"Loso Medji adverte: os excessos fazem mal à saúde, tenha moderação."
PAPOINFORMAL é voltado a tradição cultural religiosa afro-brasileira do candomblé da nação Jeje, e em especial do segmento Mahi no Brasil.
sábado, 28 de dezembro de 2024
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terça-feira, 3 de dezembro de 2024
História do Reino de Shabé
Ao leitor interessado em História da África com ênfase na expansão iorubá, reproduzo um texto que me foi compartilhado em 21 de Setembro de 2015 pelo amigo Príncipe Serge Guezo por ocasião do décimo aniversário do trono de Sua Majestade Adetutu Akemu Onishabé, ogolato!
" Bonjour mon ami,
HISTÓRIA DO REINO DE SHABE
A história cultural do povo iorubá de onde vem o povo Shabè é dividida em cinco períodos:
- A era paleolítica
- A era Neolítica
- A idade de ouro subdividida em duas fases: a fase Ifè (1086-1550) e a fase Oyó (1550-1793)
- A era da anarquia (1793-1893)
- A era de transição (1893 até ao presente). (Oluremi I.Obateru. A cidade iorubá na história; páginas 69-75)
Ilê Shabè seria fundada durante o período da idade de ouro (fase Ifé) por Onishabè um dos netos do primeiro Oni de Ife que não é outro senão Oduduwa, o ancestral mítico dos iorubás. Na verdade Okambi filho de Oduduwa teve sete filhos que são: (Samuel Johnson. A História dos Yorubas, páginas 7 e 8)
- Iyunadê (a mãe do primeiro Olowu de Owu) na Nigéria.
- A mãe de Alaketu na República do Benim
- O Oba do Benim na Nigéria
- Orangu Ila na Nigéria
- Onisabe de Sabe na República do Benim
- Onipopo de Popo na República do Benim
- Oranmiyan na Nigéria
Foi durante o mesmo período da idade de ouro que Oyo e Ketu foram criados por outros dois filhos de Oduduwa.
A chegada destes descendentes de Oduduwa à região de Shabé correspondeu à criação de várias tribos autónomas, das quais as mais importantes são Ilé Shabé, Jabata, Kaboua, Kokoro, etc. Essas tribos tinham estruturas políticas próprias chefiadas por chefes chamados Olu ou Ola. Por exemplo, podemos citar Ola Ojodu de Ilé Sabè, Olu Kabée de Jabata, Olu Sininka de Kaboua, Ola Yembe de Kokoro, etc.
Diz-se que o grupo Babaguidaï é originário de Oyó, de onde emigraram via Boko no país Bariba, onde permaneceram por muito tempo antes de retornar ao país Shabè. Esta migração é liderada por Olata e Babaguidaï até à sua instalação em Kilibo.
Olata, também conhecido como Ali, irmão agnático de Babaguidaï, fundou a chefia de Kilibo e estendeu a sua hegemonia na região através dos seus descendentes que criaram sucessivamente as localidades de Ikemon, Montèwo, Toui e Ayédèro.
Mas esta primeira chefia de Kilibo encontraria um rival potencial em Baba Guidaï, que criaria o poder por conta própria em Kaboua. Ele não deveria agir contra seu filho mais velho enquanto ele vivesse, mas após sua morte, surgiram rivalidades pela sucessão e Baba Guidaï contribuiu para a dispersão da aldeia de Olata.
Um segundo Kilibo seria fundado posteriormente por Yayi Shépo, sobrinho de Obá Otewa e neto de Olata (através de sua mãe), a alguma distância da instalação original no local onde fica a residência Balè e que foi designado, precisamente, como Ajugun Olata.
Babagudaï, nascido por volta de 1680 em Boko, sabendo que qualquer esperança de acesso a uma posição de liderança era em vão, deixou Kilibo para fundar a chefia Kaboua.
Babaguidaï impor-se-ia em Kaboua onde se tornaria uma personagem importante e essencial do seu tempo, os seus filhos recolheriam uma sucessão bem preparada: Biaou Olodumaré recebeu o título de Balè em Kaboua, Yayi Olukoyibi tornou-se Olá Obé primeiro Rei do Omo da dinastia do governante de Babaguidaï em Illê Shabé.
Olá Obé era filho de Jinmi, a jovem esposa de Babaguidaï, filha de Olu Kabéé do Senga de Djabata. Jinmi teve outro filho, Chabi, que teria ido para o país de Bariba e um terceiro Biaou, que não seria filho de Babaguidaï. Este último irmão uterino de Olá Obé será falado mais tarde ao entronizar-se Rei em Shabé com o nome de Olá Aïmon, foi contestado e destronado retornou à Djabata para seu avô materno Olu Kabee Agani (sacerdote) de Oduduwa que lhe concedeu o cargo de Balé de Djabata.
Através da sua união com Jinmi, o senhor de Kaboua finalmente conseguiu estabelecer uma associação com o grupo de Jabata, detentor do grande orixá Oduduwa.
Para seu filho mais novo Yayi Olukoyi, Babaguidaï obtém em casamento uma filha do Jalumon que seria filha de Agani Basalè chamada Ado na época, ainda é uma aliança muito útil já que os Jalumon são os maiores senhores do sul do país onde na altura só partilhavam o poder com os reis Amushu.
Assim, Babaguidaï afirma e amplia o seu poder através da sua acção própria e directa, bem como através das alianças políticas e matrimoniais que consegue estabelecer. Seu trabalho deve ser continuado por seus descendentes.
Olá Obé consolidou o seu trono ao expulsar definitivamente os Amushu com o apoio dos Jalumon, Kaboua e Jabata, nem é preciso dizer. A sucessão de Olá Obé será assegurada pelos seus dois filhos Olá Monen (1769-1795) e Obá Akikenju (1798-1825) que se sucederão no trono de Shabè, isto após um período de instabilidade, com Ola Jagbo (1765 - 1768) filho adotivo do rei Olá Obè que foi coroado rei sem o consenso de todos. Isto resultou em protestos muito fortes que levaram à sua eliminação.
