Oyeepolu não sabia nada.
Se o óleo é a primeira coisa a ser colocada no chão,
Eu não sei,
Se o obí é a primeira coisa a ser colocada no chão,
Eu não sei.
Se o vinho é a primeira coisa a ser colocada no chão,
Eu não sei.
Oyeepolu nada sabia.

Todas as divindades e ancestrais do céu,
Apressem-se aqui,
E nos ajudem a fazer este ritual.


http://papoinformalpapoinformal.blogspot.com.br/2013/10/sopros.html


quarta-feira, 1 de julho de 2015

O Rei de Savé Nos Conta um Pouco de Sua Iniciação Real

Em seu aniversário de trono, sua majestade Adetutu Onishabe, nos conta um pouco de sua iniciação real.

"Sexta-feira, 1 de Julho de 2005 - 01 julho de 2015

Tem 10 anos do dia em que fui apresentado ao povo sob a árvore sagrada Idiyoko como o novo Rei de Savé.
Uso do Ade do Oba Ademonyegu Laleye (1947-1963), segurando na mão esquerda o iruke do Oba Adeleke Akinni (1976-2005), à direita o axé dos reis Akikenju que pertencia ao Oba Alamou Atunlutè (1880-1887).
Foi durante esta cerimônia que eu tive que falar em oração pela primeira vez os meus assuntos:
... Ao longo do meu reinado ó meu Deus e dos espíritos de meus ancestrais reais de Savé:
Que todas as coisas se conduzam bem em Savé.
Que nós não saibamos de nenhuma doença crônica.
Que saibamos que a mortalidade infantil reduziu, e a das mulheres e também dos jovens.
Que os problemas insuperáveis não entrem em Savé.
Que nós não provemos da guerra.
Que a boa sorte esteja conosco em todas as nossas empreitadas.
Que essa boa chuva refrescante possa cair regularmente sobre a terra de Ilu Shabe, n'ko tuba n'ko t'asé.


Passei anteriormente:
- Ritual de designação: quinta-feira, 23 de junho de 2005 cerca de 17 horas, onde eu estava "capturado" na mata nú e fui envolto em um lençol branca e conduzido por cerca de 2 km por 6 jovens robustos aos pés da árvore sagrada e fui passado por três vezes em volta dela antes de ser colocado dentro do "Ilé iku." Mestre de cerimônia: Agani Basolo de Otaa, assistido de seus dignitários do reino.
- Ile iku: quarto escuro onde eu estava trancado em silêncio e solidão, perdido em meus próprios pensamentos, não pronunciava qualquer palavra, e quando necessário só pode se comunicar através de gestos. Foi nesse período de nove dias que me foi ensinado comer coisas sagradas da realeza, incluindo o rei "Oba Jé" no verdadeiro sentido da palavra ...
A iniciação foi assegurada pelo Aganis Olu Osin, Basolo, Basaden, assistido por alguns Babas Ifa e Akikenju.
A sala contígua ao quarto escuro é ocupada por uma dúzia Inan (mãe) e Ifa e Akikenju que forneceram durante todo o dia, cuidados físicos e sobretudo espirituais do novo rei durante os nove dias de iniciação."

Feliz aniversário kabiyesi, vida longa ao rei! São os votos de todos nós brasileiros.

domingo, 14 de junho de 2015

Falando de Batuque Gaúcho



É irrefutável a presença jeje nas tradições afro-brasileiras do Rio Grande do Sul, não só pela presença dos aguedavis que tocam determinados tambores, mas também pelo vocabulário e certos preceitos realizados no terreiro.

Passar um ovo na pessoa pra retirar um trabalho feito proferindo uma certa reza, depois abrindo-o em um prato e em seguida furando-lhe a gema com uma agulha e por fim entregando-o para Legba em uma encruzilhada e ateando-se fogo é um preceito do Jeje. 

Semelhantemente se faz no Batuque para fechar feridas com um bife para Xapanã, ou se da para um cachorro de rua comer; quando um cachorro come um ebó na esquina é sinal que foi bem aceito por Legba, esse pensamento também vigora em Benim, ou aqui no Rio Grande do Sul seria uma simples associação sincrética de Xapanã (vodum nagô) com o santo católico do cachorro?