Quanto a Biaou Olodumaré (1742-1768), recebeu da casa Kaboua a herança política do pai, para a qual muito contribuiu para a prosperidade. Ele próprio era, na época, já um personagem importante, sua reputação de guerreiro corajoso, intrépido e determinado lhe rendeu o lema: (akoni bay ka nise) que significa “o corajoso e valente que sempre sabe agir, o valente aquele que sempre encontra a solução certa…”. Tornou-se Balè de Kaboua por volta de 1742. Corajoso e empreendedor, era também um homem rico e chefe de uma grande família. Seu poder foi consolidado e aumentado também graças aos seus filhos que ampliaram o território do Omó Babagudaï fundando novas aldeias.
Foi na época de Biaou, por volta de 1746, que Shabé recebeu um influxo populacional relativamente grande com a chegada dos Gbassen, aproximadamente 25.000 pessoas, vindas do país Ashanti em Gana, estabeleceram-se no país Shabé com a autorização de Balè de Kaboua e fundaram vários aldeias como Okoufo, Gbedê, etc.
Woru Adinla, filho mais velho de Biaou, após o desaparecimento deste último, foi entronizado Balé de Kaboua. Mas isso não passou sem discussão, porque Ashadé Iba Monsia tinha ciúmes de seu irmão Worou Adinla. Nesta luta entre os dois irmãos interviria Ola Jagbo que, por instigação de Ashadé, mandou retirar Woru para ocupar o lugar deste. Finalmente Ashadé matará Olá Ajagbo.
Asadê Ibá Monsia, nascido de sua terceira esposa, Moreniké de Shaki, fundará a chefia de Kokoro. Ele abandonará Kokoro para seu filho Safaa Ediku pela chefia Kaboua após a morte de Woru Adinla
Yayi Pashi, filho de Woru Adinla, mais tarde fundaria a chefia Ouogui.
Balogoun Kotchoni, filho de Yayi Pashi, posteriormente fundou as chefias de Diho.
Badu Pashi, outro filho de Yayi, fundará Alafia.
Biaou Olodumaré era o “agbalagba” mais velho de todos os Omo Babaguidaï, era o poderoso Balè de Kaboua e também tinha algumas responsabilidades no trono de Shabè. Após o seu desaparecimento, um certo equilíbrio é quebrado, e oposições e rivalidades manifestar-se-ão, a diferentes níveis: primeiro o desacordo entre os filhos de Biaou Olodumaré, depois, por uma mudança lógica, as dificuldades irão opor-se a Kaboua e à capital real Savè. .
YAYI Oloukoyibi tornou-se, portanto, o primeiro rei da dinastia Omo Baba-Guidaï por volta de 1738 sob o forte nome de Olá Obé (1738-1765). Ele teve dois descendentes que o sucederam no trono e formaram as linhagens ou comunidades (Ola Monen) Ifaa e Akikenju que alternadamente sucederam ao trono como Onishabé.
Referências
- ANON, (1996): Notas sobre o país Sabè: III Cimeira dos Reis do Benin, Savè-Idadu, 12-14 de Janeiro de 1996/Comité Preparatório Nacional para a III Cimeira dos Reis do Benin.-Cotonou: Ceda 1996; 34h.
- MOULERO, Thomas (1964): História e lendas do Tcahbè. In “Estudos Dahomeanos”.-Porto-Novo: IFAN, 1964.
- PALAU MARTI, Monsterrat, Les Sabè-Opara: Pesquisa e materiais não publicados.-Paris; Maisonneuve e Larose, 1992: Livro 1: A História de Shabé e seus reis (República do Benin); Livro 2: Nome, família e linhagem entre os shabés. Livro 3: Sociedade e Política - A organização política e religiosa dos shabés.
- Tradições orais…."
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Believing in Sin, a Question of Religiosity.
The prophet Moses went up the mountain and received the Ten Commandments given to him by the God Yahweh. Later, other laws were created for the social control of those people. In this way, sin is understood as a transgression of the laws. In the same way, if you commit a crime, you transgress the law. Therefore, not sinning is the same as not transgressing the laws in force in contemporary society.
Imagine Moses coming down the mountain and saying that he himself was the one who made the commandments... If you believe, great, but there are those who do not believe and we must respect each person's right to think.
In the religion of Ifa, Eshu can recommend to the consultant during a divination, that he makes a sacrifice to be successful, as for success, this becomes dependent on his faith, on believing and offering to achieve the objective.
This fact does not mean that it is a crime (a sin) not to offer the sacrifice, but rather a lack of faith. Faith, not sin, is the basis of the Ifa religion. The moral code was gradually established in Yoruba society, primarily by the kings.
domingo, 1 de dezembro de 2024
Projeto PAPOINFORMAL 2025.
Caríssimo (a) leitor (a)
Em 2025 o Projeto PAPOINFORMAL retornará com toda força, e trazendo em seu início marcado para Janeiro, novidades, como o curso de Culinária da Costa da Mina e Nagô e o Curso de Conhecimento e Aplicação da Folha, ambos semi presenciais.
E esperando tê-lo (a) conosco por mais uma vez em 2025 lhe desejamos Boas Festas!💚🌿🍀🌈
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
Agbogbo, a Muralha.
"As muralhas de Notsé ( Ewe : Notsé Gliwo ; Francês : Murs de Notsé ) ou o Agbogbo e o Agbobovi é um recinto sagrado erguido em Notsé , Togo, entre os séculos XVI e XVII. As muralhas delineiam duas áreas diferentes, uma chamada "Agbogbo" e a outra chamada "Agbogbovi". Associadas à figura de Agokoli, o governante da cidade-estado , ganharam importância significativa na África Ocidental, pois a recusa em participar de sua construção teria causado o êxodo dos Ewe de Notsé , um evento considerado pelos Ewe como a origem de seu povo. Embora nunca tenham sido concluídas, pois a construção empreendida sob Agokoli teria levado à ruína da cidade, partes das muralhas ainda permanecem no início do século XXI." (Fonte Wikipédia)
São imensos blocos que foram confeccionados em lama, quem sabe uma interpretação diferente do que nos pode lembrar um bloco erguido em uma pirâmide egípcia, observado que o Agbogbodzi é um santuário. Sua construção é relembrada em ritos de passagem pela lama no Haiti e em outras partes da diáspora vodum, assim também em uma série de representações em montículos de argila e no agbogbô das saudações feitas às divindades onde pronunciam-se reverências como Ayigbogbo (muralha de terra) no Haiti e Ahogbogbo (muralha do rei) no Brasil.
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Uma parte da muralha |
sábado, 12 de outubro de 2024
Legados do Axé
Dia 19 de Outubro de 2024 é dia de subir a serra, vir para o Parque Nacional da Serra dos Órgãos em Teresópolis-RJ, e participar deste evento de resgate da nossa ancestralidade através do conto contado, participe e traga sua família.
domingo, 22 de setembro de 2024
Voe Direto Brasil x Benim.
Brasil e Benim encurtaram suas distâncias favorecendo os intercâmbios a partir de 2025. Por acordo celebrado entre a Bahia e o Governo do Benim, deixarão de existir as cansativas escalas.
Leia a notícia completa em: Aeroin
sábado, 14 de setembro de 2024
A Mesa de Hohovi
Uma imagem benta de Santa Bárbara, aqui simbolizando Oyá e Yassã, mãe dos filhos gêmeos, encabeça a mesa de tecido branco ou estampado em desenhos de flores que é estendido no chão da sala, onde as crianças entram e se alimentam. São os primeiros dos convidados a serem servidos nesse dia. A mesa é posta para sete em número simbólico, são sete meninos com até sete anos, as demais crianças também são servidas em outro local dentro da sala.
O almoço é acompanhado de sete cantigas referentes ao sagrado dia, e uma dessas cantigas faz referência à Santa Bárbara. Antes de tudo uma oração é feita em agradecimento a Avievodum (Maú; Deus) e roga-se a interseção de São Cosme e São Damião, dos Hohovi (Ibeji), dos gêmeos nos caminhos dessas vidas. Tossá, Tossé e Jogorobossu recebem cada um o prato preparado com caruru e farofa de farinha de milho no interior do recinto.
Nos sete pratos da mesa das sete crianças tem caruru que Xangô lhes oferece, omolocum de Oxum, farofa de farinha de milho com dendê que é alimento sagrado de Hohovi, banana-da-terra fatiada e frita no dendê que Dã e sua família oferece, o acarajé de Oyá e Yassan, o buruburu de Azonsu que é a pipoca estourada na areia de rio e o acassá que Olissá serve a todos os voduns nagôs. Aqui as mãos servem de talher, o que relembra tanto o cotidiano no passado em terra africana, quanto o Brasil anterior à chegada de Dona Leopoldina que introduziu o hábito de usá-lo. O repasto é acompanhado de sucos, refrescos ou refrigerantes para matar a sede.
Almoço consumado, o que sobrou é servido a todos os participantes do evento, inclusive aos adultos, e todas as crianças presentes recebem frutas, doces e regalos que constam de peças de vestuário e/ou brinquedos.
terça-feira, 27 de agosto de 2024
Mami Wata, Mãe das Águas.
"Mami Wata - Mãe das águas - Rainha dos mares e oceanos."
"O culto a Mami Wata, a deusa do mar e dos oceanos, não pode ser mencionado sem falar da religião que é o fundamento cultural dos povos dos Estados do Golfo do Benim: o vodu (ou vodun em Fon)."O reino de Danhomé (hoje Daomé) realmente instituiu esse vodun ao reunir de forma inédita o que já existia de forma díspar e não hierárquica entre os Ashanti de Gana e os Yoruba da Nigéria", explica o pesquisador e historiador Gabin Djimassé. Construído sobre uma cosmogonia hierárquica e estruturada, ele inclui inúmeros deuses (ou voduns) e entidades, espíritos ou poderes invisíveis que as pessoas se esforçam para conciliar a fim de obter favores. Ainda hoje, ele governa a vida cotidiana da maioria dos beninenses. No topo está Mawu-Lissa, o deus supremo que reina sobre todos os outros e nunca deve ser representado. Mawu-Lissa criou os voduns e deu a eles certos poderes que eles usam para presidir o destino humano, dentro dos limites estritos que Mawu-Lissa concedeu a cada divindade em um domínio que é exclusivamente reservado a ele. No Benin, esses voduns são divididos em seis famílias principais, que compõem o panteão. Eles podem ser identificados com as forças da natureza (relâmpagos, água, céu, terra), bem como ancestrais prestigiosos, na maioria das vezes aqueles de linhagem real. Estes incluem o deus Sakpata, o deus da varíola e, mais amplamente, da doença, Hebioso, o deus do relâmpago, e Agassou, o ancestral deificado dos Reis de Abomey, seu 'tohouio'. Todos esses voduns, por sua vez, deram origem a muitos descendentes, deuses mais ou menos importantes e um número infinito de combinações, com várias divindades sendo capazes de se associar entre si. Esses espíritos vivem com os humanos. Cada um deles tem sua área de atuação, seus atributos e funções específicas, além de ter seu representante na fauna e na flora. (...)