Estaria a charqueada relacionada com isso? Faria xapanã lançar feridas nos tropeiros por reverenciarem a Ogum com a carne de gado em um churrasco e esquecerem dele? Parece que sim, pois dentre as pessoas do culto as bicheiras causadas pelas moscas que afetam o gado e os indivíduos são costumeiramente associadas a Xapanã.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Benim: O Reino de Aladá

Mapa atualizado 


Benim: O Reino de Aladá

O reino Aizô de Aladá é um estado Africano pré-colonial localizado no sul da atual República do Benim. Fundado no final do século XVI, tornou-se um dos reinos mais importantes da costa oeste africana antes de sua conquista pelo Daomé do século XVIII.
A cultura deste reino foi amplamente divulgada para as Américas através do comércio de escravos. Muitas comunidades da diáspora negra nas Américas e do Golfo do Benim utilizam termos derivados de Aladá para descrever a si mesmos e suas culturas.

As origens
A data de fundação do reino de Aladá é difícil de se definir. A primeira referência a este reino parece atestada em um mapa português de 1539, onde é mencionado perto do reino de Benim, um lugar chamado Aridá e que parece corresponder à Aladá. A tradição, mítica, apresenta a fundação de Aladá, como resultado da migração de um príncipe do reino ajá de Tadô. Assassino de um rei ou de um príncipe local, e teve de fugir. Ele vai levar o sobrenome de Ajautó (literalmente "assassino de ajás"). Ajautó, ou um dos seus descendentes, e seus seguidores, em seguida, fundou o reino de Aladá depois de ser misturado aos povos indígenas, as pessoas nascidas Aizô.

O Reino
A capital do reino não está na atual cidade de Aladá, mas no local Togudo-Awute. Esta capital já foi conhecida pelos europeus pelos nomes de Assem, Zima ou Assimá. Em 20 km, era aparentemente povoada por 30.000 habitantes em 1660. Há uma cidade real composta por vários palácios, incluindo alguns com vários andares e cercados por muros. O reino se estendeu através de seus tibutários e de suas conquistas ao leste para a Nigéria, incluindo o estado iorubá de Apá; oeste, incluindo o reino de Uidá e ao norte, no início do século XVIII: o reino de Daomé.

Relações estrangeiras
Com um poderoso Golfo do Benim o estado Aladá foi um dos primeiros reinos a entrar em contato com os europeus nesta região. Estes contatos são feitos especialmente para o propósito do evangelismo. A linguagem do reino, aizô, por exemplo, foi a primeira língua do oeste africano escrita em texto com caracteres latinos na tradução de um livro de catecismo chamado "Doutrina Cristã" que data de 1658. Muitos dos comerciantes aizôs falam Português, que é a língua de comunicação entre europeus e aizôs no Reino.
O rei de Aladá ao trono em 1670, também é um Português, desde sua formação em um mosteiro na Ilha de São Tomé. Embaixadores do Reino de língua portuguesa, incluía o famoso Mateo Lopes, ainda foram enviados para a França para se encontrarem com o rei Luís XIV e estabelecerem um tratado de comércio entre seus respectivos reinos.
Os transatlânticos de escravos ocuparam boa parte dessas relações entre Aladá e Europa. A escala desse comércio vergonhoso era considerável, e as populações de Aladá pagavam um preço considerável.
Assim, em Cuba e no Haiti, os descendentes de populações de línguas e culturas gbe em geral são chamados arará ou radá que são deformações do nome Aladá. A palavra vudu é originária de línguas gbe e os escravos radás foram descritos como "verdadeiros seguidores do vodum", pode-se pensar hoje que as populações nativas tiveram um papel de liderança, mais do que a religião propriamente do vudu haitiano. O famoso Toussaint Louverture, também é apresentado como sendo proveniente da família real de Aladá, seu pai, na tradição, aparece como Gaou Guinou, seria o filho de um rei. A tradição real de Aladá apresenta o príncipe e general Gahou Deguenon como tendo tomado o caminho para as américas, como homem livre, em um barco francês de amigos. A tradição da família de Toussaint Louverture este, por sua vez, Gaou Guinou, cita-o como tendo tido de migrar como cativo depois de uma guerra.
Além dos europeus na costa, as relações externas do reino de Aladá é orientada principalmente para três estados: o império iorubá de Oió, hoje atual Nigéria; Uidá, localizada mais ao sul; e o Daomé ao norte.