"Entre as entidades transversais, há também os Dan (espíritos da prosperidade),continua Gabin Djimassé. Entre eles estão o Dan da floresta, o Dan do cupinzeiro, o Dan das colinas e montanhas, o Dan dos cursos de água e, finalmente, o Dan do mar e do oceano, que, ao longo do século XIX, tornou-se o Dan do mar. No século XIX, assumiu o patronímico de Mami Wata". O nome é derivado de "Mãe água", que foi rapidamente transformado em "Água da mamãe", depois "Água da mamãe". Foram os ingleses, que vieram buscar ouro na costa de Gana e sucederam aos portugueses (em 1870), que deram esse nome à etnia Ashanti, que vivia perto da costa e adorava os espíritos da água. Ao contrário dos outros colonos, os ingleses eram tolerantes e apoiavam as práticas culturais locais. Eles associavam seu culto ao da sereia, um espírito aquático feminino. Alguns pesquisadores acreditam que a imagem da sereia foi introduzida na África por meio dos relatos dos primeiros marinheiros europeus a partir do século XV. Essa criatura mítica também era frequentemente retratada nas figuras de proa de seus navios. O fato é que divindades aquáticas ou lacustres já eram representadas há muito tempo, tanto na África Ocidental quanto na África Central. Na cultura Ibo da Nigéria, nós adorávamos osndi mmili, espíritos da água. Na civilização Kongo, esses espíritos eram conhecidos comombumba, e frequentemente se referiam a uma grande cobra. Finalmente, na Nigéria,Yemoja, cujo nome significa "A mãe cujos filhos são peixes" e que se tornou Iemanjá no Brasil, mãe dos orixás no Candomblé (religião afro-brasileira).
O culto de Mami Wata se espalhou além do perímetro costeiro para o norte. Ela é celebrada em uma área geográfica que reúne culturas e povos tão diversos quanto os Ibo da Nigéria, os Fon e Ewe do Benin, os Bamiléké dos Camarões, os Kongo do Congo e até mesmo o Togo. Seu culto cresceu em importância entre os séculos XV e XVI e o século XX e ainda está muito vivo.
Figura híbrida, meio mulher, meio peixe, meio terrestre, meio aquática, um espírito aquático temido pelos pescadores da Nigéria e Gana, uma devoradora de homens que vagueia pela noite africana disfarçada de fantasma, Mami Wata é uma bela mulher com cauda de sereia, abraçada por uma cobra ou acompanhada por uma cobra. Gabin ressalta que"o imaginário de Mami Wata foi fortemente influenciado por representações de deusas hindus, cujas reproduções circulavam da Nigéria". Ela também está muito presente nos mercados, outra alegoria do mundo invisível, onde as multidões atraem a luxúria dos espíritos malignos. Ela também aparece em bares, sempre disfarçada de uma bela mulher que atrai os homens e tenta seduzi-los."É uma entidade individual que os seguidores imploram e veneram para si mesmos ou coletivamente,observa nosso historiador. Os seguidores de Mami Wata a fazem ser uma Dan por direito próprio, mas isso não é verdade; ela não tem o mesmo poder de influência que os outros deuses das grandes famílias Vodun".No entanto, são atribuídos a ela múltiplos poderes e é temida. Ela pode trazer riqueza e felicidade, e ajudar a resolver problemas relacionados à procriação - infertilidade, impotência ou mortalidade infantil. Alguns a veem como uma presença sedutora irresistível que oferece os prazeres e poderes que vêm com a devoção a uma força espiritual. A grande maioria de seus seguidores são mulheres, iniciadas em um lugar chamadohounkpa(convento) por sacerdotisas chamadasMamisiiorMamissi. Neste convento, os impetrantes aprendem os passos de dança e as canções que executarão durante as cerimônias, bem como os rituais e proibições."Há dias reservados para o seu espírito, dias em que uma discípula de Mami Wata não deve se aproximar do marido. Você tem que ter muito cuidado com essas mulheres porque quando elas estão possuídas, seu comportamento muda, seu cheiro muda e elas podem ter explosões violentas. Você nunca deve levá-las para a água quando elas estão em transe", alerta Gabin. Durante as cerimônias, que podem envolver vários conventos, as iniciadas, adornadas com colares e pulseiras, usam longas saias brancas de algodão. Elas fazem oferendas à deusa e rezam enquanto avançam no mar, dando passos de dança que imitam o movimento das ondas, dobrando e esticando seus corpos e ondulando com suas mãos levantadas."Mami Wata só aceita produtos importados como oferendas: bebidas doces, milho cozido com açúcar ou mel, feijões e nozes. Sem esquecer muito pó e perfume", diz Gabin Djimassé.
Bernard Gabin Djimassé nasceu em 1959 em Abomey (Benin), onde vive. Depois de estudar sociologia, decidiu dedicar-se exclusivamente ao estudo da cultura Fon e da religião Vodun através do estudo dos seus conventos. Investigador e historiógrafo, é diretor do Gabinete de Turismo de Abomey e Região, e nesta qualidade realizou missões em França, Itália e Países Baixos. É autor de vários artigos sobre a cultura Abomey, incluindoA instalação de artistas e o patrocínio realpublicado pela Fondation Zinsou para o musée du quai Branly (2009) eVodun. Origem, prática contemporânea, percepção e incompreensão europeias e psicologia coerciva. É um Grande Iniciado da linhagem real Tohouio Agassu."
"Texto: Brigitte Postel"
"Este relatório apareceu na edição 4 de Natives, des Peuples, des Racines. https://www.revue-natives.com/editions/natives-n04/ "
In: https://universvoyage.com/en/voodoo-mami-wata-mother-of-the-waters-queen-of-the-seas-and-oceans/ Visite o site e veja as fotos.
Mami Wata dos iorubás em museu da Alemanha |
quarta-feira, 24 de julho de 2024
Nomes e Formas de Nascimento.
A forma pela qual uma criança vem ao mundo é muito importante para se saber sobre seu futuro, se veio para desempenhar uma função religiosa, sobre a sua ligação com voduns, com antepassados, etc.