Relações com Aladá
Com Oió parece ter sido as de um estado vassalo ao seu senhor. Oió, graças à sua cavalaria, foi premiado com uma vantagem militar sobre outros exércitos da região que não a tinha. Por causa de moscas tsé-tsé presentes nos reinos da floresta do oeste africano, não era possível se utilizar cavalos, particularmente vulneráveis a ataques por esses insetos. Graças à sua posição perto de populações ao norte do Rio Níger, Oió podia comprar cavalos de fulanis, um povo do norte, e formar uma cavalaria à cada vez em sua história, conquistando o reino de Aladá. A influência cultural de Oió em Aladá foi grande, e seus habitantes foram descritos por um contemporâneo viajante europeu como preferindo falar a língua do iorubá que eles consideravam mais nobre do que a deles, entretanto são os tributos pagos a Oió que realmente controlam o trato transatlântico praticado em Aladá. Além disso, o reino aizô devia prestar homenagem ao império iorubá.
O reino de Uidá era outro rival de Aladá. Apesar de ser um tributário, Uidá tentava repetidamente se libertar da tutela de Aladá. Para forçá-lo a pagar o seu tributo, Aladá alternava entre guerra e bloqueio do porto de Uidá. Partes externas, tais como Oió, o reino de Acuamu Akan (Gana) e o reino do Daomé foram solicitadas.
Em 1724 Sozo rei de Aladá, foi vítima de uma invasão pelo reino de Daomé, seu antigo tributário do Norte, apoiados por seu irmão, apresentado por viajantes europeus sob o nome: Hussar. Já enfraquecida por uma expedição punitiva de Oió e por revoltas internas de seus tributários Badagri, Ekpe e Uidá, Aladá inclinou durante uma batalha sangrenta de três dias em 1724. Agajá, o rei de Daomé, ignorou Hussar e instalou no trono, um filho de Sozo. Hussar, em seguida, procurou ajuda de Oió para retirar o Daomé de Aladá, o que se fez.
Após a partida das forças de Oió, Agajá reocupou Aladá e destronou Hussar. Alegando ser o sucessor dos reis de Aladá, Agajá mudou sua capital para perto do antigo local Togoudo Awute, criando uma nova cidade também chamada de Aladá, embora abandonada como capital em benefício de Abomé pelo sucessor de Agajá, o rei Tegbessu (1732-1774).
Aladá continua a desempenhar um papel fundamental na ideologia dos reis de Daomé, que irão considerá-la o topo, e oficialmente como o local de origem de sua dinastia, e como é frequente em África: onde eles voltarão após a morte.

De: Sandro Capo Chichi
In: http://nofi.fr/2014/10/benin-le-royaume-dallada/2521

Traduzido por Ifabimi.


sexta-feira, 17 de abril de 2015

Festa de Agassu em Allada

É noite, começam os cânticos ao soar dos atabaques e do gã e eis que a homenagem é consolidada pelos voduns que se apresentam de um a um para junto dos vivos reverenciarem o espírito da pantera sagrada em mais uma festa anual de Agassunon em Allada - Benin.


E aos poucos o sol vai surgindo e a festa continua. 


 Cada vodum apresenta seu traje, sua dança e seu modo de ser baixo os traços dos aladanus agassuvis.


                        
                                           Parabéns Dah Agassounon pela maravilhosa festa!




terça-feira, 7 de abril de 2015

Dokwín


Batata Doce (Wikipédia).

A batata doce (Dokwín) é originária dos Andes e daí se espalhou por todo o mundo. Este tubérculo foi a alimentação básica dos escravos apanhados pelo Daomé que eram vendidos e conduzidos nos navios negreiros para o Novo Mundo.
Pode ser consumida de muitas formas: cozida, assada, frita; etc. Com  ela é feita uma farinha básica para a alimentação, suas folhas, também comestíveis, são socadas e preparadas com carne ou peixe.

domingo, 5 de abril de 2015

Abokun

Sorgo - Foto Wikipédia.


O sorgo (abokun) é um alimento muito comum na África, na Índia e na América Central, participa de numerosas iguarias. No Reino de Daomé foi o segundo cultivo introduzido e até os dias atuais é muito apreciado no Benin.
É importante esclarecer ao leitor que a terminação kun (koun escrito em francês) significa grão. Assim temos "abo" a planta em si, e o sorgo adicionado do sufixo "kun" (grão), ou seja: abokun (grão de sorgo).

Likun

Milheto - Foto de Wikipédia.