Essas crianças recebem denominações específicas para meninos e para meninas de acordo com seu nascimento.
Quando um bebê vem ao mundo pelos pés ou em uma posição de culatra ele é denominado agossu, se for uma menina é agossi;
Quando a gestante pari fazendo um percurso, a caminho de algum lugar se torna a mãe de um alihonu;
Quando a criança nasce com o cordão umbilical circundando o pescoço e a mão denomina-se bossu ou bojrenu, bossá se for menina;
Quando o cordão umbilical não circunda o pescoço, somente a mão, temos um bokó, quando menina uma bokossá;
Quando a criança nasce ao meio-dia em ponto temos um huessu;
Quando há perca de líquido em excesso ou mesmo de sangue no parto denomina-se a criança de tossu, se for uma menina tossi;
Quando a criança nasce com a face voltada para o alto, para o céu, é chamada uensu, se for menina uensi;
Quando a criança nasce empelicada é um ussu, se for uma menina umé;
Quando nasce à noite, ou ainda escuro, é denominado zansu, a menina zansi. Tanto uensu/uensi, quanto zansu/zansi são as formas mais comuns de nascimento.
Se nasce no momento em que há um temporal no local com chuva e raios, é um zossu, se for menina é uma zossi.
terça-feira, 16 de julho de 2024
Gris-gris
Gris-gris ou comumente gri-gri, bogbé (bogbê) em língua fongbê, é um amuleto cuja função é formar uma interação com a divindade sobre um pedido específico, merecedor de uma atenção especial. São conhecidos no Brasil sob o nome de breve ou patuá, e sobretudo têm origem mandinga (malê) e fula, prova disso é que muitos de seus antigos gris-gris portavam trechos sagrados do corão em seu interior.
São confeccionados de acordo com o que se deseja apresentando diferentes formas e podem conter diferentes materiais em seu interior, bem como em seu preparo, assim como um tipo específico de madeira, de corda ou de tecido, cor(es) especifica(s), ervas específicas, cadeados, etc, e um método específico de preparo que incluem rezas, dia de confecção, fase lunar e consagração.
Um gri-gri possui recomendação própria de como deve ser guardado, evocado e utilizado, seja no bolso, na forma de um colar para a saúde, junto às pérolas de um vodum, pregado na roupa e de tantas outras formas. São preparados como proteção contra o mal olhado; contra doenças; para se conservar uma união; etc. Quando se perde um gri-gri nunca se procura por ele, quando se encontra recupera-se, quando não se encontra não se procura.
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Conteúdo de um gris-gris fula. |
segunda-feira, 15 de julho de 2024
Jaca
Artocarpus heterophyllus, Lam.
Fruto muito nutritivo oriundo da Índia e de Bangladesh, sua árvore é a Jaqueira, ou Pé-de-jaca, como é mais conhecida no Brasil.
Foi introduzida na África e nas Américas pelo branco, por isso é denominada pelos Adjás do Mono no Benim de Yovozin, ao passo que por esse nome os fons denominam a laranja, também introduzida pelo branco.
Os hulas denominam a jaca de Kubé (Cubê em português), ao passo que em Gana Kubé é a denominação do coco-da-bahia em língua twi.
A Jaca-dura, ou Jaca-pau, um tipo mais consistente de Jaca, é utilizada no Candomblé em substituição a um mogno africano para realização de preceitos de certas divindades como Azonsu e Ewa dos Modubis, e da yami progenitora de Oxóssi pelos nagôs, tornando-se um interdito comer de seus frutos aos filhos deste orixá.
Os frutos, as folhas e as raízes da Jaqueira possuem propriedades medicamentosas e o fruto é muito apreciado no Brasil, onde também possui aplicações na culinária.
segunda-feira, 24 de junho de 2024
Gbé Lètè
I I
I I
II I
I I
"À cada um segundo o seu destino."
- Gbé Atè -
sexta-feira, 14 de junho de 2024
O Rosto do Sagrado.
Silicato de Alumínio Hidratado, o Caolim, a Argila Branca, é uma substância manipulada pelo homem há milênios. Pode ser encontrado sobre todo o globo terrestre, puro ou contendo outras substâncias que conferem cor ao barro.
É comumente denominado "barro de porcelana" devido ser empregado no preparo de artefatos deste material.
Também se utiliza Caolim na fabricação de contas; no preparo de tintas; utensílios diversos; no combate a insetos e outras pragas da lavoura, tão importante para subsistência; e na religiosidade africana, onde o continente é vasto desta substância telúrica.
É muito conhecido nas práticas da religião Umbanda no Brasil e dos cultos afro-brasileiros, bem como por toda diáspora africana. Costuma ser utilizado no Brasil na forma de Pemba ou Efum, em pó, compactado ou mesmo em pasta, conforme sua aplicação.
É utilizado para evidenciar o sagrado, observado que esta substância simboliza o Ser Supremo, criador de todas as coisas, Zambi, Olorum, Mawu, etc. O caulim representa a divindade superior que reúne todas as etnias, todas as crenças endógenas.
quinta-feira, 6 de junho de 2024
Lissá
Ele é a divindade do sol, da luz, da sabedoria representada pelo camaleão, da consciência, do branco, símbolo da pureza, e detesta o vermelho, símbolo da guerra, inclusive proíbe que seus iniciados façam uso de tudo que possui esta cor.
Ele forma um par criador com Mawu denominado Mawu-Lissá, e recebe sete nomes que manifestam origens e atributos no Daomé, todos com características próprias, onde Segbolissá adorado como Dadá Segbo, é o maior deles, o Rei Segbo, porquê encarna o princípio do par criador.