O primeiro cultivo no Reino de Daomé foi o do milheto (likun). Esta planta possui origem no norte da África e se estende inclusive por todo o Sahel, e do continente africano foi introduzida na Índia. Seus grãos são triturados para o preparo de sua farinha fina, suas folhas fornecem palha muito utilitária e que é alternativa energética, substituindo muito bem o uso do carvão, além de fornecerem ótima forragem para o gado quando verdes e picadas e serem ótimo adubo quando curtidas no solo. Suas raízes tornam a terra mais arejada e descompactada com o plantio. Adapta-se muito bem sob várias condições climáticas, inclusive onde há escassez de água.
Com likun se prepara uma pasta comestível denominada wo, o lio que também é um tipo de acassá e uma bebida muito conhecida nos cultos de vodun denominada lihàn.

terça-feira, 10 de março de 2015

As Azens



(...)
l. Cerâmica de uso doméstico
- De grande capacidade para continência de líquidos (óleo
ou água), preparação de produtos alimentares (à base de óleo de palma, farinha) e a preparação de índigo.
-Com capacidade média para transporte e conservação da água  (toizen); na preparação de alimentos (nudazen); na higiene pessoal (wulegban) e para conter o fogo da cozinha (adokà) ou como lâmpada à óleo (zogben).
-Com pequena capacidade para derreter metais (ganzen).

2. O uso da cerâmica ritual
-De vários tamanhos e formas para a observância dos ritos de Vodun.
-De ânforas sem alças como instrumentos musicais (bateria).

Cerâmica se diz "zen" em fongbe e "zin" em gungbe. Cada tipo de vaso é conhecido por um nome que revela sua função. Conhecer os objetos pelo nome é de qualquer forma tê-los em seu poder. (Brand 1972, p. 104).
(...)


Trecho de:
Poterie domestique et rituelle du Sud-Bénin: étude ethnoarchéologique.
(Meirelle David).

No Brasil, especialmente no Estado do Maranhão são conhecidas as azeneiras, ou azenheiras, que são mulheres que trabalham no ofício de oleiro de uma forma primitiva e tradicional. Azen, ou zen em fon é o utensílio de barro, a panela de barro de uma forma geral.
.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Já é 2015.


Passa Janeiro, mês de muita importância dentro do Jeje porque reverenciamos a memória dos nossos antepassados reais e realizamos as tarefas necessárias para o ano que começou.
2015 será um ano difícil para todos os povos, um ano de altas e baixas, podemos assim dizer, mas por outro lado tudo o que for feito em prol do Meio Ambiente e da Saúde Pública será muito bem acolhido e chegado em boa hora, afinal estamos em um ano governado por Agué que conhece a natureza e a propriedade das folhas.
Lembrando um Fá du: o homem não possui a doença, ela repousa na mata. Destruindo a mata ela recairá sobre o homem, e é na mata que está a cura para as doenças humanas e ambientais.
Roguemos a Avievodum e a Agué por um ano de 2015 abençoado!


Da gbo si aó!

domingo, 28 de setembro de 2014

Em 2014 é Dilma 13

Dilma na convenção do PT em Salvador (27/6),
Foto: Heinrich Aikawa - Instituto Lula.

Caros leitores, amigos e irmãos: aproxima-se a eleição e com isso seria muito bom que cada um de nós fizesse um exame de consciência sobre em quem devemos votar. Nosso voto é uma arma e pode mudar o destino da nação e com ela o destino de cada um de nós, essa arma pode nos defender ou agir contra nós mesmos. Lembro as palavra do compadre da saudosa Cacilda de Assis, o Exu Rei das Sete Encruzilhadas da Lira: "Nem todo bem é bem, nem todo mal é mal. Há coisas boas que se tormam más e há coisas más que se tornam boas. Não nos deixemos iludir." Gostaria muito que cada um de nós que professa, e ao que segue a nossa espiritualidade, confiasse seu voto para candidatos relacionados à nossa fé e que desde já desmostram-se participativos no combate à intolerância religiosa, a perseguição aos nossos terreiros e nossos locais sagrados. Lutamos por um estado laico onde o direito da liberdade religiosa seja defendido para todos os cidadãos. Mudar é continuar avançando sempre como temos avançado nos programas sociais do governo, e não por em risco a sua continuidade e o seu desenvolvimento. Não olhe tão somente para o seu candidato, mas pelo que tem feito, além de promessas, e por quem o auxilia na elaboração do programa de governo, por esta razão estou com Dilma Rousseff 13 neste dia 5 de Outubro e peço o seu voto e também para os inúmeros irmãos de fé que são candidatos a deputado federal, estadual e senador por esse imenso Brasil a fora!
Um bom domingo a todos.
Da gbo si aó!