Suas oferendas são sempre claras, limpas e frescas, pois alimentos feitos de véspera, não são de seu agrado. É de costume que lhe sirvam um refrigerante ou um suco claro, jamais bebidas alcoólicas, azeite de dendê ou produtos do dendezeiro. Recebe do goro (obi gbanjá), da canjica branca, do acassá, da maçã verde, da lima-da-pérsia, do alface, do coco, da água de coco, etc, como oferendas.
Além do vermelho e de tudo que apresente esta cor, Lissá detesta a carne de porco, a banha e os derivados de porco, recebendo do limo-da-costa (manteiga de karité) quando se faz necessário.
Tanto Gun (Ogum) quanto Lissá são voduns que todo hunkpame possui, além dos vodunsis dos mesmos.Você sabe qual é o nome de Lissá do seu hunkpame Jeje Daomé?
Para maiores informações sobre Lissá, contate: ifabimi@yahoo.com
domingo, 2 de junho de 2024
Tula Gbogli - Viver com Moderação.
I I
I II
II I
I I
Se és iniciado, então reinicia-te.
. -Tula Gbogli-
O fadu orienta aos iniciados que se reiniciem, ou seja: sejam moderados em tudo na vida. Moderados no comer, no beber, no vestir, no falar, nos gastos, etc, para que vivam com saúde e tranquilidade.
domingo, 26 de maio de 2024
Embostamento de Terreiro.
Os antigos terreiros de matriz Jeje e alguns da atualidade que preservam suas características tinham o chão confeccionado em barro batido (terra batida), não se utilizava cimento ou piso algum para forrar o chão, era habitualmente varrido e recoberto com uma mistura de esterco de vaca com água, e em algumas vezes com folhas de Akinkontin (cajaeiro) ou Amangatin (mangueira), quando estas não o forrava adornando para uma festividade qualquer da casa.
Este hábito era conhecido na Bahia por Embostamento do terreiro, tendo como finalidade firmar o barro impedindo a formação de poeira e também de rachaduras, função das fibras envolvidas no processo.
Está prática é originária dos guns que assim procediam em suas habitações, e ao longo do tempo foi sendo repassada para povos vizinhos. Em alguns vilarejos no Benim, principalmente nas áreas rurais, como nas áreas rurais de Porto Novo e de Aladá esse costume pode ser observado.
Para os antigos terreiros de Jeje da Bahia é um legado da cultura do povo Gun.
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Foto de Wikipédia |
terça-feira, 14 de maio de 2024
As 41 leis do Fundador do Daomé.
"Artigo 1º:
O meu reino limita-se a Zou (ao Norte), a Hanlan (afluente do Ouémé, a Leste), a Kokolofetato (atrás de Bohicon, a Sul) e a Danmonlonka (atrás de Oumbègamè).
Artigo 2º:
A terra de guédévi agora pertence inteiramente a mim, pois foi eu que a libertei do jugo de Pahé. Mas, sendo todo o solo daomeano de minha propriedade, eu não tenho direito de dispor dele como quiser. A extensão de terreno necessária à habitação dos membros de uma família constitui o que agora quero designar com o nome: "to" (argamassa). A cada família assim alojada, concedo um terreno à volta da sua casa para lhes permitir cultivar os alimentos de que necessitam para a sua alimentação. Esta propriedade leva o nome de apazoun.Todos os apazoun constituem uma aldeia ou dohoun à frente da qual eu, agora colocarei um líder.
Assim, as subdivisões territoriais do meu reino são:
1)- Dohoun (Aldeias)
2)- Apazoun (quartos)
3)- Tata (Concessões de habitação).
Artigo 3º:
Nenhum súdito do meu reino deve recusar hospitalidade a estrangeiros. Após três anos de permanência entre nós, qualquer estrangeiro será admitido para gozar do status de guédévi. A partir de então, terá o Direito de Propriedade Fundiária nas formas previstas no artigo 2º deste Regulamento. O Domínio assim atribuído terá o nome de Houélodjou.
Artigo 4⁰:
Meus descendentes têm direito à mesma concessão que os demais súditos do reino. Se um Príncipe desejar fazer uso do seu título para reivindicar ou ocupar um domínio maior do que o concedido ao guédévi comum, ordeno que ele seja desapropriado de todos os bens do estado.
Artigo 5º:
Todos devem poder instalar-se onde quiserem, desde que não queiram ocupar o lugar do primeiro ocupante. Neste último caso, o usurpador deve ser lançado na prisão.
Artigo 6º:
Qualquer parcela de terreno levará o nome do seu primeiro ocupante. Se, com a permissão deste primeiro proprietário, uma pessoa desenvolver um terreno, essa pessoa deverá um centésimo dos produtos do campo ao proprietário do terreno. A renda assim paga, nomeadamente nos palmerais e nos picantes, leva o nome de koussou.
Artigo 7º:
Todo chefe tata tem a obrigação de criar um palmeiral ou derrubar a mata ao redor de sua casa para obter um recurso complementar às suas culturas alimentares.Todos os anos, os chefes da tata pagarão royalties em azeite e frutos picantes ao chefe do distrito ou aldeia, conforme o caso. Por sua vez, o tohóssou ficará com uma parte do Koussou recebido pela necessidade da casa real.
Artigo 8º:
Todo fazendeiro adquire a propriedade do terreno onde trabalha assim que suas Plantações começam a produzir. Portanto, ninguém tem o direito de despejar este plantador por qualquer motivo.
Artigo 9º:
Cada Chefe de Aldeia nomeia um coveiro comum para toda a sua administração. Este coveiro será responsabilizado por qualquer desenterramento de cadáver que possa ocorrer e por qualquer outra falta de respeito para com os restos mortais.Pelos seus honorários, o coveiro receberá, após cada serviço, 123 búzios, um frango, um pote de cerveja, milho ou milheto. Ele também receberá, do Chefe da Aldeia, uma tanga, chamada adjoko.