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sakpata e a Epidemia de Varíola



Antigamente não se pronunciava o nome Sakpata , dizia-se Azon (de azɔn- doença). Azon era um jovem rapaz que vivia no meio do mato. Havia um homem, um comprador de escravos, que deixou Ajá a procura de escravos para trabalhar na roça. Em seu caminho ele conheceu o pai e a mãe de Azon que o venderam para ele. O comprador de escravos retornando, levou consigo Azon e deu-lhe uma enxada e um pedaço de terra para trabalhar dizendo-lhe o que ali deveria ser feito. Azon fez o serviço, mas não foi feliz nele, ele não arou, não plantou batatas doces que deveriam ser plantadas e quando lhe serviam comida ele não comia, ele não queria comer do milho grelhado. O tempo passava e nada era feito, foi então que seu Dono com raiva, agrediu Azon empurrando-o, e Azon e disse : Ah! -É por isso que quando as vodunsis de Sakpata são possuidos por ele, elas gritam Ah!- Após esse empurrão, todas as crianças de dois ou três anos começaram ali a ter sarampo e os mais velhos a terem varíola e estas doenças tomaram toda aquela aldeia imediatamente. As pessoas de Ajá estavam atemorizadas, toda a gente estava preocupada e resolveram consultar Fá. A consulta revelou uma grave ofensa a uma pessoa, e essa pessoa era um vodum, todos muito assustados perguntaram se poderia ser o escravo que está na casa do comprador e Fá respondeu que sim, era ele. O que eles deveriam fazer para contornar a situação? Questionaram. Fá disse: Apenas deixem que ele vá embora.
Os aldeões, então, foram ver o escravo Azon que estava cantando uma canção:
“O fogo começou em Aja
E assim Aja veio demitir
É isso o que Aja pode fazer para Azon?”
Quando ele terminou sua canção , o chefe da aldeia disse que ele poderia sair e ir para casa. Azon depois voltou para seus pais e disse a seu pai que o vendeu, que errou de propósito com eles com o intuito de voltar para casa, mas como Azon se comportou mal e fez toda essa confusão seu pai considerou como se ele não fosse mais um de seus filhos e deveria ser separado de seus irmãos, então, irritado porque Aja não queria Sakpata ele deu o rapaz para os Kajanu, que eram os nagôs que habitavam em Badagri.
Assim, desde aquela época Azon ficou conhecido como Sakpata (varíola), devido a esta epidemia.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Lenda de Sakpata e Gun




O direito de se abrigar

Certa vez Sakpata resolveu fazer uma viagem com seus filhos e tomou a estrada, e eis que começou a chover forte no lugar que passavam e percebendo que estavam se aproximando da casa de Gun, bateu ali e pediu abrigo para ele e os seus, até que a tempestade passasse e Gun imediatamente convidou-os para entrar. Passado o temporal, Sakpata decidiu retornar com os seus à estrada e prosseguir a viagem, agradecendo a Gun pela acolhida, mas ele respondeu que por sorte foi naquele dia, se fosse um dia depois, não estaria ali para acolhê-los. Sakpata com espanto perguntou por que razão não estaria? Gun respondeu que no dia seguinte seria julgado pelo rei e que de certo lhe condenaria a morte por ter descomprido sua ordem: O interdito do povo construir abrigos, como o que fez, então, Sakpata resolveu ficar até o julgamento para defender Gun.
Chegando ao julgamento, o rei pergunta aos seus qual o melhor meio para matar Gun, e decidem que seria pelo fogo, imediatamente Sakpata, muito temido pela variola, surge ali em sua defesa e pergunta ao rei se ele habita em uma casa, e ele responde que sim, foi Máwu que lhe deu esse direito, e Sakpata responde: Se o rei habita em uma casa porque razão as pessoas teriam de viver debaixo do sol?
Sakpata levanta a Gun trazendo-o para seu lado e grita: Quem ninguém toque em Gun, pois ninguém é obrigado a viver ao relento! Imediatamente o rei e os seus conselheiros se calaram, e desde aquele dia o povo daquela cidade pode edificar os seus abrigos sem ficar à mercê do sol e da chuva.