Artigo 10:
À frente de cada tata deve haver um líder, um gestor. Todas as tatas habitadas por descendentes de um mesmo antepassado devem ser colocadas sob as ordens de um Chefe de Comunidade Familiar escolhido em princípio entre os membros mais antigos da comunidade.Os Chefes Comunitários da mesma localidade estarão, por sua vez, subordinados a um tohóssou.
Artigo 11:
Aïnon Pahé vendeu um tronco para o enterro de cada morto. Eu aboli esse tráfego vergonhoso. Empresto um tronco para cada sepultura.
Artigo 12:
Qualquer indivíduo que tentar abrir uma sepultura fechada será condenado à morte.
Artigo 13:
Qualquer coveiro que tentar retirar qualquer amostra de um cadáver será condenado à morte.
Artigo 14:
Para que a posteridade saiba que fui eu quem introduziu o uso do sudário no país, qualquer primeira tanga dada para cobrir um falecido deverá ser entregue em meu nome.
Artigo 15:
As Funções de Comando são hereditárias em todos os níveis da Hierarquia que estabeleci. É o Filho Mais Velho que, em princípio, deve suceder ao Pai. Se, por motivos válidos, ele não parecer capaz de exercer a autoridade que lhe retornará com a morte de seu pai, nomeie outro de seus filhos, mais digno.
Artigo 16:
É necessário providenciar minha substituição no terceiro dia de minha morte, para que seja meu filho que me suceda no trono, que preside meu funeral. Se a entronização do novo rei não for acelerada desta forma, os príncipes, preocupados com lutas sucessivas, podem facilmente esquecer os restos mortais do seu pai que se desintegrariam antes de serem sepultados.Que todos os soberanos da minha linhagem sejam substituídos nas mesmas condições.
Artigo 17:
Todo Chefe deve, durante sua vida, dar a conhecer o seu Herdeiro Presuntivo. Que a sua escolha seja, de preferência, o seu filho mais sábio e carinhoso.
Artigo 18:
Qualquer conspirador para a derrubada de um rei da minha dinastia merece a Pena de Morte. Além disso, todos os seus bens serão confiscados em nome do rei.
Artigo 19:
A partir da ascensão de um príncipe, seus bens privados (esposas, filhos, escravos, servos, fortunas de todos os tipos) são fundidos com os tesouros e propriedades da Coroa de Hwégbaja.
Artigo 20:
Minha propriedade é indivisível. Ninguém tem o direito de reivindicar compartilhamento. Inclusive, meus sucessores serão sempre escolhidos dentre meus descendentes diretos.
Artigo 21:
Até agora, apenas os homens com direito a casar podiam casar pela capacidade de pagar um dote. Ordeno que a partir de agora aqueles que não têm condições de pagar um dote tenham a opção de se unir às jovens que concordarem em viver com eles.
Artigo 22:
Eu até permito o casamento por troca de mulheres e a amizade gratuita. Mas quem não quiser utilizar nenhuma das facilidades que coloco à sua disposição e preferir cometer Adultério deve ser EXECUTADO SEM RITMO.
Artigo 23:
Qualquer homem que tenha atingido a idade para portar armas deve alistar-se nas minhas tropas. Qualquer pessoa que, portanto, fuja às obrigações militares merece a pena capital.A guerra é um negócio, e cada Reino que não se exercita cava a sua própria sepultura.
Artigo 24:
Qualquer pessoa que divulgue um segredo, um plano de guerra, deve ser condenado à morte.
Artigo 25:
Qualquer danxomeano que voluntariamente atear fogo em uma residência deve ser vendido a comerciantes de escravos.
Artigo 26:
Aquele que se dirigir a outrem com a intenção de cometer assassinato, seja qual for o motivo da sua determinação, deverá ser entregue ao executor.
Artigo 27:
Quem ajuda uma mulher a se livrar da gravidez também merece a morte, porque diminui a população do meu reino.
Artigo 28.º:
Os cursos de água são propriedade da comunidade. Qualquer pessoa que se aproprie de um com a intenção de traficá-lo deve ser condenado à morte.
Artigo 29:
Qualquer pessoa que tentar impedir outra pessoa de ir ao mercado para se abastecer deve ser executada como criminal.
Artigo 30:
Instituo um Imposto sobre Transações sobre todos os produtos vendidos no mercado Adjahi que instalei ao custo de mil penalidades dentro dos limites do meu capital.
Artigo 31:
Qualquer Litígio que surja no mercado deverá ser resolvido por Azonmadagoué (que reside em Adjamè) e Djagba (que reside em Didonou).
Artigo 32:
Somente o rei pode pronunciar o confisco de bens. Qualquer infrator desta disposição será condenado à morte. Sou também Juiz Supremo de toda a extensão do meu território. Reservo-me o direito de nomear todos os empregos e cargos no reino. Delego algumas das minhas atribuições a colaboradores de minha escolha: Jolo garantirá a proteção de todas as aves dos Guédévi. Adibada vai regulamentar a exploração e Caça Florestal. Mitoun garantirá a proteção da caça peluda.Tavissa presidirá às cerimónias na Corte, na casa dos príncipes e no Culto da Divindade Agassou. Agbanlin e Ton liderarão o grupo de ferreiros. Djodogbé e Hinlin farão avançar a agricultura no país. Gbolo e Zinhoin irão exorcizar lugares assombrados, pessoas atormentadas por espíritos malignos e afugentar maldições que possam pesar sobre o reino. Koya fornecerá as colunas guerreiras durante a marcha contra o nosso inimigo. Hingan é meu vice-rei: como tal, ele garantirá a segurança interna do reino.
Artigo 33:
A espécie florestal denominada Iroko deve ser considerada Madeira Sagrada. Foi muitas vezes nas raízes que os Guédévi esconderam os crânios dos seus mortos, quando foram forçados a recuar para outro lugar no caso de uma invasão. Não foi fácil para eles reconhecer o local exato destas preciosas relíquias. Devemos, portanto, preservar o culto que os nossos Anciãos dedicaram a estas árvores. Não saberemos qual matar sem profanar um crânio nosso.
Artigo 34:
Qualquer indivíduo que se recuse a obedecer ao seu líder deverá ser chicoteado.
Artigo 35:
Houinnon é o chefe dos adivinhos do reino. Ele é responsável pela interpretação: vontade dos espíritos que zelam por nós. Mas se ele fizer revelações ou prescrições que possam causar problemas no país, ele será condenado à morte.
Artigo 36:
Quem atirar uma planta ou mistura reconhecidamente venenosa num riacho, córrego, ou poço, atenta contra a vida humana e deverá ser condenado como Grande Criminal.
Artigo 37:
Qualquer pessoa que prestar falso testemunho em tribunal ou mentir será justamente registrado nas tropas de choque.
Artigo 38:
Quem cometer suicídio (por enforcamento, afogamento ou incêndio) deverá ser considerado Grande Criminal. A sua Família e as Pessoas que o abordam devem ser seriamente interrogadas, para se apurar o crime que lhe inspirou essa ação.
Artigo 39:
Todos tendo se beneficiado da partilha da herança de meu pai, exijo que todos os bens de meus súditos falecidos venham a ser trazidos para mim. Ficarei com a minha parte antes que os beneficiários compartilhem o resto.
Artigo 40:
Qualquer soberano vizinho que solicite o apoio de outro Estado com vista a marchar contra Agbomè-Danxomè deverá ser executado. Seu país será então saqueado com fogo e sangue.
Artigo 41:
Ninguém tem o direito de se vingar por si mesmo, nem de confiscar o menor objeto pertencente a outrem sob qualquer pretexto. Em todas as circunstâncias, aqueles que acreditam ter sido injustiçados têm a obrigação de confiar no meu zelo para fazer justiça."
As 41 leis de Aho Houegbadjá, fundador do Reino do Daomé correspondem ao
sagrado número de divindades veneradas em Adjá- Tadô e por seus
descendentes, 41 é um número sagrado, assim como 41 são as colinas
sagradas, por tal razão este código era conhecido como Kandé Lissa (41).
Este magnífico trabalho foi elaborado pelo digníssimo mestre Prof. Dr. Jérôme C. ALLADAYE, diretor do Departamento de História e Arqueologia da Universidade Abomey-Calavi, Benim, com a participação de outros mestres colaboradores.
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Muito do Palácio Real de Abomey - Wikipédia |
sexta-feira, 26 de abril de 2024
A Mesa de um Bori.
Quando são oferecidos alimentos dos orixás, dos voduns em uma mesa de bori, seja no Candomblé, seja no Ifá, trata-se de uma representação da reverência que os orixás, os voduns, prestam à Sé, ou Ori em iorubá. Sé é o princípio da vida universal que anima Gbé, a vida de cada ser vivente, como a do homem, gbetó, portador da vida.
Conforme nos conta uma passagem de um determinado Fadu (odu do Ifá) quando Sé cumpria com seus rituais quando consultava Ifá obtinha favorecimentos, mas essas regalias duravam pouco tempo. Continuava passando períodos difíceis com sua família. Foi então que resolveu procurar os orixás, os voduns e no meio do caminho decidiu parar para descansar um pouco à atinsá (aos pés de uma árvore) que lhe proporcionava boa sombra. Eis que Ogun vendo que ele estava ali descansando perguntou-lhe se estava viajando, para onde iria, era empenhoso em acompanhá-lo para que não se perdesse. E Sé explicou o que pretendia fazer: pedir ajuda às divindades. Ogum admirado retrucou: Mas tú não sabes que és o mais importante de nós? Que todos nós devemos lhe prestar reverências? Foi então que Sé conscientizou-se de sua importância, passou a querer e receber o que queria pela sua vontade de querer e pela sua importância.
Para complementar sua leitura acesse:
https://papoinformalpapoinformal.blogspot.com/2008/09/filosofia-do-vodun.html
quinta-feira, 18 de abril de 2024
O Fundador do Reino de Daomé.
Ahô Huegbadjá, tradicionalmente o terceiro rei de Abomé,
é considerado o fundador do reino de Daomé (atual Benim).
Era um homem de pele mais clara, de alta estatura e forte,
Ahô chegou ao zinkpô (trono) sob o nome de Huegbadjá:
"O peixe que escapou da armadilha, foge de armadilha”.
Ele reinou de 1645 à 1685 sucedendo a seu tio, Dakodonu.
A casa do Terreiro do Pinho em Najé, Maragogipe, Bahia, que
reunia práticas Vodum locais, foi fundada na época de seu
reinado, fazendo referência à constituição do Reino do Daomé
conforme seu nome: Rumpame Daomé (Convento Daomé).
Huegbadjá instituiu ministros e promulgou leis, desenvolveu
a administração, a religião Vodum e seu xwetanu (calendário
festivo anual) e a política que caracterizando um reino
propriamente dito, sendo tido, então, como o fundador do Reino
do Daomé e reconhecido na diáspora.
Casado com Nayê Adonom (mais conhecida como Nayadone
no Brasil), teve dentre seus filhos Huessu Akabá e Tassin
Hangbé.
Huegbadjá fundou a cidade de Abomé construindo ali o seu
palácio (chamado Palácio de Abomé que significa "no meio da
muralha, Agbo vem do adjagbê Agbogbo - a saudação ahogbogbo
yi significa muralha do rei), próximo dos Guedevis, que
eram descendentes iorubás, e a alguns quilômetros a noroeste do
Bohicon. Ele instituiu e incorporou pequenas chefias da região
que representavam a sua administração.
Seu símbolo é o peixe e a armadilha, em razão de seu nome.